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Victor Villarpando
Publicado em 1 de julho de 2015 às 06:49
- Atualizado há 2 anos
De Euclides da Cunha (a 300 quilômetros de Salvador) para as principais revistas de moda, celebridades e emissoras de TV do país. A trajetória de Dudu Farias, 31 anos, foi surpresa até para ele mesmo, que começou no mundo fashion como assistente de maquiador. >
Há três anos seguidos, o stylist ostenta clientes na lista das 12 mais bem-vestidas do baile de Carnaval da (revista) Vogue. Pelas suas mãos já passaram nomes como Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Chay Suede e Anitta. Entre os clientes fixos estão as atrizes Sophia Abrãao, Adriana Birolli e Fernanda Souza e o cantor Thiaguinho. >
Por telefone, o baiano que veste os famosos conversou com o CORREIO. Confira.A atriz Flávia Alessandra e Dudu (Fotos/Instagram)Como começou na moda?>
Não fiz faculdade. Comecei como assistente de maquiagem. Conheci o maquiador Max Weber em Salvador, num editorial da Vogue com Ana Beatriz Barros. Um amigo que já era assistente dele me indicou.>
Como é seu dia a dia?>
É um corre-corre dos mais improváveis dentro de São Paulo. Atendo várias pessoas ao mesmo tempo e tenho que produzir muita coisa. A melhor parte é a satisfação do cliente. O reconhecimento de um veículo de comunicação especializado também. Vestir grandes top models, como Isabeli Fontana, Alessandra Ambrósio e Izabel Goulart, por exemplo, era um sonho. >
O que menos gosto é devolver as roupas emprestadas. Acabo tendo muita roupa em casa, vivo num mar de roupas. Tem mais de duas mil peças lá em casa hoje, sendo mil minhas e o resto emprestada. Faço a imagem de quase 12 pessoas e não tenho assistente, só camareiras.Tudo de estilo é comigo. Quando terminam os desfiles, imprimo os looks que gostei e já seleciono. >
Já passou por saia justa no trabalho?>
Tava produzindo uma cantora bem poderosa e o zíper da roupa dela estourou bem perto da hora de entrar no palco. Eu mais quatro costureiras fechamos o vestido no corpo dela. Eu tava humilhado, abaixado no palco, enlouquecido (risos). Acontece... E olhe que nem era um problema meu, porque não fabriquei a roupa. Mas tenho que dar solução. Sempre tenho costureira junto por conta dessas coisas e para ajustes. >
O ator Chay Suede é um dos clientes de DuduComo se inspira?>
Viajo a cada três meses para o eixo Paris- Milão-Londres. Sou mais clássico, minhas tendências estão nas maisons francesas e italianas. Gosto muito da cena alternativa de Londres. É no streetstyle que vejo o que vai pegar mesmo. No mais, admiro o estilo das atrizes Charlize Theron, Emma Watson e Julianne Moore e (da cantora) Taylor Swift.>
E o trabalho com Thiaguinho?>
Thiago tem um guarda-roupas impecável, um dos melhores do Brasil. Duvido que alguém tenha tantas boas peças atuais como ele. É quase tudo da nova coleção da Givenchy, moletons de campanha da Dior, da Balmain. Parece um universo tão distante do pagode, né? Mas ele consegue levar a moda de maneira fantástica para o popular. >
Conheci ele através da (atriz) Fernanda (Souza), esposa dele, que é minha amiga. Ela é fundamental no trabalho. Às vezes, nossas datas de viagem para a Europa não coincidem. Aí Fernanda bate desfiles e campanhas comigo, vira minha guia lá e vai comprando. >
Como vê o futuro das semanas de moda brasileiras?>
Acredito mais na moda praia brasileira. É a única que não sofre muita interferência nem vive muito de referências lá de fora. Acho que temos uma identidade própria. A moda praia é o que melhor representa a gente. Não que não tenhamos bons estilistas, como Alexandre Herchcovitch, Gloria Coelho e Vitorino Campos, que eu adoro. Mas acho que a praia está muitíssimo bem representada com nomes como Lenny Niemeyer e Adriana Degreas.>
Com o pagodeiro Thiaguinho: armário impecávelAcha que a moda está mais inclusiva? >
A moda sofre adaptações. Inclusive, acho que a gente tá vivendo na época de maior adaptação dela até hoje. A moda está mais inclusiva, dando mais oportunidades para mais pessoas e segmentos diferentes. Tem ruiva, japonesa, brasileira, indiana, chinesa... Esses países têm um mercado avassalador. As grandes marcas perceberam isso e tiraram a exclusividade do estereótipo europeu. >
A China, por exemplo, tem um dos maiores públicos consumidores do mundo. A Louis Vuitton e outras maisons estão escolhendo padronagens e estéticas diferentes. Foi o caso de Fernanda Ly (australiana de ascendência chinesa e cabelo rosa) em Paris.>
Que inclusão você gostaria de ver mais?>
Quero ver mais pessoas negras em destaque. No próprio Brasil, onde grande parte da população é negra, nas campanhas de moda temos poucas mulheres negras. Lá fora, as grifes ficam muito em cima de Tyra Banks, Naomi Campbell, Chanel Iman e Jourdan Dunn. Dá para contar nos dedos. Mas, pra mim, tudo que tem cota já é preconceituoso. Somos todos iguais.>