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Luiza Gonçalves
Publicado em 26 de julho de 2024 às 06:00
Na obra Os Sertões (1902), a escrita jornalística de Euclides da Cunha (1866-1909) abrange a terra, o homem e a luta. O livro é dividido em três partes que narram o sertão baiano, seu povo e o desenrolar da Guerra de Canudos, evento histórico que marcou o período entre a queda da monarquia e a instalação do regime republicano no Brasil. >
Essa história ganha os palcos com o espetáculo A Luta, monólogo do ator Amaury Lorenzo, conhecido por seu papel como o jagunço Ramiro na novela Terra e Paixão (2023). A peça chega a Salvador neste sábado (27), às 20h, e domingo (28), às 19h, no Teatro Jorge Amado.>
“Eu sou apaixonado por essa obra. É brasilidade, sobre a construção da identidade do que nós somos, e isso é muito importante. Acho que é um texto que todos deveriam ter acesso, e, por isso, pensamos nesse espetáculo, para torná-lo acessível a todos, porque a história do Brasil e a construção da nossa identidade são fundamentais”, afirma Amaury.>
Com direção de Rose Abdallah e dramaturgia de Ivan Jaff, A Luta baseia-se na terceira parte do livro, resultando em uma adaptação de uma hora. Nela, o ator mineiro se transforma em um rapsodo (um cantador popular na Grécia antiga), que conta em prosa épica as batalhas ocorridas no Arraial de Canudos. >
Amaury explica que a peça permanece fiel à narrativa de Euclides da Cunha: “Tanto em seu elemento jornalístico quanto em seus relatos críveis, concretos, reais e que, em determinado momento, fazem com que Euclides se afete pela história e comece a inserir suas emoções”.>
Em cartaz com a montagem desde 2022, Lorenzo usa recursos da fala e do corpo para contar as sucessivas investidas do exército brasileiro contra o Arraial de Canudos e a reação de seus habitantes. Apesar dos mais de 20 anos de experiência no teatro, ele descreve o espetáculo como uma virada de chave desafiadora em sua carreira.>
“O Euclides traz muitos personagens e acho que dar conta desse gráfico potente foi um grande desafio. E também dar conta do humor, do desespero, do fanatismo religioso, das contradições presentes na obra, numa encenação que traz muito movimento, corporalidade e canto”. >
O espetáculo enfrentou alguns problemas para sua circulação, sendo uma produção independente sem patrocínio até hoje. “Foi um processo de muita luta, como é o nome do espetáculo, né? Mas também foi muito saboroso”, revela o ator. Apesar dos entraves, A Luta foi indicada ao Prêmio Cesgranrio de Teatro na categoria Melhor Ator. >
Amaury atribui boa parte dos feitos ao público fiel que o acompanha: “É um grupo maravilhoso. Sou completamente apaixonado por todos. Eles agitam as redes sociais, mobilizam público e se movimentam para que o espetáculo chegue até a cidade deles. Até apoio já conseguiram”.>
Chegada em Salvador >
“Estou com uma expectativa gigante para estar em Salvador. Tenho uma conexão profunda com o Nordeste e, sempre que estou em Salvador, é como se eu me sentisse mais perto de quem eu sou de fato. A cidade traz uma representatividade muito poderosa, principalmente para mim, que sou um homem preto, e tenho essa sensação de me sentir em casa”, diz.>
Recentemente, o ator esteve na capital baiana para o Festival Negritudes Globo e ressalta como a cidade é uma força pulsante da cultura e identidade brasileira, e o cenário perfeito para receber A Luta. “Espero um público caloroso para assistir ao espetáculo e tratar de identidade brasileira, de construção, de quem nós somos. Porque, quando conhecemos nossa história, como a Guerra de Canudos, melhoramos muito quem somos hoje e conseguimos traçar um futuro melhor”, finaliza.>
SERVIÇO - Espetáculo A Luta | sábado (27), às 20h, e domingo (28), às 19h, no Teatro Jorge Amado | Ingresso: R$ 120 / R$ 60 - Clube CORREIO dá 40% de desconto no valor do ingresso>