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Tal pai, tais filhos: conheça a Família Real do Reggae na Bahia

Edson Gomes iniciou, os filhos estão levando adiante. Se a Bahia tem os Velloso, Macedo e Caymmi, nada mais justo que também valorizar a família mais regueira do país

  • D
  • Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 07:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Reprodução

Risos e barulhos típicos de familiares reunidos, do outro lado da linha Edson Gomes dá a voz no meio da confusão: “Hoje não, pô. É jogo do Brasil, tá uma confusão aqui, todos reunidos. Me ligue amanhã”, disse o reggaeman, apaixonado por futebol e que sonhou um dia em ser jogador.

Para nossa alegria, o reggae chegou no momento certo. Não só nele, mas em todo o clã. Se a Bahia tem a tradição de ter famílias musicais, como os Velloso, Caymmi e Macedo, seria um sacrilégio não colocar o legado Gomes no reggae autêntico e original do Recôncavo.

Se Edson iniciou o legado musical da família, seus filhos mostram o mesmo talento do pai, buscando seus próprios caminhos, mas sem esquecer um ensinamento do paizão: “seja sempre a resistência”. 

Na família, além de Edson, ainda têm os dois primeiros filhos, Jeremias e Isaque Gomes, e também a caçula, Raquel Gomes, que ensaia os primeiros passos. “Ela ainda não sabe se quer. Eu comecei tudo, né? Antes de mim, não tinha. Eu levo as coisas de forma bem natural, sempre incentivei meus filhos a fazerem tudo que sonham. Eu não tive isto, pois meu pai não enxergava a música como ganha pão. Agora, não. Meu papel sempre é incentivar”, disse Edson, que ainda tinha dois saudosos irmãos que cantavam reggae, Timtim Gomes e Ed Brown, além do sobrinho Natan Gomes.

A presença dos filhos Isaque e Jeremias sempre foram frequentes nos shows de reggae de Edson. Quem não se lembra deles dançando reggae no palco, sempre de forma intensa, como a felicidade de uma criança em conhecer o trabalho do filho.  Isaaac, vamos cantar este reggae! Filho mais velho de Edson tem o pai como referência, mas não quer comparações (Foto: Divulgação) "Tecnicamente, eu iniciei minha carreira meio como um dançarino, né? [risos]. Quando eu fiz dez anos de idade, minha mãe chegou pra meu pai e disse assim: leve seu filho para viajar com você, pois ele precisa entender que você é um trabalhador como qualquer outro. Eu achava que o termo música era o próprio reggae, que não tinha nada além do reggae", conta Jeremias.

"Desde os dez anos que eu estou na estrada acompanhando meu pai, vendo shows e tal. Hoje, estou ao lado dele cantando”, complementa o artista, que está fazendo show com Edson, o 'Tal Pai, Tal Filho', ainda em comemoração dos 50 anos de carreira do rei regueiro da Bahia. 

“Meu pai sempre quer extrair o melhor de nós. Quando mostro um trabalho, ele olha, ouve, ouve de novo, me elogia quando precisa, mas sempre dá opinião, do tipo ‘olha, isso pode melhorar e tal… Sempre atento”, diz Jeremias, que não esconde a influência do pai, mas faz questão de trilhar seu próprio trilho. Em uma de suas músicas, ele deixa muito claro na letra: “Já tenho régua e compasso / Agora vou traçar meu passo. E se um dia, se Deus quiser, vocês me ouvirão no rádio”.  

Vamos cantar esse reggae Mais velho dos cinco filhos, Isaque ganhou do pai um ensinamento que virou sucesso de Edson Gomes. Em 1995, o reggae man cantava “Isaac, vamos cantar este reggae / O povo precisa de uma voz amiga…”.

Mas Isaque não atendeu de primeira a mensagem do genitor. Ele até teve o mesmo sonho do pai, mas de ser jogador de futebol. Meia-atacante, Isaque fez alguns testes em clubes como o Corinthians, mas o tempo foi passando e o reggae acabou falando mais alto. Jeremias e Isaque sempre tiveram o palco como parque de diversões. Hoje, os dois artistas, já com as carreiras consolidadas, levam o reggae na alma e com a responsabilidade de manter o legado do pai, Edson Gomes (Foto: Arquivo CORREIO) Isaque mantém a raiz do recôncavo, mas seu reggae é mais acelerado e com um estilo que abraça outras referências musicais. Na última semana, ele lançou o single Leão de Judá, fazendo um dueto com Nengo Vieira, velho amigo do pai, tio de afeto e outro incentivador para que Isaque seguisse na música.

A presença do pai na carreira de Isaque é forte, mas o primogênito se incomoda com as comparações. Não pelo orgulho de ser filho de Edson, mas pelo peso de carregar a continuidade da família.  Jeremias Gomes, quando começou a acompanhar seu pai nos shows. Hoje trilha os caminhos ensinados por ele (Foto: Acervo pessoal) “Muita gente acaba associando os filhos ao pai. Mas temos nossos próprios caminhos, tenho minhas músicas, tenho meus shows. Tenho muitos trabalhos bacanas com meu pai, tocamos juntos, mas temos caminhos distintos. A comparação no sentido da herança, da influência, é bacana. Mas nem sempre é de forma positiva. Muita gente quer que eu seja meu pai. Eu não sou. Aliás, ninguém é. Edson e Nengo são os pilares do reggae na Bahia. É como querer comparar Pelé a Neymar. Não dá”, diz Isaque. 

Como todo bom filho, Isaque não abre mão da companhia do pai, seja no mundo da música ou fora dele."Quem vê meu pai sério no palco, com suas palavras fortes, não imagina a resenha que é. O cara é resenheiro demais, brinca com todos, ama futebol. Como pai, é normal como qualquer outro. Nos orienta, aponta caminhos, mas nos deixa traçar nossos próprios sonhos. Ele teve que ralar muito, conseguiu se sustentar com uma música marginalizada, de resistência e contra o sistema. Não foi fácil", completa Isaque. De fato, não foi fácil. Antes de virar músico, em 1972, Edson trabalhou pesado para sustentar a família. Nesta rotina de trabalhador, fez uma de suas músicas mais forte: Hereditário. “Esta música escrevi bem antes de conhecer o reggae. Foi experiência própria, de me ver trabalhando para sustentar a casa, assim como era meu pai”, lembra Edson. Na letra, frases intensas como “Trago sempre o suor correndo no rosto / O corpo cansado e nada no bolso”. 

Hoje, com 50 anos de carreira e 67 de vida, a maior referência do reggae no país se define como “um cidadão comum”. “É muito gratificante ver tudo que construí sendo passado de pai pra filhos. Para toda família”, completa Edson. Êa!