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Da Redação
Publicado em 5 de janeiro de 2014 às 16:41
- Atualizado há 2 anos
Murilo Benício, sisudo, termina de desenhar um avião num papel à sua frente quando chega Cauã Reymond, pedindo desculpas pelo atraso. Ao avistar Murilo, já sem a espessa barba do personagem da minissérie Amores Roubados, exclama: "Aí, dez anos mais jovem!". >
Murilo, então, se levanta, entusiasmado, e os dois se cumprimentam efusivamente. A prosa envereda para o lado artístico. Comentam as peças da Broadway, trocam impressões sobre os indicados ao Globo de Ouro e elogiam a performance de Cate Blanchett no último longa de Woody Allen, Blue Jasmine.A dupla só para de falar durante as fotos. Mesmo assim, trocam olhares de cumplicidade o tempo inteiro. A empatia não é de hoje. Amores Roubados, que estreia amanhã, após Amor à Vida, marca o terceiro encontro televisivo dos dois. Os atores já contracenaram em A Favorita e, recentemente, viveram pai e filho em Avenida Brasil. >
A amizade, conta Cauã, vem atrelada à admiração mútua. Há pouco, ele declarou que considera Murilo o melhor ator em exercício na TV. "Ele é talentoso, sensível e tem inteligência cênica, além da experiência, o que ajuda bem. Eu e Murilo temos formas semelhantes de trabalhar e aprendi muito contracenando com ele", elogia Cauã.Em Amores Roubados não faltaram chances para que os laços se estreitassem mais. Com a maioria das cenas gravadas em Petrolina (PE) e Paulo Afonso (BA), o elenco passou um bom tempo imerso na atmosfera do sertão. Cauã, por exemplo, ficou 98 dias em função de Leandro.>
A história sobre o poder da paixão, escrita por George Moura, é adaptada do romance A Emparedada da Rua Nova, do pernambucano Carneiro Vilela (1846-1913). Nela, Leandro é um Don Juan, filho de uma ex-prostituta (Cassia Kis Magro), que retorna ao Sertão como um sommelier.Conquistador, se envolve sexualmente com duas mulheres casadas, Isabel (Patricia Pillar) e Celeste (Dira Paes), e vive uma paixão romantizada com Antonia (Isis Valverde), filha de Isabel e Jaime Favais, o dono da vinícola Vieira Braga vivido por Murilo."Leandro é filho de prostituta, criado por elas e, naturalmente, sabe o que as mulheres querem. Ele estuda cada uma antes de seduzir, é metódico", descreve Cauã, contando que se inspirou em um amigo para compreender a arte da sedução. "Ele é frio, não se apaixona. Sabe jogar o jogo, o momento certo de ligar. E fez de Leandro uma faculdade para mim".>
Sexo e Separação Mas, na trama de dez episódios dirigida por José Luiz Villamarim, Cauã aparece não somente em picantes cenas de sexo, mas em sequências de ação, com direito a tiros e carros em alta velocidade. A maior parte do tempo, sem dublê.>
"Estava há tanto tempo lá, que um dia estava de bobeira e pedi ao Zé para fazer a sequência da perseguição. Leva tiro, atira, bate. É outra energia, diferente das cenas de sexo, que são como um balé que a gente dançava. E todo mundo fala da Isis, mas as cenas com a Dira são muito mais quentes. Ela é a nossa Sonia Braga", opina.Pode não ter sido o romance mais picante em cena, mas o par formado com Isis foi o mais comentado fora dela. No meio das gravações, Cauã teve que lidar com notícias sobre um suposto caso extraconjugal com a atriz. Embora nunca tenha admitido, o ator confirmou ao GLOBO, recentemente, que está separado de Grazi Massafera.>
"Eu nunca vou deixar esse tipo de coisa interferir no meu trabalho e me destruir, cara. É o que amo, pô. É o amor pela profissão, o que construí. Todas as escolhas que fiz. Não foi fácil e não veio de graça", desabafa.Na minissérie, o prazer de Leandro em seduzir o leva ao perigo. Ao desconfiar de que está sendo traído, Jaime ordena que o rapaz seja morto. Para dar ao personagem a altivez necessária, Murilo usou botas com salto e deixou crescer a barba. O sotaque, conta, foi uma das partes mais difíceis no processo:>
"Ele habita um universo sombrio. É um cara que manda matar. É a lei. Na minha cabeça, esse cara tinha que ser, no mínimo, do tamanho dos outros. Toda a densidade permitida no horário a gente usou. Mergulhei numa loucura com verdade, porque tinha profundidade".DiferenteUm entusiasta da profissão, Murilo acredita na escolha de um caminho não pensado, no desejo de surpreender o público com algo diferente.>
