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Roberto Midlej
Publicado em 26 de julho de 2025 às 12:24
Você já imaginou se pudesse conhecer a época em que seus pais eram jovens? E se conhecesse seu próprio pai, será que ficaria amigo dele? Se você nunca pensou nisso, Bob Gale e Robert Zemeckis, roteiristas de 'De Volta Para o Futuro (1985)', pensaram. E, a partir dessas ideias, fizeram um dos filmes mais populares e divertidos de todos os tempos, que agora completa 40 anos desde seu lançamento nos cinemas dos EUA, em 3 de julho de 1985. >
Para a minha geração - tenho 48 anos -, as aventuras de Marty McFly são um marco responsável pela formação de uma geração de cinéfilos. Aliás, a Hollywood dos anos 1980 foi um prato cheio para formar apaixonados por cinema.>
Caso você ainda não conheça a história do filme, vai aí uma breve sinopse: Marty McFly (Michael J. Fox) é um adolescente que vive em 1985 e é amigo de Emmett Brown (Christopher Lloyd), um cientista que transforma um carro, o DeLorean, numa máquina do tempo. Por urgência, Marty precisa entrar no automóvel, que acidentalmente o leva para 1955, onde ele vai conhecer os pais. O problema é que a mãe dele, Lorraine, se apaixona pelo próprio filho. Agora, a missão de Marty será fazer o pai dele, George, conquistar sua mãe. Caso contrário, toda a família McFly não existirá em 1985.>
Resumida a história, voltemos ao cinema dos anos 1980, que foram fartos em clássicos: Gremlins (1984), Indiana Jones (1981), Curtindo a Vida Adoidado (1986), Clube dos Cinco (1985)... A lista é interminável, mas De Volta Para o Futuro é especial, porque, além de tratar do tema da viagem no tempo, que é um fetiche da humanidade, tem um pouco de tudo: é comédia, fantasia, ficção científica, romance, aventura…>
E o resultado é um filme perfeito. Sim, “perfeito” é uma palavra forte, exagerada e, muitas vezes, clichê. Mas quero deixar claro que quem se referiu assim ao clássico de 1985 foi ninguém menos que Quentin Tarantino, um dos maiores cineastas contemporâneos e, para alguns, um dos maiores da história. O criador de Pulp Fiction, em entrevista ao programa de Jimmy Kimmel, na TV americana, inclui outros seis longas na lista de filmes perfeitos: O Massacre da Serra Elétrica (1974); Tubarão (1975); O Exorcista (1973); Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977); O Jovem Frankenstein (1974) e Meu Ódio Será Sua Herança (1969).>
Ok, talvez Tarantino tenha usado o “perfeito” apenas como força de expressão, mas, sinceramente, poucos filmes conseguiram reunir tantos elementos fascinantes em menos de duas horas. Sim, ao contrário de muita produção pretensiosa contemporânea, De Volta Para o Futuro nos conquista em exatos 113 minutos! >
É incrível como tanta coisa acontece em menos de duas horas, em um roteiro que é uma aula de concisão e objetividade. Mas, apesar dessas características, Robert Zemeckis, que além de roteirista, é o diretor, jamais abre mão da emoção. Absolutamente tudo que acontece no filme tem um propósito: não há cenas desnecessárias, nada cansa e cada cena está “amarrada” a outra. >
Veja um exemplo de como tudo tem um propósito no filme. Num documentário sobre os bastidores de De Volta Para o Futuro, Zemeckis disse que Marty, em um determinado momento do roteiro, precisaria tocar guitarra. A solução para isso, portanto, foi começar o filme mostrando que Marty sabia tocar o instrumento e, depois, ele participa de um concurso de bandas. >
Outra demonstração de que nada é gratuito no filme: quando encontra a namorada numa praça, Marty anota o telefone dela num papel que reproduz um jornal antigo e o guarda no bolso. Mais à frente, este jornal servirá para ajudar Dr. Brown, em 1955, ajudar Marty a voltar para 1985. E tudo se encaixa de maneira muito natural, sem soluções fáceis ou artificiais para o roteiro. E, por isso, o filme flui de maneira tão fascinante.>
É claro que a dupla protagonista - Lloyd e Michael J. Fox - é essencial para o encanto do filme. Seguramente, De Volta Para o Futuro não seria o sucesso que foi se Eric Stoltz tivesse sido mantido no papel de Marty. O ator, embora talentoso, não entendeu o espírito do filme, nem de seu personagem. Ele não absorveu o tom cômico do roteiro e dava um tom meio soturno ao seu Marty, como se vê em algumas cenas que estão no YouTube. >
