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Gabriela Cruz
Publicado em 17 de agosto de 2025 às 11:11
Em junho, completei 50 anos. Não sei se foi pelo peso simbólico da data ou se foi apenas o momento em que decidi prestar mais atenção, mas percebi mudanças que talvez já estivessem acontecendo há algum tempo na minha maneira de pensar e na forma como me coloco no mundo. Me senti mais inteligente, mais criativa, mais serena. Descobri que consigo olhar para um problema como um todo e encontrar caminhos que antes pareciam invisíveis. Ao mesmo tempo, notei a pele com uma textura diferente e uma leve perda de agilidade em certos movimentos — algo que depois entendi não ter a ver com a idade, mas sim com a falta de condicionamento físico, que já estou tratando de resolver.>
Essas percepções me fizeram pensar sobre como a sociedade olha para as mulheres que chegam aos 50. O IBGE aponta que 64% das brasileiras acima dessa idade enfrentam dificuldade de se recolocar profissionalmente. O dado se agrava quando falamos de negras e periféricas, o que revela que o etarismo não vem sozinho: ele caminha de mãos dadas com o racismo e com as desigualdades econômicas. E, muitas vezes, não é só uma questão de procurar emprego — é enfrentar um sistema que insiste em desvalorizar a experiência e a trajetória de vida de quem já construiu tanto.>
Penso também nas mulheres que, ao longo da vida, colocaram a família em primeiro lugar, cuidaram de filhos, casa, parentes, e só agora sentem o desejo ou a necessidade de iniciar uma carreira ou empreender. Para elas, a barreira é ainda mais alta. Além dos desafios naturais de quem muda de área ou começa do zero, há o peso do preconceito. E esse preconceito, infelizmente, pode vir de fora e, também, de dentro, em forma de autossabotagem, fruto de uma vida inteira ouvindo que “já passou a hora” ou que “não é mais possível”.>
E como se não bastasse, ainda existe a pressão estética — um conjunto de expectativas que força a mulher a se manter “jovem” a qualquer custo. Isso pode significar pintar os cabelos para esconder os fios brancos, investir em procedimentos estéticos (quando há recursos), vigiar o corpo para evitar engordar ou para manter o tônus muscular. É uma luta cara, cansativa e, muitas vezes, cruel. Uma corrida contra o tempo que não deveria existir.>
Entre as mulheres que transformam o envelhecer em potência está a baiana Wladia Góes. Ligada à moda – ela criou a marca 220 Voltz -, encontrou novos interesses na pandemia e hoje, a caminho dos 50 anos, se tornou uma voz nacional ao falar sobre beleza, bem-estar e um tema que ainda é tabu para muitas mulheres: o climatério - período que abrange o antes, o durante e o depois da menopausa, marcado por alterações hormonais, ondas de calor, mudanças no sono e variações de humor. Ao sentir os sintomas dessa transição, Wladia criou o quadro “Climatério é Você”, no qual aborda o assunto com humor, mas sem deixar de provocar reflexões necessárias. Em setembro, ela realiza um evento sobre o tema que promete movimentar Salvador — e que, claro, vai aparecer por aqui. >
Em meio a títulos como CEO ou presidente, cada vez mais pessoas acrescentam um termo que até pouco tempo atrás ficava restrito ao universo da moda, da publicidade e do design: diretor criativo. Se antes esse cargo parecia ligado apenas a campanhas publicitárias ou coleções de moda, agora aparece em empresas que vão de tecnologia a gastronomia. A função vai além de cuidar da estética: envolve traduzir conceitos e valores em experiências, narrativas e imagens coerentes com a visão de quem lidera a marca. É como se o “fundador” dissesse: “Eu também sou a pessoa que garante que a alma dessa empresa apareça para o mundo”.>
Outro título que me chama atenção — e que, nesse caso, foi praticamente criado por um brasileiro — é o de diretor de movimento. Jorge Dorsinville, que já integrou o balé de Daniela Mercury e atuou no teatro, hoje mora em Nova York e é pioneiro nesse ofício. Ele cria sequências de movimentos que servem de guia para campanhas de moda e beleza. Personagens — que podem ser modelos, mas também atrizes, cantoras ou artistas de outras áreas — reproduzem sua coreografia diante das câmeras. Jorge já trabalhou com marcas como Balmain, Revlon, Lâncome, dirigindo nomes como Kristen Bell, Isabella Rossellini e Amanda Seyfried, Chloe Fineman e Ashley Graham.>
E, nessa energia da criatividade, quem vem se jogando como poucos — e servindo de exemplo do que é possível se tornar — é Pharrell Williams. Hoje a gente o chama simplesmente de “criativo”, porque definir exatamente o que faz é quase impossível. Pharrell acaba de lançar uma plataforma que mistura música, moda, design e conexões - eventos, lançamentos de produtos, músicas e colaborações. O “mundo ilimitado de Virginia”, como ele define, começa oferecendo roupas, moda praia, acessórios e itens para casa, tudo embalado por uma comunicação visual divertida. Para conhecer, visite blackyachtrock.com.>