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Donaldson Gomes
Publicado em 28 de agosto de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Há quem diga que foi Klaus Peter, com o seu sonho de tornar a Praia do Forte um polo de ecoturismo, o precursor do processo de expansão do Litoral Norte. A vila badalada é, provavelmente, o principal cartão de visitas entre os destinos nos nove municípios que integram a Costa dos Coqueiros, mas a verdade é que o movimento de expansão de domínio da área litorânea em direção à linha do Equador se dá praticamente desde a fundação da Cidade da Bahia.>
Nesse movimento de crescimento contínuo que, guardadas as devidas proporções, lembra o próprio universo, sempre em expansão, novos points despontam, locais de moradia e formatos inovadores de negócios ampliam o horizonte de quem vive em Salvador, ou visita a Bahia, para cada vez mais perto de Sergipe. Mas não só isso. Além de caminhar, cada vez mais, para o norte da Costa dos Coqueiros, o desenvolvimento também está atravessando para o outro lado da BA-099.>
Confira também o episódio especial do podcast O Que a Bahia Quer Saber! Você já conhece Subaúma, Baixio e os outros novos destinos 'de sonho' da região??>
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Locais como Baixio, em Esplanada, Subaúma, em Entre Rios, Imbassaí, em Mata de São João, ou mesmo a Reserva Sapiranga, próxima à Praia do Forte, mas do outro lado da Linha Verde, têm despertado o interesse de investidores do turismo e imobiliário.>
Apenas em investimentos turísticos, estão previstos US$ 1,2 bilhão nos próximos anos, de acordo com levantamento realizado pela Secretaria do Turismo da Bahia (Setur). Oito novos empreendimentos vão ampliar em 5,4 mil o número de leitos disponíveis.>
A descoberta de uma dessas novas fronteiras fez com que a funcionária pública Gilmaria Oliveira dos Santos, 45 anos, passasse a se sentir tão bem na pouco conhecida praia de Subaúma, em Entre Rios, quanto como em sua própria casa. “Nós costumamos ir lá pelo menos uma vez, a cada dois meses”, exemplifica, falando do local a 132 quilômetros de Salvador. Foto: Subaúba - Marina Silva - CORRREIO Há 12 anos, graças a uma oferta de estadia no Treebies, em um site de compras coletivas, ela conheceu o paraíso. Nesse período, ela viu o empreendimento passar de uma para cinco piscinas, sem perder o que ela considera ser a essência dele: “diversão para quem quer diversão e tranquilidade para quem quer tranquilidade”.>
Potencial Presidente da Câmara de Turismo da Costa dos Coqueiros, Franklin Eusébio acredita que todo o impulso econômico que se verificou nos nove municípios baianos, graças à descoberta de suas belezas naturais e seus atrativos para quem busca diversão ou descanso, ainda é algo pequeno quando se leva em conta o potencial da região. “O que se vê, na atualidade, é que continua crescendo no sentido norte, com novos destinos, mas os locais badalados seguem em expansão também”.>
Franklin explica que locais como Praia do Forte, Sauipe, Imbassaí, Guarajuba e Itacimirim continuam a ser carros-chefes do turismo, mas contam com uma concorrência cada vez maior de localidades menos conhecidas, como a Praia da Siribinha e as Dunas de Mangue Seco. Ou Baixio, em Esplanada. Tem ainda uma redescoberta de Massarandupió, acrescenta.>
“Se levamos as pessoas para conhecer mais da região, o turista fica mais tempo hospedado”, acredita. Para ele, o ideal seria cada vez mais apresentar a Costa dos Coqueiros como um grande destino, inclusive para quem passou a morar lá depois da pandemia. “Quem está hospedado em Sauípe, por exemplo, está a meia hora da Praia do Forte, mas também está a meia hora de Massarandupió”, compara.>
Tânia Neres, supervisora do departamento de lazer da Salvatur Viagens, conta que o Litoral Norte representa, aproximadamente, 60% do potencial de vendas de pacotes da empresa. Segundo ela, a abertura de uma unidade do Fasano em Baixio é uma das grandes expectativas entre as agências de viagens baianas.>
“A gente percebe uma demanda muito grande para os hotéis de lá e em Imbassaí, principalmente. Mas tem muita gente buscando coisas diferentes”, conta. É o caso de Subaúma, com sua vila de pescadores, destaca. Mas também do B Blue Beachouses, em Itacimirim. “Com a pandemia, esse formato do B Blue Beachouses passou a ser muito demandado, porque estamos falando de casas maravilhosas, mas que oferecem o serviço de hotéis”, explica.>
A Setur destaca investimentos públicos realizados na região como parte da explicação para o processo de desenvolvimento evidenciado nos últimos anos. Em 2000 e 2001, o Prodetur Nordeste (Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste) viabilizou os sistemas de esgotamento sanitário em Sauipe e na Praia do Forte, nos anos 2000 e 2001, respectivamente. Na ocasião, foram investidos US$ 5,5 milhões que, na cotação atual, seriam equivalentes a quase R$ 30 milhões.>
Na segunda etapa do programa, entre os anos de 2008 e 2011, outros US$ 3,7 milhões (equivalentes a quase R$ 20 milhões) foram investidos em projetos de urbanização e drenagem pluvial de Imbassaí.>
“A Costa dos Coqueiros é a região turística do Brasil com os maiores investimentos em execução e planejados até 2033”, destaca o secretário estadual do Turismo, Mauricio Bacellar. >
