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Gabriela Cruz
Publicado em 13 de março de 2015 às 06:27
- Atualizado há 2 anos
Luiz Fernando Landeiro abriu a galeria no Rio Vermelho há dois anos (foto: Angeluci Figueiredo)O artista, galerista e marchand Luiz Fernando Landeiro, 34 anos, é um aficionado por arte contemporânea. Tanto que, há dois anos, quando abriu a galeria que leva seu nome no Rio Vermelho, chamou a carioca Alessandra Vaghi para protagonizar a primeira exposição do lugar. A Sombra do Delírio Verde foi formada por instalações, esculturas, telas, azulejos, fotos e vídeoarte. Hoje, no casarão de três andares localizado na Rua da Paciência, estão as obras de outro artista contemporâneo, o cearense Sérgio Helle, que abriu na sexta-feira (6/3) a mostra de infogravuras Acqua, que mistura novas ferramentas digitais com tradicionais técnicas de desenho e pintura. A exposição fica em cartaz até dia 31.Como a arte entrou na sua vida?Através da minha família, que tem um apreço muito grande pela cultura. Minha mãe, a arquiteta Dolores Landeiro, foi professora de História da Ufba e sempre passou esse conhecimento para os filhos. Na própria vivência dela, a gente se via circulando por esse ambiente e guardando o olhar para a arte. Ela me incentivou a pintar desde pequeno. Com o tempo, fui me aprimorando, me vi envolvido pela arte de forma profunda, apaixonante. Quando percebi, já tinha mais de 1 mil desenhos e 100 pinturas. >
Quando se tornou um profissional? Cursei Publicidade e estudei no Museu de Arte Moderna por alguns anos. Foi quando tive contato não só com os artistas que são docentes, mas também com a produção do museu, seu acervo e as exposições. Fui desenvolvendo meu olhar crítico e comecei a vender minhas obras, inclusive para compradores de fora do Brasil, como Estados Unidos, Emirados Árabes e Portugal. Mas o divisor de águas foi quando estudei curadoria na Califórnia (EUA). Queria entender como as pessoas faziam a compreensão do meu trabalho, quais os critérios. Fui estudar semiótica, crítica de arte, a função do curador, o olhar de análise da obra, a expografia. Isso tudo eu busquei como artista e acabei utilizando como galerista.>
Qual a importância da crítica para o artista?É muito importante para o artista. Com ela, ele percebe o quanto seu trabalho é profundo. A crítica também faz uma análise das influências que fizeram o artista criar a obra. >
Como o artista pode se distanciar da obra e se tornar seu próprio crítico?Ele coloca no papel o que é a obra e com isso consegue visualizá-la, como se fosse um terceiro. Dependendo do processo, há momentos em que aquele projeto avança e acaba ganhando vida por si só e deixa de ser do artista. Então ele para de ser crítico por um tempo para se permitir criar. >
Quando o artista se tornou um galerista?Um vizinho muito querido, Eduardo Nápole, me pediu para avaliar uma obra de Jenner Augusto. Como conhecia a família do artista, pedi para me darem uma cotação e passei para ele. Eduardo então perguntou se eu conseguiria vender a obra para ele. Nunca tinha feito isso antes, mas consegui finalizar a compra em uma semana.Percebi que era uma oportunidade de negócio e também uma forma de me aproximar dos artistas, entrar nos seus mundos, já que teria que estudar sobre ele, analisar a obra, verificar sua autenticidade. Isso tudo me fascinou. >
Por que você se especializou em arte contemporânea?Primeiro porque eu estou vivenciando a arte contemporânea. É o movimento artístico do nosso tempo. Eu vivo isso de forma verdadeira e intensa e quero levar isso para o público. Minha escolha tem a ver também com o artista alemão Joseph Beuys, pelo qual sou apaixonado. O que me fascina é o que está por detrás da arte, os aprofundamentos conceituais em obras que são potências de significados e significantes, que realmente passam uma mensagem, que não existem apenas por uma razão estética. Arte conceitual é abrangente e faz a gente pensar como se fosse uma filosofia.Obras da exposição Acqua, de Sérgio Helle, fica em cartaz na galeria até o fim do mês (reprodução)Baiano gosta de arte?O povo baiano é extremamente cultural, perspicaz com a arte, gosta, entende, muitos têm interesse, mas não tem poder aquisitivo. Por isso meu objeto é democratizar a arte, aliar preços acessíveis a artista renomados, reconhecidos. Temos uma cena artística extremamente forte desde o modernismo, com Carybé, Jenner Augusto, Juarez Paraíso, Calasans Neto. Esse cenário continua sólido, embora meio tímido mas começando a ganhar mais força. Os artistas contemporâneos que temos são grandes, com visibilidade em outros estados e uma legitimação de instituições, curadores e críticos. >
Como veio a ideia da galeria?Comecei a comprar e vender em casa mesmo, inclusive de artistas muito próximos a mim, como Anderson Santos, Eliezer Bezerra, Zau Pimentel... Criei a galeria quando vi que tinha me adaptado ao negócio, estava conseguindo realizar bem. Achei que era a hora de crescer e abri as portas em 22 de outubro de 2013 com a exposição de Alessandra Vaghi. Fomos a primeira galeria a trabalhar com vídeoarte na Bahia. Oferecemos serviço de molduras especiais e impressão em fine art, que dá uma durabilidade maior à obra, de cerca de 150 anos, com preços diferenciados para os artistas. >
Que artistas fazem parte do acervo da galeria?Tenho obras dos baianos Tutti Minervino, Juliana Moraes, Fabio Magalhães, Bruno Marcelo, Arthur Scovino, Zau Pimentel, Anderson AC, Grupo Gia, Marcos Cesário, Aristides Alves, além de artistas de outros lugares, como Marcelo Daldolce, Daniel Melin, Juan Francisco Casas, Adriana Eu, Andrea Blaun e Alessandra Vaghi. >