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Roberto Midlej
Publicado em 8 de novembro de 2024 às 21:17
“Pedi demissão para viver do que gosto. Fiquei sem emprego e sem hobby”. Direto, curto e ácido: assim é o humor de Manhã Ortiz, soteropolitana de 46 anos que está lançando o livro Trago Verdades (Muda Studio | R$ 199 | 194 páginas), uma coletânea de cartuns criados por ela entre 2019 e 2024, intitulada Série Vermelha, em referência à cor que usa neste trabalho. >
Manhã, que tem graduação em artes cênicas e comunicação, além de um mestrado em filosofia, se reconhece com uma multiartista e cita outros que passaram por diversas artes, como Millôr Fernandes e Glauber Rocha. “Tenho ideias poéticas e as linguagens servem como uma ferramenta. Não temos obrigação de ser especialista. Sou poeta e artista de teatro, uma criadora nas mais diversas linguagens”, diz Manhã.>
A cartunista diz que sempre se interessou pelo haikai, um tipo de poema japonês que se caracteriza por ser muito conciso, bem no estilo dos textos que estão em Trago Verdades. “Comecei no cartum sem pretensão, porque acho que ele condensa minha forma de pensar e de falar, tenho esse jeito meio haikai. Costumo soltar frases assim e acho que ilustrar ajuda a somar ao texto”, explica.>
Quando estamos numa discussão mais quente e alguém tem dificuldade em entender algo supostamente óbvio que o outro tem a dizer, é comum um dos interlocutores perguntar: “quer que eu desenhe para você entender?”. “Quando me dei conta, estava fazendo cartuns. Quase diariamente, tinha ideias cômicas que tinham a ver com relacionamento e o sofrimento das mulheres no caldeirão machista. Pensei: ‘quer que eu explique para os homens se darem conta e para as mulheres se libertarem de papéis que nos escravizam’?”.>
Há um certo ceticismo nas ideias de Manhã: ela duvida dos homens, do capitalismo, dos relacionamentos, das relações de trabalho. Natural, afinal o humor é intrinsecamente crítico às instituições. Mas a cartunista garante ser uma “otimista incorrigível”: “Dizem que o ser humano piorou, mas não acho que seja verdade: a diferença é que agora estamos percebendo mais [os defeitos humanos]”. pondera.>
Segundo ela, sua arte é para deixar o humano mais “humano”: “Essa é a salvação da humanidade. Meu trabalho resgata sermos humanos. É para ver que a gente é absurdo, paradoxal, falha… que a gente deseja, mas, quando conquista, já não quer mais. É uma tentativa de humanização e isso é otimismo, porque é uma aposta de que o futuro da humanidade é se humanizar”. Ficou curioso? Compre o livro no site da editora (mudastudioeditora.com) e acompanhe o trabalho de Manhã no instagram dela (@manhaortiz).>