CINEMA

'Ferrari' mantém tensão nas pistas e fora delas

Filme de Michael Mann retrata vida pessoal e empresarial de Enzo Ferrari, fundador da mítica equipe de Fórmula Um

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  • Roberto Midlej

Publicado em 22 de fevereiro de 2024 às 06:00

Adam Driver é Enzo Ferrari
Adam Driver é Enzo Ferrari Crédito: divulgação

O diretor americano Michael Mann, 81 anos, começou realizando filmes e séries para TV e só aos 49 anos, com O Último dos Moicanos (1992), seu nome se popularizou. Hoje, é reconhecido até como um cineasta mais “autoral” que a maioria de seus colegas conterrâneos, mesmo atuando especialmente no cinema de ação e policial, o que raramente dá espaço a uma “autoralidade” tão marcante como o diretor consegue atingir.

Mann conseguiu outro feito raro: com frequência, agrada público e crítica, em filmes como Fogo Contra Fogo (1995) e Colateral (2004). Às vezes, não acerta tudo, mas também não faz feio, como em Miami Vice (2006) ou Inimigos Públicos (2009). Mas, mesmo com a atenção voltada principalmente para cenas de ação, Mann sempre está atento a questões dramáticas que envolvem seus personagens, o que é um grande diferencial.

E em Ferrari, que estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas, não é diferente: ainda que seja um filme voltado para o universo automobilístico e tenha muitas cenas de corrida - muito emocionantes, diga-se -, o diretor está sempre atento às questões psicológicas que envolvem seus personagens, especialmente os homens.

E aqui o foco é Enzo Ferrari (1898-1988), fundador da fábrica de automóveis e da mítica escuderia que leva seu sobrenome, interpretado por Adam Driver (História de um Casamento e Star Wars). O filme centra-se num período específico da vida dele, no final dos anos 1950, poucos meses após a morte do filho Dino, aos 24 anos, para uma grave doença.

Se o casamento de Enzo com Laura (Penélope Cruz) já ia mal, a morte do rapaz afeta ainda mais a relação entre os dois e prejudica os negócios, já que o casal é também sócio na empresa. Não bastasse isso, Enzo mantém um relacionamento extraconjugal e tem um filho fora do casamento, Piero, que mantém em segredo.

O inferno astral dele não para por aí: numa época em que as condições de segurança no automobilismo eram precaríssimas, Enzo é frequentemente acusado pela imprensa de ser responsável por acidentes que resultam na morte de pilotos.

E é inacreditável que as pessoas aceitassem dirigir naquelas condições absurdas, o que, diga-se, não era apenas na Ferrari. O que leva um ser humano a aceitar pilotar numa época em que até dez ou 15 profissionais morriam em um ano em diversas categorias? Só mesmo a obsessão masculina, que leva o homem a desafiar a morte.

E é a obsessão que move Enzo, da mesma maneira que ocorre com outros personagens da filmografia de Mann. Perfeccionista e obcecado por vencer, o empresário é autoritário e, às vezes, inescrupuloso e irresponsável. Gere a empresa e trata os funcionários de uma maneira que jamais seria aceita hoje.

O brasileiro Gabriel Leone interpreta um piloto espanhol
O brasileiro Gabriel Leone interpreta um piloto espanhol Crédito: divulgação

Mann acerta novamente no equilíbrio entre o drama e a ação, como é característico em seus longas. E a tensão não está só nas pistas, como no grande clímax do filme, que é a corrida de Mil Milhas. Ela está muito presente também nas relações de Enzo com a esposa Laura e a amante Lina (Shailene Woodley).

O elenco, aliás, tem muito boa performance e é curioso - além de injusto - que nenhum dos atores nem atrizes tenha levado uma indicação ao Oscar. Até porque o filme tem a “cara” da Academia. E atenção ao brasileiro Gabriel Leone, que tem certo destaque como um dos pilotos e está apostando numa carreira internacional.

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