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Artista sul-coreana Seungyoun Lee apresenta a mostra “Floresta Invisível” em São Paulo na programação da COP30

Exposição reúne gravuras e instalações imersivas que reinterpretam as florestas tropicais das Américas e convidam o público a completar as obras

  • Foto do(a) author(a) Gabriela Cruz
  • Foto do(a) author(a) Márcia Luz
  • Gabriela Cruz

  • Márcia Luz

Publicado em 18 de novembro de 2025 às 05:05

Artista sul-coreana Seungyoun Lee
A artista sul-coreana Seungyoun Lee e sua obra Crédito: Divulgação

A artista sul-coreana Seungyoun Lee abriu em São Paulo a exposição “Floresta Invisível”, em cartaz até 10 de janeiro de 2026 no Complexo Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro — bairro que abriga uma das comunidades sul-coreanas mais fortes do Brasil. A mostra integra a programação do Centro Cultural Coreano no Brasil para promover reflexões sobre sustentabilidade durante a COP30, reunindo gravuras, instalações imersivas e narrativas visuais que exploram ciclos, regeneração e coexistência.

Durante a visita da reportagem do Correio, Seungyoun conversou entre as superfícies serigráficas instaladas no espaço. A repórter ficou impressionada com a combinação de força visual e delicadeza sofisticada que marca o trabalho da artista: obras de grande impacto que, ao mesmo tempo, convidam para uma investigação íntima do mínimo, do subterrâneo e do invisível.

A artista sul-coreana Seungyoun Lee e com a repórter Gabriela Cruz por Divulgação

A força sutil da arte

Embora faça parte de uma agenda global de sustentabilidade, Seungyoun ressalta que sua obra não pretende oferecer soluções diretas.

“Eu não acho que a arte seja capaz de oferecer respostas concretas para os problemas do mundo. O que ela faz é mudar a forma como as pessoas observam. A força da arte está em transformar um pouquinho a maneira como alguém enxerga o mundo — essa pequena mudança de visão pode gerar outras mudanças.”

Livro, processo criativo e origem da mostra

A exposição nasceu do livro ilustrado “A Floresta do Mofo Dourado”, que conta uma história de cogumelos e florestas imaginárias e foi lançado junto com a mostra no Brasil pela editora AMELÌ, com o apoio do Centro Cultural Coreano. Essa narrativa inicial, que foi selecionada para a categoria “Amazing Bookshelf” da seção Prateleiras (ODS) na Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha 2025, expandiu-se para uma primeira exposição no Museu de Arte Kumho, na Coreia, e agora chega ao Brasil em uma versão ampliada, incorporando novos materiais e a participação do público por meio de reflexos, luzes e gradações.

O transporte das obras da Coreia para o Brasil exigiu um processo complexo e cuidadoso — algo que a artista faz questão de destacar.

“Esta exposição só foi possível graças a muitas pessoas, especialmente a Seletivo Arte, que me ajudou a trazer as obras prontas da Coreia para cá. A mostra fala de sustentabilidade, e estou animada para acompanhar como o público vai viver essas obras ao longo de dois meses: ver a oxidação dos cogumelos, o crescimento das plantas e as transformações que vão criando uma nova história.”

Floresta como sociedade viva — e sempre em desequilíbrio

A obra central da exposição, também chamada “Floresta Invisível”, é uma instalação de 3,6 m x 6 m que expande as imagens florestais da série “Raízes Inclinadas”. Na versão coreana, as raízes encostavam na parede, criando tensão; na versão brasileira, a superfície inclinada enfatiza o “rio que flui para baixo”.

Criada com serigrafia e monotipia sobre painel, a obra revela camadas sobrepostas que remetem às redes ecológicas de raízes e micélio. O relevo em degraus, que deixa as laterais expostas, permite ao visitante acompanhar o fluxo das imagens e ler os textos poéticos inscritos nas margens sobre raízes, rios, fungos e florestas.

Em sua fala, Seungyoun explica que essa floresta nunca é estável.

A floresta, para mim, é uma sociedade inteira que nos sustenta. Por isso, nas minhas obras, ela nunca está reta: está inclinada, deslizando, distorcida. A floresta é algo sem equilíbrio. E, justamente por estar sempre em desequilíbrio, ela é bela, mas também frágil. Precisamos nos apoiar uns nos outros para existir, como organismos que sustentam uma grande floresta.

