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Quais as praias de Salvador mais vezes impróprias para o banho e por quê?

Contaminação em locais contra-indicados pode provocar doenças com risco de morte; situação 'incógnita' no Porto da Barra preocupa Inema

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  • Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2023 às 05:01

. Crédito: Paula Fróes

A água calma e morna da Baía de Todos os Santos e a areia branca com pequenos búzios é um cenário de causar inveja em muitas praias caribenhas. Uma igreja antiga ao fundo dá aquele toque quase sagrado à Praia da Penha, na Ribeira. Mas é um pecado que essa paisagem paradisíaca seja o local mais vezes classificado como impróprio para o banho de mar em um ano, de acordo com os últimos 50 boletins do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), entre janeiro de 2022 e este primeiro mês de 2023. 

Contudo, muitas vezes a maré vira, e a Penha fica limpinha, parecendo até milagre para alguns banhistas. “Eu sou frequentadora da Penha; sento, tomo minha cerveja, admiro a paisagem, mas não me arrisco na água”, disse Ana Paula, que ficou surpresa ao saber que sua praia estava própria para banho. “Oxe, certeza? Hoje dou aquele tibum”. 

Mas, afinal, o que torna o paraíso, muitas vezes, um inferno para o tibum? Um dos fatores que pode determinar se uma praia está ou não em condições é a bactéria Escherichia coli, abundante em fezes animais, incluindo os humanos. Teoricamente, a E. coli não deveria estar em áreas de banhistas, por motivos óbvios: ela é presente apenas em esgotos ou outros locais que tenham recebido contaminação fecal recente, como água (doce ou salgada) e solo. Quando a última amostragem for superior a 2000 E. coli por 100 ml colhidos, a praia fica imprópria.

E os efeitos práticos na saúde humana não são nada simples, conforme alerta o médico Lino Sieiro, coordenador da Medicina Unex.“É muito perigoso. Há risco de contrair diversas doenças causadas por bactérias, vírus e até fungos. As mais graves são hepatites por vírus e gastroenterites. Em casos de praias muito contaminadas, pode ter risco de contrair cólera e febre tifoide, que podem levar à morte”, destaca. “Caso tome banho em áreas impróprias, fique atento a alterações de pele, como micoses [pano branco, por exemplo], dor na barriga e diarreia, cansaço, dor no corpo e na cabeça e mal estar. Caso ocorra, procure um serviço médico e não frequente o mesmo lugar”, orienta Sieiro.

Porto preocupa A alguns quilômetros da Penha, a praia que já foi considerada a terceira mais linda do mundo, pelo jornal britânico The Guardian, vive uma maré inversa. Historicamente uma das mais limpas da capital, o Porto da Barra está desaconselhável. Nos três boletins de balneabilidade divulgados pelo Inema este mês, em todos o Porto está impróprio, enquanto outras com histórico ruim, como Pituba e a própria Penha, ficaram ok.

O caso do Porto preocupa e está causando espanto até no Inema, que preparou uma força-tarefa para saber o que está ocorrendo. Historicamente, o local está bem longe de ser uma praia suja. Há cinco anos, o CORREIO fez um apanhado de 1,4 mil boletins do Inema, entre 2007 e 2018. Na época, o Porto estava classificado entre as mais limpas da Bahia, imprópria em apenas 12% das vezes. 

Desde janeiro de 2022, o Inema publicou 50 boletins e o Porto se manteve bem. Entre os 26 pontos de coleta, a praia é a quarta mais limpa, com 86% das vezes classificada como própria. Então, onde está o mistério disso tudo? Banhistas vão ao Porto da Barra, uma das praias contaminadas, segundo Inema (Paula Fróes/CORREIO) “Estes últimos boletins estão, realmente, nos deixando intrigados e preocupados, né? Isso é uma questão simbólica, vamos dizer assim. Não tem um elemento determinante claro para deixar uma praia como o Porto imprópria e outras com históricos mais preocupantes como própria. Estamos investigando isso, fazendo novas amostras diárias… É algo que está intrigando até nós, do Inema. Eu moro na Barra. Tive que ouvir até piada de colegas reclamando porque deu própria para o banho na Pituba e não na Barra”, disse Eduardo Topázio, coordenador de monitoramento do Inema. 

Até uma auditoria é cogitada, para atestar se o procedimento está sendo feito direito. Novas amostras extras foram coletadas e, curiosamente, alguns dias deram condições para o banho, principalmente nos recolhimentos durante a semana, com tempo firme e menor presença do público. Contudo, não dá para mudar o status da praia todo dia. É preciso uma sequência de avaliações positivas para que a condição mude, conforme exigências do Conselho Nacional de Meio Ambiente.“Estamos fazendo uma verdadeira varredura ali na região para ver se tem alguma coisa nova que não está sendo detectada. Estamos intrigados, pois a praia ao lado [no Santa Maria] tem mais riscos, pois possui mais canais de drenagem que estão abertos, além de alguns córregos encapsulados há muitos anos. Ao contrário do Porto, ela está própria para o banho. Uma do lado da outra”, cita Topázio, que está fazendo coletas inclusive na costa da Ladeira da Barra, buscando uma explicação científica para esta mudança.É esgoto ou não é? Na verdade, não existe um fator isolado, mas um conjunto da obra. O cenário que pode contribuir para o Porto perder sua fama de limpinha é fácil de traçar: ruas mais cheias no verão, mais gente jogando lixo no chão, que se acumula nos bueiros. Bichos como ratos e baratas mais frequentes por lá. De repente, uma pancada de chuva, e tudo vai para os canais da praia.

