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Publicado em 29 de setembro de 2023 às 22:31
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou a condenação imposta à produtora e gravadora carioca Furacão 2000, especializada em funk, pela música 'tapinha'. >
A empresa havia sido condenada, na primeira e na segunda instâncias, por ofensa à dignidade das mulheres. A multa por danos morais coletivos foi estabelecida em R$ 500 mil.>
Sucesso no início dos anos 2000, a música diz que 'um tapinha não dói'. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou a gravadora alegando que a letra incita violência contra as mulheres.>
Ao derrubar atender o pedido da Furacão 2000 para derrubar a condenação, Barroso defendeu que a composição não extrapola os limites da liberdade de expressão.>
"Se houver alguma forma de interpretar a produção artística de modo a preservar sua dimensão de legítima manifestação cultural, sua veiculação não deve ensejar a responsabilidade civil de seu titular", escreveu.>
O ministro argumentou que, se alguns interpretam a música como 'ofensiva', outros veem a letra como 'expressão de afronta à repressão sexual e defesa do empoderamento feminino'.>
"Precisamente nesse contexto, já foi interpretada por outros cantores de sucesso na música popular brasileira, como Caetano Veloso e Fernanda Abreu", lembrou Barroso.>
O presidente do STF defendeu também que a música, composta em 2001, precisa ser analisada no contexto de seu tempo.>
"Não podemos avaliar com os olhos de hoje uma música que foi composta há mais de vinte anos atrás. Na época em que 'Tapinha' foi lançada, a possível ofensividade da letra não causou grande comoção pública. Pelo contrário: a produção artística logo se tornou um sucesso, inclusive em âmbito internacional", argumentou.>
Barroso afirmou ainda que, por ter nascido nas favelas do Rio, o funk é 'constantemente alvo de preconceito, repressão e censura'>
"Ainda que se possa considerar que as letras são controversas e sexualizadas, não se pode negar que o respeito à liberdade artística no funk é parte do movimento de combate ao racismo e preservação da cultura do povo negro no País", diz a decisão.>