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Da Redação
Publicado em 23 de março de 2014 às 11:35
- Atualizado há 2 anos
Se depender da vontade de Ângelo Antônio, o ator vai continuar exibindo a careca - mantida nos últimos meses por conta conta do monge budista Tenpa, de Joia Rara - mesmo após o fim da novela das 18h da Globo, no dia 4.“Cortar o cabelo foi um libertação de vários egos e preocupações com a estética. As entradas já tinham começado a aparecer e eu ficava disfarçando. Quando tirei o cabelo, acabou o problema. Fiquei livre!”, conta, aliviado.No ar também como o policial Germano da série A Teia - gravada no ano passado -, Ângelo acha curioso ver dois de seus trabalhos inéditos, com personagens “aparentemente opostos”, sendo mostrados ao mesmo na Globo. Enquanto na trama de Duca Rachid e Thelma Guedes ele interpreta um homem sensível, no seriado escrito por Carolina Kotscho e Bráulio Mantovani, que terá o último episódio no exibido no dia 1º, o ator surge violento e armado.Foto: Camila Maia/Ag. O Globo“Tenho essas duas forças em mim, os dois lados. Ângelo é anjo. Antônio é guerreiro. Meu signo é Gêmeos”, relaciona o ator, que chegou a ser campeão de tiro na época em que serviu o Exército: “Sei pegar em arma, sou bom de tiro e já matei muito passarinho com chumbinho na infância. Conheço esse tipo de cara que faço na série. Durante as filmagens, eu fumei muito, queria essa energia para o Germano”.Mineiro da cidade de Curvelo, Ângelo está em atividade na TV desde que estreou em novelas com o peão Alcides em Pantanal (1990), da extinta Manchete. “Foi a Cássia Kis, que tinha me visto no teatro, quem me indicou para fazer um outro espetáculo e a novela”, lembra.Antes de se tornar ator profissional, ele já quis ser jogador de futebol (“Jogava bola na rua como qualquer criança do interior”) e ganhou a vida como DJ. “Adorava tocar MPB nas festas, mas também gostava de Kraftwerk, que era incomum para a época lá em Curvelo. Os outros só tocavam as músicas internacionais de sucesso”, compara o ator, que estreou na Globo na minissérie Engraçadinha, de 1995.O equipamento de som ele vendeu quando foi para São Paulo estudar teatro, em 1983. Na época, ficou por seis meses envolvido em testes e ensaios do Centro de Pesquisa Teatro (CPT), do diretor Antunes Filho. “Eu não conhecia ninguém e demorei quase uma semana só para achar o CPT. Essa é uma história longa e profunda. Passei por muitas dificuldades naquele período”, resume o Ângelo, que viveu um tempo no CRUSP, moradia da USP.BudismoCom Antunes, ele não chegou a estrear nenhum espetáculo na época. O ator logo transferiu-se para a EAD (Escola de Arte Dramática na USP) e participou ainda do grupo Boi Voador, do diretor Ulisses Cruz, que considera “sua grande escola”. Mas foi no CPT que ele passou a se interessar pela filosofia budista.“O Antunes falava sobre o assunto e citava autores e livros como Tao: O Curso do Rio, do Alan Watts (filósofo). Isso sempre me interessou e foi uma referência. Resgatei esse tipo de leitura agora com Joia Rara.Ao longo da carreira, Ângelo, que cresceu numa família de formação Católica, teve seu trabalho ligado a diferentes religiões. Ele foi protagonista de Chico Xavier - O Filme, longa de temática espírita que vendeu 3,4 milhões de ingressos nos cinemas em 2010 antes de ser exibido em formato de minissérie pela Globo, em 2011.“Já nasci com a questão espiritual colocada. Quando fui para o teatro comecei a questionar a minha própria espiritualidade, as minhas raízes do interior de Minas. Hoje eu valorizo tudo o que o budismo me trouxe. Isso tudo me ajudar a ser um cristão melhor”, afirma, sem se considerar budista praticante.Vegetariano há mais de 15 anos (“Já matei muito passarinho, chega de fazer parte da violência contra os bichos”), adepto de ioga, ele conta que os estudos sobre a filosofia zen contribuíram e muito em todos os aspectos de sua vida. Inclusive no trabalho.“O que o budismo tem a ver com isso? A respiração, a consciência corporal, estar realmente presente no momento presente. Agora estou inteiro aqui nesta conversa. Dalai Lama fala que a gente tem uma grande facilidade de se dispersar. Vemos isso o tempo inteiro. As pessoas nunca estão 100% focadas, concentradas. Você lê o jornal enquanto come e fala ao telefone”, diz ele, evitando atender o celular que toca durante a entrevista.O interesse de Ângelo pelos ensinamentos budistas já o levou até o Sul da França. Ele enfrentou horas dentro de um avião somente para encontrar o mestre Thich Nhat Hanh.“Dizem que é diferente quando você vê um homem pleno. Eu queria só olhar para ele. E vi um homem simples. Fiquei três dias no mosteiro”, recorda a viagem, realizada há 15 anos. Com trânsito livre entre o teatro, o cinema (onde protagonizou outros sucessos como 2 Filhos de Francisco, de 2005) e a TV (fez mais de dez novelas), Ângelo revela não se sentir totalmente seguro na profissão. “Sofro a cada cena. Sempre acho que poderia ter sido melhor. E aprendi que não vai mudar. Talvez um dia eu consiga sofrer menos, deixar ir embora o que já foi feito. Tô aprendendo. Tenho que ter a consciência de que fiz o melhor que poderia. Hoje aprendo muito com a Mel Maia (atriz-mirim que faz a Pérola, de Joia Rara). Ela interpreta de forma intensa em cena, mas depois da gravação já está brincando”.Energia sexualPai de Clara, de 20 anos, do relacionamento com a atriz Letícia Sabatella, Ângelo afirma ser parecido com a filha. “Temos uma relação profunda, apesar de às vezes estarmos longe um do outro. A gente se parece muito. Mando um ‘oi’ para ela hoje. Três dias depois ela responde apenas com outro ‘oi’”, relata, mostrando uma troca de mensagens com a filha feita através do aplicativo WhatsApp.O ator, que chega para a entrevista com o livro Kafka à Beira-Mar, do japonês Haruki Murakami - que centra sua narrativa na busca de dois personagens pelo autoconhecimento -, faz 50 anos em junho. “Agora tenho que aprender a envelhecer, né? Sem dor, de preferência. Hoje eu já começo a pensar nisso. Aprender a envelhecer é uma grande escola. Tudo é muito rápido, transitório”.Solteiro, Ângelo faz graça da própria condição: “Tô monge, solteiro há bastante tempo. E tô tranquilo, sem ansiedade - afirma, dizendo que a energia sexual ‘está sempre aí’. “Na hora em que alguém estimular ela vai aparecer”.Um novo casamento não é descartado. “O que tiver que acontecer vai acontecer”.>