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Luiza Gonçalves
Publicado em 4 de junho de 2025 às 08:00
Pela primeira vez em Salvador, a SOM Cia de Dança (RJ) apresenta o espetáculo de arte surda Movimento de Escuta, que reúne, sob a direção de Clara Kutner, os dançarinos e intérpretes-criadores Alef Felipe, Lucas Guilherme, Luiz Augusto, Thayssa Araújo e Thaís Souza, em uma performance de dança e atuação integralmente em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), para público surdo e ouvinte. A montagem estreia amanhã (05), às 19h, no Teatro do Goethe-Institut Salvador e segue com sessões nos dias 6 e 7 de junho. A entrada é gratuita, sujeita à lotação do espaço. >
“Estamos muito felizes de chegar em Salvador. É a nossa terceira temporada agora, deste ano. A gente foi para Curitiba, fizemos o Rio, agora nessa cidade incrível, de muita arte e muita beleza. Tenho certeza de que vai ser uma temporada linda”, afirma a diretora do espetáculo, Clara Kutner.>
Atuante em televisão, teatro, música e dança, Kutner iniciou a cia SOM em 2018 já com os dançarinos atuais, aproximando-se da arte surda a partir de oficinas e vídeo-performances desenvolvidas em parceria com os artistas surdos Bruno Ramos e Ricardo Boaretto. Em 2023, desenvolveu o primeiro espetáculo da companhia, Movimento de Escuta: “Já estava trabalhando com essa ideia de escuta, desde que eu comecei a trabalhar com artistas surdos. A ideia é, justamente, propor uma experiência de interlocução e comunicação. Pensar na escuta como uma resposta ao lugar de fala”, define Kutner.>
A peça propõe a imersão na escuta visual partindo de seis palavras-chave: concordo, discordo, sim, não, amo, odeio, que abrem e fecham os atos. “Aproximar as pessoas e pensar sobre a possibilidade de se comunicar, de se escutar, independente de ser uma escuta visual ou uma escuta gestual”, pontua. Na narrativa, são exploradas as vivências cotidianas dos bailarinos no Rio de Janeiro, unindo-as a elementos culturais como funk, presente em três coreografias de Celly I.D.D., poesia surda e slam. O espetáculo é todo falado em Libras e sem tradução simultânea, decisão proposital defendida pela diretora:>
“Isso acabou sendo uma provocação. A gente deixa o texto do espetáculo disponível para os ouvintes antes da apresentação e depois, mas, ao mesmo tempo, eu acho importante também os ouvintes se colocarem nesse lugar de falta de comunicação que as pessoas surdas passam. Então, é acessível para todos; ao mesmo tempo, os ouvintes são provocados a pensar sobre essa relação com a língua, que não é a língua dos ouvintes”.>
Oficina>
Antes da estreia de Movimento de Escuta na quinta-feira, será realizada a oficina Mergulho em Dança e Arte Surda, ministrada por Clara Kutner e pela Cia SOM, às 14h, também no Goethe-Institut. Com inscrição gratuita, a oficina é voltada para pessoas surdas e ouvintes, com foco na vibração como facilitadora da dança.>
“Em Movimento de Escuta, a vibração é fundamental. A gente trabalha com os graves muito altos, para os bailarinos poderem sentir a vibração. Sempre que fazemos a passagem de som do espetáculo, os bailarinos sinalizam se precisamos que suba um pouco, abaixe, e a gente precisa fazer esse trabalho sempre no espetáculo. E também, no primeiro trabalho que eu fiz, O Som: Uma Coreografia para Surdos, eu construí uma plataforma vibratória. Ela é, sem dúvida, fundamental para os bailarinos”, explica Kutner.>
A oficina abordará improvisação em dança flamenca, funk e passinho, estudo rítmico e percepção melódica, dança com LIBRAS e Visual Vernacular. A inscrição será pelo e-mail: [email protected]. Os selecionados serão informados por e-mail.>
SERVIÇO: Estreia espetáculo ‘Movimento de Escuta’ I Amanhã (05), às 19h, no Teatro do Goethe-Institut Salvador I Entrada gratuita sujeita a lotação >