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Agência Correio
Publicado em 25 de agosto de 2025 às 10:11
Imagine descer milhares de metros sob a superfície e encontrar uma vasta comunidade de polvos reunidos em silêncio, cada fêmea cuidando de seus ovos em fendas aquecidas por atividade vulcânica. Essa é a cena documentada pelos cientistas no chamado “jardim de polvos”, uma das maiores concentrações já observadas dessa espécie. >
Polvos
A descoberta mostra como a vida encontra meios de prosperar até nos ambientes mais extremos. Com o auxílio de tecnologia avançada, os pesquisadores registraram o comportamento coletivo dos polvos e revelaram um ciclo de vida intricado que depende diretamente das condições geológicas do fundo marinho.>
Cada fêmea deposita dezenas de ovos e permanece junto deles até a eclosão. O segredo para o sucesso dessa estratégia está na água aquecida que escapa das fraturas do solo, com temperaturas entre 5 °C e 10 °C, contrastando com a água fria ao redor. Essa diferença cria um refúgio térmico fundamental.>
Esse ambiente reduz os riscos de mortalidade dos ovos, permitindo que os filhotes se desenvolvam de forma mais rápida e segura. O calor, portanto, funciona como um aliado invisível nesse processo.>
Enquanto em outras regiões os ovos levariam mais de dez anos para se desenvolver, no “jardim” a incubação acontece em menos de dois anos. Essa economia de tempo dá aos polvos uma vantagem significativa em termos de reprodução, garantindo que mais indivíduos alcancem a fase adulta.>
Esse ganho mostra como pequenas mudanças ambientais podem resultar em estratégias evolutivas altamente eficazes, capazes de transformar um ambiente hostil em um verdadeiro berçário natural.>
Após cumprir sua missão reprodutiva, as fêmeas morrem, mas sua presença continua sendo essencial para o equilíbrio do ambiente. Seus corpos alimentam uma variedade de espécies, transformando o local em um centro de energia e nutrição. Assim, a morte das fêmeas alimenta novas formas de vida.>
Esse processo cria um ecossistema vibrante, em contraste direto com o vazio biológico que caracteriza grande parte do fundo oceânico. A reprodução dos polvos, portanto, sustenta uma rede ecológica ampla.>
Apesar das observações detalhadas, muitas questões permanecem sem resposta. Ainda não está claro como os polvos sabem retornar ao mesmo local para se reproduzir, e há indícios de que pistas químicas possam guiar esse comportamento.>
A importância ecológica do “jardim” reforça a necessidade de protegê-lo, principalmente diante das ameaças que a mineração e a pesca em grande escala podem representar. Conservar esses ambientes significa preservar não apenas uma espécie, mas também toda a biodiversidade que dela depende.>