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Vitor Villar
Publicado em 10 de novembro de 2019 às 06:05
- Atualizado há 2 anos
A presença do cigarro eletrônico traz uma contrapartida perigosa. Cria-se uma nova modalidade de acesso à nicotina, e que pode atrair pessoas, sobretudo jovens, que não estariam propensas ao uso do cigarro comburente.>
Na visão de especialistas, o vape pode escancarar novamente a porta para o tabagismo entre adolescentes – entrada que vinha fechando-se com muito sucesso nos últimos anos graças às campanhas educativas promovidas pelo governo. >
O número de usuários e de defensores deste hábito não para de crescer - inclusive em Salvador, onde usuários se reúnem e trocam informação sobre o dispositivo. >
“Os EUA são o maior exemplo disso. Eles vinham tendo uma queda no número de fumantes, chegaram a ter 7% dos escolares fumando cigarro comum. Esse número mudou com o cigarro eletrônico. Passaram de 2 milhões de jovens em 2017 usando esses produtos para 3,6 milhões em 2018”, destaca Alberto de Araújo, presidente da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB).>
Os EUA resgistram uma crise na saúde, associado ao uso do cigarro eletrônico: são 39 mortes e mais de 2 mil internações, de acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) do governo estadunidense.>
O médico refere-se à Pesquisa Nacional de Tabagismo entre Jovens (NYTS), realizada anualmente. Segundo a última publicação, o consumo de cigarros eletrônicos entre estudantes de ensino médio (14 a 18 anos) aumentou de 11,7% em 2017 para 20,8% em 2018. Isso significa que um a cada cinco estudantes do país usou vaporizador pelo menos uma vez nos últimos 30 dias.>
Segundo o CDC, o aumento está relacionado sobretudo ao lançamento de vapes menores, em formato de pen-drive, que possuem manutenção simples e podem ser recarregados de nicotina trocando um cartucho.>
Quem estuda o vape como um método substitutivo e redutor de danos ao cigarro reconhece a gravidade do problema. Segundo estes especialistas, a regulamentação por parte dos governos pode ajudar.“Nos EUA há um mercado de vapes sem regulação – até mesmo de propaganda – os jovens estão usando e não há como imprimir um controle. Na Europa, temos uma extensa regulação desde 2016 e uma das principais ações é a punição a quem vender para menores de 18 anos, além de políticas educacionais explicando para que serve o produto”, argumenta o cardiologista grego Konstantinos Farsalinos.A comparação é justamente entre Estados Unidos e Reino Unido. Nos EUA, a regulamentação é frouxa, ficando a cargo de cada estado. Na Grã-Bretanha, a venda a menores de 18 anos e a propaganda são proibidas. Também existe uma campanha educativa alertando para os riscos do vape, tal qual acontece com o cigarro comburente.>
Em fevereiro de 2019 a Agência de Saúde Pública da Inglaterra (PHE, em inglês) publicou que essa regulamentação tem mantido em níveis baixos o consumo de cigarros eletrônicos e outros produtos tabagísticos: 6% dos menores de 18 anos disseram ter feito uso do vape pelo menos uma vez nos últimos 30 dias. 2% disse fazer uso diário. Do total, apenas 0,2% nunca haviam fumado antes um cigarro comburente.>
Élson Souza, 56 anos, usuário do vaporizador há três, garante que há na comunidade vaper a consciência de que o uso entre jovens deve ser combatido: “É consenso entre os usuários de que um jovem não deve usar o cigarro eletrônico de forma alguma. Sabemos que os danos serão potencializados por se tratar de um corpo em desenvolvimento e alertamos isso nos veículos”.>
“Não sejamos hipócritas, a gente sabe que jovem é inconsequente. Não apenas em relação ao vape, ele está exposto a outros riscos. Cigarro, álcool, maconha, cocaína, sexo sem proteção”, reconhece Isolda Lisboa, 56 anos, fumante desde os 14, vaper há quatro. “Então o que precisa é informação, educação, políticas públicas e ação da família para evitar que os adolescentes não só evitem o vape como todas essas drogas”. O que é o cigarro eletrônico (vape)?>
Aparelho elétrico que aquece um líquido com ou sem nicotina e o transforma em vapor –por isso é chamado também de vaporizador ou vape. Não há, portanto, fogo ou qualquer tipo de combustão.>
Para que serve?>
Foi criado como um substituto do cigarro comum, de tabaco. Seu uso, portanto, foi pensado exclusivamente para fumantes que queriam largar o cigarro. O aparelho serve apenas para vaporizar líquidos de nicotina. Não trata-se, portanto, de vapor de maconha ou outros narcóticos.>
Tipos de vape>
Vape pen ou caneta – Os precursores do vape, geralmente vêm com bateria e atomizador acoplados (ou seja, não são cambiáveis). É a categoria mais acessível. Mods controlados – Categoria mais avançada, vêm com bateria e atomizador cambiáveis. Seu sistema permite controlar a potência da resistência. Pods – Mais modernos, são pequenos e discretos. Trazem o juice num cartucho que pode ser descartável. Possuem concentração maior de nicotina, sendo recomendável para quem tem dificuldade de largar o cigarro (que tem alto teor de nicotina).>
Características >
1 – O nível de nicotina a ser usado depende do estágio de transição do usuário do cigarro comum para o vape. Quem está no início usa alto teor. Aos poucos, é possível baixar. 2 – O vapor produzido se dissipa rapidamente, mesmo em ambientes fechados, e não é reconhecível por detectores de fumaça. 3 – Mesmo usando juices que contém sabor e aroma, o vapor não deixa cheiro em nenhum caso – boca, dedos, roupa ou ambientes fechados como um carro, por exemplo.>
É possível comprar?>
Importação - Os aparelhos não são fabricados no Brasil. Por isso, os usuários brasileiros só os obtêm por importação – seja por conta própria ou através de outras pessoas. Quanto – Nos Estados Unidos, o modelo mais básico de vape (do tipo pen) é vendido em torno de US$ 18 (R$ 72). >