“Eu errei ao escolher Stoltz”, disse, sem meias-palavras, Robert Zemeckis, anos depois da estreia do filme. Na verdade, a primeira opção do diretor sempre foi Michael J. Fox, que não podia aceitar o papel porque estava se dedicando à série Caras e Caretas. A solução foi filmar à noite e de madrugada, para que Fox arrumasse espaço na agenda. O ator passou algumas semanas dormindo apenas por três ou quatro horas. E o sacrifício valeu! Hoje, não conseguimos imaginar ninguém melhor que ele no papel. E Christopher Lloyd criou um cientista caricato, de olhos esbugalhados, gestos exagerados, cabelos desgrenhados… e sobram maneirismos. Mas, ora essa, o filme é uma comédia, então o tom não poderia ser mais adequado. Novamente, pergunto: quem poderia se sair melhor que ele? Aqui, consigo vislumbrar só uma alternativa: Jack Nicholson.>
Depois da mudança de ator, a produção acabou atrasando muito e o filme só ficou pronto três meses antes da estreia. “Este filme arruinou o cronograma de pós-produção em Hollywood”, reconhece Bob Gale. Para complicar ainda mais, Gale e Zemeckis estavam inseguros, porque eles vinham de dois fracassos de público: Carros Usados (1980) e Febre da Juventude (1978). Outro motivo para deixar a dupla mais tensa: o roteiro estava pronto desde 1981 e nenhum estúdio havia se interessado em filmar. Só a Universal topou a empreitada, depois que Steven Spielberg, amigo da dupla, deu aval ao projeto.>
Mas o retorno foi incrível: o filme, que custou 19 milhões de dólares, arrecadou 223 milhões de dólares nas bilheterias de todo o mundo. Gerou ainda duas sequências - ambas muito boas, ainda que inferiores ao original -, uma série animada e uma infinidade de itens que até hoje são vendidos: Playmobil, Lego, camisetas, carrinhos, livros, HQs…>
Se é o melhor filme de todos os tempos? De acordo com as listas feitas por críticos, certamente, não é. Talvez não apareça nem entre os cem maiores da história do cinema. Mas é preciso separar as coisas: há filmes que reconhecemos como obras-primas que foram fundamentais para a evolução do cinema e foram revolucionárias, responsáveis por criar a linguagem cinematográfica. >
É o caso de criações do cineasta D.W. Griffith, como Intolerância e Nascimento de Uma Nação. Ou o expressionismo alemão, que rendeu Nosferatu. Tem ainda Cidadão Kane, de Orson Welles, que frequentemente lidera a lista de maiores da história, pelas inovações que propôs em sua época. Todos esses, reconheço, foram geniais. Mas, paralelamente, tenho a minha lista de filmes que marcaram a minha vida por questões afetivas e que foram essenciais para a minha paixão pelo cinema. E De Volta Para o Futuro está lá, no topo. E ninguém o ameaça. Como diz aquele meme de Martin Scorsese, “absolute cinema!”.>
Cine Horror: Oficina com cineasta pernambucano aborda como fazer filmes de terror com baixo orçamento >
Estão abertas as inscrições para a oficina ‘Como Produzir Filmes de Terror de Baixo Orçamento’, que será realizada entre os dias 28 e 30 de julho, na Sala Braile, da Biblioteca Central do Estado da Bahia, nos Barris. A oficina, que integra a programação do Cine Horror, será ministrada pelo cineasta pernambucano Lula Magalhães.>
Especialista na produção de filmes do gênero terror e fantasia de baixo orçamento, Lula Magalhães estreou no cinema de horror com o filme “Mandala Night Club”, uma história visceral sobre um serial-killer que se envolvia de forma violenta com garotas de programa.>
Já participou de importantes festivais do gênero como Fantaspoa, Cine Fantasy, Festival POE de Cinema Fantástico, Crash, Cine de Bordas do Itaú Cultural e outros como Cine Jardim e Recifest. Dirigiu a fotografia dos filmes “Solitude e outros Poemas”, “Um Drink para a Imortalidade”, “Suprema” e “Inspetor Gallo e o rapto da Garota de Sanja City”. >
Sobre o Cine Horror>
O Cine Horror é destinado à exibição, difusão e discussão do cinema fantástico.>
No festival são apresentados filmes que não estão disponíveis nos streamings e nem em ampla distribuição pelo circuito comercial. A programação inclui longa-metragens e curta-metragens contemporâneos de países do mundo inteiro, negociados para exibição única ao público baiano durante os dias do evento. >
SERVIÇO:>
Mostra Cine Horror>
Oficina ‘Como Produzir Filmes de Terror de Baixo Orçamento’>
28 a 30 de julho – 14:00>
Sala Braile – Biblioteca Central dos Barris>
Inscrições gratuitas no link – www.cinehorror.com.br>