Seungyoun Lee,

artista

A influência do Brasil na construção da obra

A artista chegou ao Brasil uma semana antes da abertura e conta que a experiência de observar a floresta brasileira — e também a argentina — redefiniu seu olhar.

“Vi árvores enormes, com raízes para fora da terra, misturando-se ao solo e ao ar. Árvores tão grandes não existem na Coreia. Parecia que a árvore inteira era uma floresta, e ao mesmo tempo parte do chão e do céu.”

O encontro com o país aparece na mistura de elementos brasileiros e coreanos que compõem as obras desta fase:

“Eu sempre tento juntar o que é da Coreia e o que encontro no Brasil. Nesta exposição, há cogumelos de ferro que vieram da Coreia, ao lado de plantas brasileiras. No livro, misturo animais coreanos — como o tigre e a garça — com espécies brasileiras, como o tamanduá. E o sol do Brasil cria outra história quando bate nas obras.”

Ciência, imaginação e a busca pelas mesmas perguntas

Filha de um físico, Seungyoun cresceu entre laboratórios e livros de arte. Formou-se em Design pela Universidade Hongik, uma das mais prestigiadas da Coreia, e é mestre em Narrativas Ecológicas pela Central Saint Martins, em Londres. Seu trabalho frequentemente dialoga com temas como civilização, religião, guerra e etnia, sempre filtrados por sua perspectiva coreana.

Para ela, ciência e arte caminham lado a lado.

“A ciência e a arte não são tão diferentes. Ambas tentam responder às mesmas perguntas: quem somos nós? Por que estamos vivos? O que é um ser vivo? A diferença é que o artista usa imaginação e emoção para buscar essas respostas, mas as questões são as mesmas.”

Essa interligação também aparece na relação entre livro e exposição.

“O livro e a exposição não são coisas separadas. A instalação pode virar parte do livro, e o livro pode se tornar exposição. Ao ler o livro, você encontra experiências que pode tocar e sentir aqui; ao ver a exposição, percebe elementos que estavam nas páginas. Tudo se conecta.”

Micro-utopias e o poder das pequenas transformações

O impacto da arte, segundo a artista, acontece no detalhe — e este detalhe, quando se multiplica, torna-se força.

“Acredito que a arte consegue criar pequenas utopias — micro-utopias. Elas não realizam grandes mudanças imediatas, mas criam pequenas alterações na percepção. Quando essas mudanças se conectam, formam algo maior, como pequenos organismos que, juntos, sustentam uma floresta inteira.”

Programação paralela e diálogo com o público brasileiro

Durante a temporada da mostra, Seungyoun Lee também participou de uma programação paralela em São Paulo. No sábado (15),  esteve na livraria Aigo ao lado da tradutora Yun Jung Im para um bate-papo sobre o processo de tradução do livro A Floresta do Mofo Dourado e os sentidos que atravessam a obra. No dia seguinte, conduziu um workshop de gravura no Complexo Cultural Oswald de Andrade, no qual o público experimentou as técnicas que compõem seu processo criativo. Além disso, entre os dias 4 e 24 deste mês, a artista leva uma animação baseada no livro para a Galeria de Mídia Digital da FIESP, ampliando o diálogo com os sistemas ocultos da floresta por meio de uma experiência sensorial.

Na entrevista ao Correio, realizada no dia 8 desse mês, ela estava curiosa para ver como o público brasileiro reagirá ao livro e aos exercícios do workshop. “Na Coreia, já houve respostas muito específicas. Aqui, o resultado certamente será outro, e quero muito ver como cada pessoa vai criar algo diferente.”

SERVIÇO

Exposição “Floresta Invisível”, de Seungyoun Lee, com realização do Centro Cultural Coreano, organização da Seletivo.art e da Transipot, e apoio do Complexo Cultural Oswald de Andrade

Local: Complexo Cultural Oswald de Andrade

Endereço: Rua Três Rios, 363, Bom Retiro, São Paulo – SP

Data: até 10 de janeiro de 2026

Horário: de segunda a sexta das 10h às 21h; sábados das 11h às 18h

Entrada: gratuita