"Um bom papel é sempre um bom papel. Mas quando você faz de um papel mediano algo surpreendente, é maravilhoso. Quando fiz Tufão, não havia risco. Apesar de terem me vendido o personagem como uma roubada, eu sabia o que estava fazendo", lembra Murilo, que não acredita que há atores melhores ou piores: "Há atores que não são atores, atores que se acostumam e atores que são mal dirigidos".Já em Amores Roubados, Murilo diz que a densidade do personagem é tamanha que o levou até a se questionar por que razão havia topado o convite de Villamarim.>
"Com Jaime fui por um caminho completamente diferente. Entrei num rumo desconhecido. Fiz uma composição, algo de que gosto, e me arrisquei em um campo novo. Morri de medo, mas saí vencedor porque fiz com verdade. E isso me deu satisfação", defende.Por isso, ao mesmo tempo que classifica o processo como "doloroso", Murilo, 41, diz que o trabalho o fez relembrar por que investiu na profissão, há 20 anos.>
"Quando entro para trabalhar, coloco um cinturão de briga. Tenho que mostrar por que há 20 anos faço milhões de coisas. Por causa dos riscos, dos acertos e dos erros que soube computar a meu favor. Por causa da maturidade que venho trazendo ao trabalho. Se não tivesse feito o Jaime da maneira que fiz, estaria me acovardando. É difícil, depois de tanto tempo de trabalho, se abrir para algo novo. Por isso, também, achei fascinante a presença de atores novos no elenco, eles trazem frescor ao set", analisa.ApavoranteDepois de tanto tempo na frente das câmeras, o ator gosta de comparar cada papel a um pulo de bungee jumping: após o salto, apavorante, chega a parte do voo, compensadora.>
"Há muito ator que não pula. Que chega num determinado momento da carreira e não quer se arriscar no precipício. E aí fica na mesmice ou fazendo algo para agradar ao público. Quanto mais você acerta, mais tem medo de errar. Mas eu estou na profissão enquanto me sentir artista. E fazer bem algo me faz sentir merecedor do que tenho", crê Murilo.A teoria é compartilhada por Cauã: "Eu pulo umas três vezes e ainda subo para pular de novo. É uma delícia esse friozinho na barriga, esse frisson".>
Após personagens bem-sucedidos em novelas como A Favorita, Passione e Cordel Encantado, respectivamente, Cauã afirma que tem "fome artística" e que, com 33 anos, está no momento de produzir e de aproveitar as oportunidades que surgem. Mas, segundo ele, as escolhas são todas pensadas."Já sabia que faria a minissérie O Caçador, mas aí, durante Avenida Brasil, Villamarim me avisou que Amores ia rolar. Liguei para a Globo e pedi para emendar. Eu tenho uma intuição viva, é natural. E acho que, após boas escolhas, passei a ser visto de forma diferente. Sinto que consegui sair do padrão, do lugar-comum", avalia ele, que começa a gravar a nova série amanhã.>
Por mais que Amores Roubados marque o retorno de Murilo e Cauã à dramaturgia após mais de um ano do fim de Avenida Brasil, a dupla garante que a espera não foi proposital. O único pedido de Cauã foi não emendar outra novela. Já Murilo queria se livrar logo do estigma que cerca a trama:>
"Por mim, eu apareceria na semana seguinte com um fracasso retumbante. Para acabar com essa história, esse mistério, a expectativa. Qualquer um que espere Adriana (Esteves) voltar com outra Carminha está redondamente enganado. Aquilo foi um acontecimento. Acabou. Mas as pessoas são ingênuas de esperar algo parecido. Adriana é uma grande atriz, mas falei: ‘Corre, vai fazer um fracasso. Porque a cada dia que passa, as pessoas cobram mais’".SemelhançasApesar do teor diferente, Amores Roubados guarda semelhanças com Avenida Brasil. Além dos atores, Villamarim dirigiu, junto com Amora Mautner, a novela de João Emanuel Carneiro. Aliás, a presença do diretor no projeto é motivo de orgulho para os dois atores.>
"Apesar de o Zé ter me dirigido pouco em Avenida, temos uma empatia grande e intimidade cênica. Detesto diretores e autores que têm sempre o mesmo elenco e acho que outros colegas têm que ter a oportunidade de trabalhar com ele", elogia Murilo.Para Cauã, a possibilidade de ter apenas um diretor durante todo o processo torna mais crível e mais intenso o arco dramático do personagem. "O diretor conhece você. Sabe de onde você veio, para onde vai, se precisa diminuir ou aumentar a intensidade da cena. Por todos esses detalhes, Amores foi o trabalho mais artesanal que fiz. Foi muito especial".>