“Quando chove, de fato, piora [a qualidade da água]. Se você chegar no Porto e olhar a mureta, vai reparar que ali é cheio de tubulação de drenagem fluvial. Se a rua estiver suja, toda vez que chover, todo material vai parar na praia”, diz Topázio. 

E este mês choveu mais de 100 mm na capital, algo incomum no histórico de Salvador. Toda aquela água que costumamos ver sendo despejada na praia, de fato, não é esgoto. Contudo, não significa que seja limpa. É quase uma viagem de cruzeiro da E. coli até o mar.   A praia da Contorno, na Preguiça, passou a ser o point dos jovens, mas sua fama de limpa não é mais a mesma (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Alerta ligado O Inema analisa 26 locais estratégicos de Salvador, que costumam receber banhistas, contando ainda com as lagoas de Abaeté e Pituaçu. Em um ano de coleta, os resultados mostram que está cada vez mais difícil encontrar uma praia limpinha (veja lista no final da reportagem).  

Nos 50 últimos boletins, mais da metade dos locais ficaram classificados como impróprios em pelo menos 50% das análises. Até praias que se tornaram ‘points’, como na Contorno e Buracão, estão com o sinal de alerta ligado.

Naquele último estudo de 2018, a Marina Contorno, especificamente na praia da Preguiça, era configurada entre as mais limpas de Salvador, com apenas 4% de reprovação em 11 anos de coletas. No último ano, a praia saltou para 54% no número de vezes dentro da categoria imprópria, em apenas um ano de análise. Atualmente, inclusive, ela não é recomendável. O Buracão, no Rio Vermelho, saiu de 35% para 58%, mas atualmente voltou a ser próprio para o banho. Este aumento de frequência está alinhado a mais gente que, mesmo sendo minoria, acaba depositando lixos e dejetos que contribuem para a qualidade da água. 

É todo um conjunto de obstáculos e medidas que podem ajudar ou prejudicar nossas praias. Saneamento básico é um fator crucial. Quanto mais esgoto clandestino que desaguam no mar, menos praias teremos para curtir. Não à toa, as praias com mais fama de sujas na capital possuem rios poluídos que desaguam perto, além de saídas de grandes macrodrenagem que, quando chove, varrem as ruas e despejam tudo no mar, como ocorreu em vídeos viralizados da enxurrada na praia do Barravento, na última semana.  De fato, ali não era esgoto, mas água da chuva. Procuramos a Embasa, mas não tivemos retorno até o fechamento da edição. “Uma solução seria uma discussão entre Prefeitura e Governo do Estado para buscar uma solução de conectar esse sistema de drenagem para um outro lugar. Ou até mesmo jogar a drenagem eventual numa rede de outra natureza. É preciso saber que a drenagem pluvial, em tese, só é para água de chuva, não esgoto. De certa maneira, é uma questão de uso e ocupação sólida e de como a cidade foi planejada. O ideal é que não tivesse um despejo de água, mesmo da chuva, em praias frequentadas”, alega Eduardo Topázio.Se a cidade cresce desordenada, sem esgotamento, praias em localidades mais populares, como no subúrbio, sofrem. Não à toa, das cinco mais sujas nos últimos 12 meses, quatro estão naquela região: Periperi, São Tomé de Paripe, Penha e Bogari. Já as quatro mais limpas estão em áreas melhor saneadas, como Farol de Itapuã, Praia do Flamengo e Stella Maris. 

“Precisa ser uma ação conjunta. Tem que ser um grupo de políticas executadas em diferentes níveis. Desde campanhas de conscientização, a questão do tratamento. Também da educação da população, para que ela não deixe o seu lixo na praia”, avisa Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba).  Os agentes de limpeza Luan e Luiz limpam diariamente a Penha. Para eles, os próprios frequentadores estragam a praia (Paula Fróes/CORREIO) Kelmo alerta que as águas impróprias também prejudicam a vida marinha. “A balneabilidade sozinha (só medir coliformes) não é suficiente para explicar os impactos sobre a vida marinha. Contudo, associado ao aumento dos coliformes na água existem outros fatores importantes como o pH (acidez da água), redução da concentração de oxigênio e eutrofização (aumento de nutrientes). Juntos constituem ameaça as populações de invertebrados marinhos. Felizmente, o mar é um ambiente dinâmico. Se ações efetivas forem tomadas a biodiversidade poderá ser preservada”, completa. 

