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Ana Pereira
Publicado em 26 de agosto de 2023 às 07:16
Conselhos que João Gilberto (1931-2019) costumava dar a sua filha Bebel: “Lembre-se sempre de que menos é mais”; “Não exagere. Observe os espaços, observe o tempo. E, tanto quanto você puder, tente apreciar a música, e não apenas tocá-la”. Pois bem, foi exatamente isso que a carioca fez em João, álbum-tributo lançado mundialmente na sexta-feira (25) pela gravadora Pias. Da escolha do nome ao repertório, passando pelos arranjos e sobretudo na forma de cantar, ela apostou na singeleza e no afeto. >
“Este álbum é como uma carta de amor”, resume Bebel em conversa telefônica de Nova York, onde mora e onde o trabalho foi idealizado e gravado. Ela conta que começou a pensar no trabalho já há algum tempo, mexida por questões delicadas, como a interdição judicial de João Gilberto pedida por ela nos últimos anos de sua vida e as mortes de sua mãe (a cantora Miúcha, em dezembro de 2018) e de seu pai em pouco mais de seis meses.>
Já reinstalada em Nova York após uma temporada no Brasil, ela foi “pesquisar” a obra de João, ouvir tudo com carinho e atenção, para escolher as onze canções do repertório. “Meu objetivo era fazer a minha homenagem”, reforça Bebel, que nunca tinha gravado nenhuma das músicas – entre as quais estão clássicos como Eu Vim da Bahia (Gilberto Gil), Ela é Carioca (Antonio Carlos Jobim & Vinicius De Moraes), Desafinado (Antonio Carlos Jobim & Newton Ferreira De Mendonça) e O Pato (Jaime Silva & Neuza Teixeira).>
“Eu pressentia que só conseguiria fazer isso quando meu pai não estivesse mais por perto. Agora pode ser do meu jeito, com covers de músicas que nunca pensei que faria. Pela primeira vez, estou interpretando as músicas dele e revelando como elas realmente me marcaram. São canções que ouvi durante toda a minha infância, então foi uma escolha de repertório afetiva, não me prendi somente aos clássicos”, afirma. >
Entre as não clássicas, estão duas do próprio João Gilberto: Undiú, uma espécie de canção de ninar feita pra Bebel e Valsa, ambas sem letra e que ganharam vocalizes delicados. Ambas são do álbum João Gilberto (1973), conhecido como Álbum Branco, um dos que mais influenciou Bebel. O outro foi Amoroso (1977). >
Produzido pelo pianista americano Thomas Bartlett, João se concentra na voz de Bebel, no violão de Guilherme Monteiro e nas percussões –com destaque para o primo-sobrinho Chico Brown, que também toca bateria e assina os efeitos eletrônicos. Sobre o violonista, Bebel conta que escolheu Guilherme por “ele ser um grande amigo e fã do papai”. “Ele foi incrível, me ajudou a organizar os pensamentos e nunca repetir os acordes, sendo sempre criativo como papai era na escolha dos acordes”.>
No dia 10 de agosto , Bebel estreou a turnê de lançamento em Nova York e fará cerca de 30 shows, até o final do ano, em outras cidades dos EUA, Canadá e Europa. E, se depender dela, virá ao Brasil e quiçá, à Bahia. “Vamos ver, depende das possibilidades”, diz a cantora.>