Ele destaca que os recursos devem se reverter em benefícios à sociedade através da geração empregos e renda. Bacellar conta que, em virtude do volume de investimentos privados na região, o governo estuda propor uma nova rodada do Prodetur na Costa dos Coqueiros, assim que a rodada atual, na Baía de Todos os Santos, for concluída.>
Nascida e criada no distrito de Subaúma, em Entre Rios, Keila Alves dos Santos Cutalo, 39 anos, conta que a implantação do hotel Treebies por lá lhe deu a possibilidade de se desenvolver profissionalmente sem ter que deixar sua terra, como acontece com muita gente. Há nove anos no local, atualmente atuando como assistente de reservas, só lamenta que a região ainda seja pouco conhecida, mesmo pelos baianos. >
“Antes da chegada do hotel aqui, o caminho que se tinha era buscar empregos nos resorts em outros lugares. Hoje, é possível permanecer e viver bem”, garante. Ela mesma diz ter recusado propostas para trabalhar em outros empreendimentos na Linha Verde. “Estou próxima de meus filhos, de minha mãe e isso não tem preço”, garante.>
Mas não são apenas os funcionários do hotel que são impactados pelo turismo em Subaúma. Fábio Oliveira, diretor de operações do hotel que está completando 15 anos de atuação, destaca o compromisso dos investidores da Antuérpia, na Bélgica, em envolver a comunidade. O empreendimento, que atualmente conta com 86 unidades, está prestes a inaugurar uma segunda fase, com outras 96 no hotel, além de um loteamento residencial com espaço para 400 residências. De acordo com Fábio Oliveira, o ambiente propício para o descanso, com opções de lazer para famílias é o que encanta os hóspedes.>
Imóveis: Aumento no valor dos espaços chega a 66% A busca por um lugarzinho ao sol na Costa dos Coqueiros está promovendo valorização de até 66% no metro quadrado (m²) dos empreendimentos, de acordo com relato de investidores. Nos locais mais badalados, o valor dos espaços se iguala aos pagos nos endereços mais caros de Salvador, como a Graça e o Corredor da Vitória.>
Marcos Vieira Lima, diretor administrativo e financeiro da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário na Bahia (Ademi-Ba), conta que, antes da pandemia, estava há dois anos tentando vender um imóvel de uso particular em Itacimirim por R$ 400 mil. Com a chegada da crise sanitária, resolveu esperar, mas viu vizinhos de condomínio comercializarem unidades idênticas à dele por até R$ 750 mil.>
“Há uma valorização natural, amplificada pela pandemia. Itacimirim era uma área onde se encontravam lançamentos de pequenos construtores na faixa dos R$ 300 mil. Hoje tem unidades que custam R$ 2,5 milhões”, compara.>
Em termos de valorização, ele cita como exemplo o que aconteceu com um empreendimento lançado pela MVL, em 2016, o Tavaroz, com dois ou três quartos, entregue em 2018. As unidades maiores, que foram comercializadas por aproximadamente R$ 650 mil, hoje estão sendo vendidas por até R$ 1,4 milhão. >
O diretor-superintendente da OR Nordeste, Daniel Sampaio, acredita que o processo de expansão do Litoral Norte faz parte do movimento natural de crescimento de Salvador.>
Além das melhorias na infraestrutura das cidades, ele complementa lembrando que a pandemia escancarou a possibilidade de se trabalhar a partir de qualquer local com o mesmo desempenho que se alcança num escritório.>
A OR tem uma aposta de longo prazo em Sauípe, conta Sampaio, motivada pela busca por qualidade de vida na pandemia e os planos de investimentos da Aviva, proprietária da Costa do Sauipe.>
Planejamento deve unir empresas e os governos locais O desbravamento de uma nova fronteira de desenvolvimento traz uma série de impactos e desafios. Os principais movimentos de expansão urbana se deram por iniciativa privada, aponta o urbanista Ernesto Carvalho. Segundo ele, o ideal é que o planejamento e as ações de ordenamento se deem antes da expansão, mas esta não é a realidade. >
No Litoral Norte, analisa Carvalho, embora a natureza tenha sido generosa, há um quadro de infraestrutura ainda deficiente. Acontece que um grande contingente de pessoas percebeu, principalmente após a pandemia, que a região pode oferecer mais qualidade de vida, avalia o urbanista. “Somadas a questão da mobilidade, o gosto por morar próximo à praia e o fato de que nem todo mundo perdeu renda com a pandemia, criou-se um fluxo para o Litoral Norte”, explica. “Agora, é uma atividade aventureira, no sentido de que é necessário esperar ainda que a infraestrutura se desenvolva”, avalia.>
“Toda a cadeia imobiliária e as construtoras precisam se unir com os municípios para gerar planos de desenvolvimentos”, recomenda. Apesar da existência desses planos ser facultativa para municípios muito pequenos, o investimento nisso pode evitar que o crescimento se dê de maneira predatória. “A partir do momento em que existe uma eminência de crescimento populacional acelerado, principalmente próximo à orla, planos diretores atualizados são um caminho para evitar um processo prejudicial”, avisa o urbanista.>
O Boom do Litoral Norte é uma realização do jornal Correio com o patrocínio da Prima Empreendimentos.>