Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Laura Fernades
Publicado em 11 de janeiro de 2020 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Com 100 anos, o indiano Fauja Singh correu 42 km e se tornou o homem mais velho do mundo a completar uma maratona. Além de bater o recorde mundial, em 2011, o atleta que hoje tem 108 anos quebrou todos os tabus ao provar que nunca é tarde para se exercitar: começou com 80 anos e fez sua primeira prova com 89. Além de Fauja, cada vez mais pessoas têm buscado esportes de alto rendimento depois dos 60 anos e questionado mitos em torno do exercício físico na chamada terceira idade.>
E nem precisa ir longe para encontrar exemplos inspiradores: cada vez mais atletas buscam adrenalina, endorfina e outros hormônios ligados à atividade física, na Bahia. É o caso de Abílio Maia, 74 anos, engenheiro agrônomo aposentado que se enche de orgulho ao contar que corre 6 km por dia, faz musculação e luta boxe desde os 71. “É um esporte puxado, o pessoal fica admirado porque acha que não é possível”, conta Abílio, sem esconder a satisfação de servir de exemplo para os colegas, “todos novinhos”.>
“Faço boxe por prazer, sempre foi um sonho de criança”, conta ele, que só investiu nas aulas após a morte do pai, que encarava o boxe como incentivo à violência. Além de reforçar que se dedica à prática só por causa do bem-estar, o atleta lembra dos efeitos positivos no corpo. “Posso garantir que fico muito feliz após os exercícios, mesmo que me sinta um pouco quebrado”, conta Abílio.>
Boa praça e cheio de apelidos como Marlon Brando e Comendador, o atleta cita ainda a disposição extra que o exercício traz. Há quatro anos, por exemplo, dançou twist em uma festa de formatura de sua turma e contagiou todo mundo. “A gente rejuvenesce com exercício, com amor e com a família”, sorri. Abílio Maia, 74 anos, faz boxe desde os 71: “Sonho de criança” (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Disciplina Treinador de Abílio na academia Bodytech, Jailson Santos, 48, conta que o aluno “tem um desempenho acima da média para um homem com sua idade”. Abílio revela o segredo: dedicação, disciplina e boa alimentação. O suco verde não falta no café da manhã que é reforçado e inclui abacate, mamão, pão integral com queijo, beiju e ovos. “Não tomo remédio nenhum”, conta, orgulhoso.>
Responsável por treinar atletas de alto rendimento, seu professor destaca que apesar do boxe ser intenso, há adaptação de treino para cada idade e nível técnico. Mas antes de começar, é importante que o aluno faça uma série de exames médicos “que atestem sua condição física para a prática esportiva”, explica Jailson, cada vez mais procurado por pessoas com mais de 60 anos.>
Então, todo mundo pode fazer exercício físico depois dos 60 anos? Sim, mas depende da avaliação médica e de uma lista de questões que precisam de atenção. Quem faz esse alerta é o geriatra Leonardo Oliva, 37, médico do Hospital Aliança e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Regional Bahia.>
A avaliação, explica o profissional, deve vir acompanhada de uma atenção especial com a nutrição e a hidratação, já que “à medida que a gente envelhece, a quantidade de água diminui no corpo”. Da mesma forma, deve haver um cuidado com o equilíbrio do corpo e as articulações, pois a tendência é haver desgaste maior depois dos 60 anos. >
“O grande mito é que a idade vai ser definidora e que o corpo não vai ser capaz de aguentar aquilo. Isso, na verdade, vai depender das escolhas que você fez ao longo da vida”, explica Oliva.“Hoje, a gente consegue chegar a uma idade avançada com uma capacidade física muito boa. A pessoa que chega aos 60 não é mais um ‘velhinho’, mas um adulto jovem”, reforça. Analice Andrade, 63, aprendeu a nadar com 48 anos e já fez a travessia Mar Grande-Salvador três vezes (Foto: Acervo pessoal) Vício Esse é o caso da secretária Analice Andrade, 63, que já fez a travessia Mar Grande-Salvador três vezes, uma delas com 60 anos, e chegou a ser campeã em sua categoria. Acontece que Analice aprendeu a nadar com 48 anos. De lá para cá, já perdeu as contas de quantas medalhas e troféus ganhou, apesar de estarem todos reunidos em cristaleiras que decoram sua casa.>
“Gosto de colocar o rosto dentro da água, nadar e terminar a prova sorrindo”, conta Analice. “A gente entra em adrenalina, o corpo entra em parafuso. Depois que bota a cara na água, você esquece de todos os problemas. Meu Rivotril é a minha natação”, brinca.>
O arquiteto Paulino Fukunaga, 76, é outro exemplo de ‘adulto jovem’. Fez a Meia Maratona Farol a Farol (21 km), em 2018, e está se preparando para correr 25 km esse ano, em Aracaju. “Quando não corro, sinto falta da endorfina. Você cria um vício”, confessa, sobre o hormônio do bem-estar. “A vida é um conjunto de atividades, né? Adrenalina do esporte radical, adrenalina familiar, da relação de trabalho, entre amigos. É isso que é a vida”, sorri.>
[[galeria]]>
Mitos e verdades sobre o exercício físico depois dos 60 anos>
Existe uma idade limite Mito. Para praticar uma atividade física não existe uma idade limite. O desempenho da pessoa vai depender das escolhas que ela fez ao longo da vida e de como envelheceu. >
Nunca é tarde para começar Verdade. O indiano Fauja Singh começou a correr com 89 anos e aos 100 anos completou 42 km. Hoje ele tem 108 anos.>
Doenças impedem a atividade Mito. Não é o fato de ter doenças que impede a prática da atividade física. Doenças como diabetes e hipertensão não servem de contraindicação: basta você controlá-las com acompanhamento médico.>
Atleta veterano dispensa atenção Mito. Os atletas que envelhecem atletas também precisam de atenção especial. Sendo praticante ou não, é necessário ter um olhar diferenciado sobre a saúde na terceira idade.>
Não é preciso fazer reposição hormonal Verdade. Existe uma queda fisiológica dos hormônios à medida que a pessoa envelhece e não é necessário usar doses acima do que o corpo produz. A reposição hormonal aumenta o risco de doenças cardiovasculares, o risco de trombose, de AVC e de diversos tipos de câncer.>