Da fuga à captura pela Interpol, a saga do herdeiro acusado de crimes em série contra mulheres

Denunciado por agressões, estupro e cárcere privado, Thiago Brennand foi achado pela PF em Abu Dhabi

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  • Jairo Costa Jr.

Publicado em 15 de outubro de 2022 às 05:00

Reprodução/Instagram Como todo herdeiro de família rica e trajetória de bad boy, Thiago Brennand passou a vida convencido de que era alguém acima da lei. Mesmo com a exposição da longa lista de crimes cometidos por ele, partiu em 3 de setembro para os Emirados Árabes  Unidos convicto de que, no destino turístico preferido dos novos milionários, estava fora do alcance da Justiça brasileira. A certeza se dissipou na noite da última quinta-feira (13), quando foi capturado pela Interpol em Abu Dhabi, durante ação deflagrada com apoio da Polícia Federal (PF).

A prisão de Brennand, que se tornou conhecido nacionalmente por agredir a modelo Helena Gomes em uma academia de São Paulo, só foi possível porque, a pedido da Justiça paulista, ele havia sido incluído pela Interpol na lista de foragidos e criminoso procurados no mundo inteiro, a chamada difusão vermelha. Inicialmente, a PF disse que a captura foi realizada em Dubai.  Logo depois, corrigiu a informação e afirmou que o alvo foi localizado em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.

De acordo com a PF, Brennand permaneceria em um centro de detenção provisória em Abu Dhabi, aguardando o processo de extradição, mas foi solto por fiança (leia mais abaixo). No retorno, o herdeiro de uma das famílias mais tradicionais de Recife terá que responder às acusações que pesam sobre ele, a maioria delas relativa a agressões e crimes sexuais. 

Dono de uma fortuna estimada em RS 200 milhões, Brennand jamais sofreu em 42 anos de vida qualquer cerco da polícia pelos crimes dos quais é acusado. Até então, agia como se fosse intocável. A maré começou a virar na noite de 3 de agosto, quando as câmeras de segurança da BodyTech, academia de luxo da capital paulista situada no Shopping Iguatemi, flagraram os ataques desferidos por ele contra Helena Gomes. 

As cenas exibidas 25 dias depois pelo Fantástico, acompanhadas pelo testemunho da modelo, abriram as portas para  uma enxurrada de denúncias sobre o passado recente do empresário. No domingo seguinte, o programa da TV Globo trouxe relatos de outras 15 mulheres supostamente vitimadas por Brennand. Todas elas narraram episódios de agressões físicas, verbais e sexuais, estupro, cárcere privado, torturas e ameaças.

Até então, Brennand negava as agressões contra a modelo. Na semana anterior, havia dito ao Fantástico:  “O vídeo com a Helena, que é uma coisa onde você vê um camarada como eu fazendo uso comedido da força. Não há um tapa, não há uma lesão. Colocaram a foto de um chumaço de cabelo, uma pantomima. É evidente que o empurrão gerou nada. O que houve ali foi uma contenção e uma resposta certeira. E faria absolutamente tudo de novo”.

Flagra desnuda rastro de crimes A nova leva de crimes imputados ao empresário explicitou o currículo sombrio do herdeiro milionário e bom vivant, lutador de jiu jitsu e colecionador de armas, que fazia questão de expor a vida regada a luxo. Vítimas que denunciaram Brennand narraram momentos de terror vividos por elas na mansão do empresário em Porto Feliz, interior de São Paulo, onde Brennand mantinha encontros frequentes com  mulheres que conhecia através das redes sociais e sites de relacionamento.

No mesmo domingo em que o Fantástico exibiu a segunda reportagem sobre ele, o empresário partiu para os Emirados Árabes Unidos. Seis dia depois, a Justiça desarquivou um inquérito em que ele é acusado de sequestrar, agredir e estuprar uma modelo, que teria sido mantida ainda em cárcere privado e forçada a tatuar as três primeiras iniciais  do nome de Brennand.

Em 9 de setembro, a Justiça deu prazo de dez dias para que o empresário retornasse ao Brasil e entregasse o passaporte às autoridades. Mas a ordem foi desobedecida.  Diante da recusa, a prisão preventiva de Brennand foi decretada. Ainda assim, ele não aparentava preocupação com os problemas que enfrenta.

Postou vídeos e enviou e-mails em tom de ameaça velada àqueles que considera responsáveis pelas perdas que diz ter sofrido, incluindo o Ministério Público de São Paulo, foi às redes pedir votos para o presidente Jair Bolsonaro (PL).  Nada parecia abalar a certeza de impunidade do bad boy. Até que a Interpol apareceu.

Solto após fiança, acusado fica um dia na prisão Apesar de encarar a prisão pela primeira vez na vida, a experiência de Thiago Brennand atrás das grades durou apenas um dia. Na noite da sexta-feira, o empresário foi soltou após pagar fiança e deixou o centro de detenção provisória de Abu Dhabi para onde foi levado, um dia antes, por agentes da Interpol. 

No entanto, ele teve de informar às autoridades locais endereço fixo e foi proibido de se ausentar dos Emirados Árabes sem comunicar a Justiça. Segundo informações da TV Globo, ele se comprometeu a comparecer às audiências sempre que solicitado e vai responder ao processo de extradição em liberdade.

Pais de Brennand relatam ameaças e pedem pra deserdá-lo  Pai de Thiago Brennand, o empresário pernambucano José Aécio Fernandes Vieira, de 82 anos, decidiu atualizar seu testamento e registrar, em cartório, o receio de ser encontrado morto de causas não naturais, vítima de uma morte suspeita. No documento, de novembro de 2019, José Aécio informa que o autor dos e-mails com diversas ameaças e motivo de preocupação por parte da família era Thiago, um de seus cinco filhos.

Os temores de José Aécio Vieira, segundo a Folha de S.Paulo, estão em um testamento público, registrado no 8º Tabelionato de Notas de Recife, no qual também manifesta a intenção de deserdar o filho. O documento está em poder do Ministério Público de São Paulo na investigação dos supostos crimes sexuais.

A mãe de Brennand, Joana Fernandes Vieira, registrou documento semelhante, em que também manifesta publicamente o desejo de deserdar o filho. Entre os motivos, “absoluta inexistência de qualquer afinidade” entre eles e as agressões “de forma reiterada, explícita e pública”.