A melhor maneira, de fato, é a conscientização. Dono de uma barraca da Penha, Roque dos Santos comemora a qualidade da água de seu ganha pão. “Que notícia boa. Tirando o domingo, quase ninguém está mais frequentando aqui, pois nossa fama de praia suja espanta banhistas e turistas. Eu coloco sacos em cada mesa, mas ainda tem gente que joga lixo na areia, faz cocô na água. Se o frequentador tomar consciência, já é meio caminho andado para a Penha ser mais limpa que o Porto da Barra. E aqui pra nós, é mais bonita, né não?”, provoca. 

Os agentes de limpeza Luan e Luiz, responsáveis pela limpeza de algumas praias do subúrbio, alertam para alguns cuidados. "Limpo todos os dias de manhã. O pior dia, sem dúvida, é segunda-feira cedinho. Isso aqui [Penha] fede. Nem parece que era gente curtindo praia. parecia uns porcos. Acredite, dia segunda até corpo boiando na água eu já encontrei. É muito lixo deixado no domingo. Por isso esta fama daqui. É o próprio povo. Se quer curtir esta praia, venha entre terça e sexta. Depois disso, passe longe", avisa Luan. 

Se oriente Para quem não quer cair no esparro da praia imprópria, dá para usar a tecnologia a seu favor. O Inema disponibiliza o aplicativo ‘Vai Dar Praia’, para dispositivos com sistema operacional Android e iOS. O aplicativo é de graça e mostra, de forma atualizada, o monitoramento da balneabilidade em todo estado. O Inema fiscaliza 134 pontos de coleta, distribuídos em toda a costa baiana. 

Caso não seja possível acompanhar o app, evite o mar nas seguintes circunstâncias: locais com manchas de coloração suspeita ou com cheiro forte. Nada de banho em tempo chuvoso nas praias urbanas, pois as águas podem estar contaminadas por arraste de diversos detritos carregados das ruas através das galerias pluviais. É desaconselhável ainda o banho próximo à saída de esgotos, desembocadura dos rios urbanos, córregos e canais de drenagem. De resto, boa praia!

***

Vai dar praia?

Confira as praias que foram mais vezes classificadas impróprias para o banho, de acordo com os últimos 50 boletins do Inema (de janeiro de 2022 a janeiro de 2023)

1. Penha: 92% (Status atual: própria) (Em frente à barraca do Valença)

2. Bogari e Boca do Rio: 88% (Status atual: própria e imprópria, respectivamente) (Em frente ao Colégio da PM /  Em frente ao posto Salva Vidas)

3. Periperi: 78% (Status atual: imprópria) (Na saída de acesso à praia, após travessia da via férrea)

4. São Tomé de Paripe: 74% (Status atual: imprópria) (Em frente à casa Vila Maria)

5. Tubarão: 72% (Status atual: própria) (Em frente ao conjunto habitacional abandonado)

6. Armação e Patamares: 70% (Status atual: impróprias) (Em frente ao Hotel Alah Mar / Próximo ao Caranguejo de Sergipe)

7. Pedra Furada e Corsário: 68% (Status atual: imprópria e própria, respectivamente) (Atrás do Hospital Sagrada Família / Em frente ao posto Salva Vidas) 

8. Rio Vermelho: 60% (Status atual: própria) (Colônia dos Pescadores)

9. Buracão: 58% (Status atual: própria) (Escadaria de acesso à praia)

10. Pituba: 56% (Status atual: própria) (Em frente à Portinox)

11. Marina Contorno: 54% (Status atual: imprópria) (Praia da Preguiça)

12. Rio Vermelho: 52% (Status atual: própria) (Praia da Paciência)

13. Bonfim: 50% (Status atual: própria) (Na rampa de acesso à praia)

14. Piatã: 48% (Status atual: própria) (Próximo ao Clube Costa Verde)

15. Pituba e Itapuã: 44% (Status atual: próprias) (Antigo Clube Português / Em frente à Rua Sgt. Waldir Xavier) 

16. Itapuã: 40% (Status atual: própria) (Em frente à Sereia)

17. Roma e Placaford: 36% (Status atual: imprópria e própria, respectivamente) (No fundo do Hospital São Jorge / Em frente ao posto Salva Vidas)

18. Amaralina: 32% (Status atual: própria) (Em frente ao painel de Bel Borba)

19. Cantagalo, Ondina e Amaralina: 28% (Status atual: próprias) (Bahia Azul / Morro da Sereia / Praça Budião)

20. Boa Viagem e Santa Maria: 22% (Status atual: próprias) (Monte Serrat / Hospital Espanhol)

21. Porto da Barra, Farol da Barra e Ondina: 14% (Status atual: imprópria, própria e própria) (Em Ondina, no Hotel Bahia Sol)

22. Barra Vento e Farol de Itapuã: 12% (Status atual: próprias)

23. Stella Maris e Flamengo: 4% (Status atual: próprias)

24. Flamengo: 2% (Status atual: própria) (Na Barraca da Pipa) 

Outros

1. Lagoa de Abaeté: 86%  (Status atual: imprópria) (Em frente à placa de fundação)

2. Lagoa de Pituaçu: 36% (Status atual: própria) (Na entrada do Parque)