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Roberto Midlej
Publicado em 3 de agosto de 2025 às 12:57
Gravado por Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Maria Rita e importantes nomes da música brasileira, o carioca Arlindo Cruz é autor - ou coautor - de mais de 750 músicas que já renderam mais de 1,8 mil gravações. Entre os sucessos de sua autoria, estão Só no Sapatinho, que se tornou febre nos anos 1990, e Só Pra Contrariar. Revelado pelo grupo Fundo de Quintal, que passou a integrar em 1981, Arlindo firmou-se como um dos maiores compositores de samba do país e em 1993 lançou-se numa bem sucedida carreira solo. Agora, a vida do músico é tema do livro Arlindo Cruz, o Sambista Perfeito (Ed. Malê/ R$ 85/ 492 págs.), de Marcos Salles. >
Vítima de um AVC em 2017, Arlindo hoje está em estado vegetativo, sob os cuidados da família, em uma terrível agonia que o deixa entre o ‘home care’ e os hospitais. Ainda na semana passada, Babi Cruz, esposa dele, teve que desmentir mais uma onda de boatos sobre a morte do músico.>
No livro, Marcos Salles vai até a infância do cantor para falar das origens do artista e da relação da família com a música. “Conto desde a história da avó dele, Flora, que era pianista. Então DNA da música vem de lá. Tanto que o pai, também chamado Arlindo, era músico e chegou a tocar com Candeia”, lembra Marcos.>
Escrito em linguagem muito informal, o livro tem a mesmo descontração das rodas de samba que Arlindo comandava. Isso, graças à intimidade que o autor tem com o universo do samba: Marcos já escreveu a biografia do Fundo de Quintal e já prepara livros sobre Jovelina Pérola Negra, Almir Guineto e Sombrinha. Não bastasse isso, ele também é percussionista, tendo tocado com Zeca Pagodinho.>
“Me perguntam se fiz pesquisa para o livro, mas não faço pesquisa porque convivo com todos esses sambistas. Virei amigo deles em 1981, quando fui ao [bloco de Carnaval] Cacique de Ramos pela primeira vez. Então, sei o caminho que sigo”, diz o escritor. >
Logo no início do livro, Marcos relembra os dias que antecederam o AVC, quando Arlindo tinha uma agenda cheia e se apresentaria em Salvador, na programação de 50 anos do Teatro Castro Alves, num domingo, 19 de março de 2017. O AVC aconteceu dois dias antes, na sexta-feira. “Arlindo ia homenagear Zeca Pagodinho no show, que possivelmente renderia uma turnê. O ensaio estava muito bonito!”, lembra Marcos. A solução foi chamar Diogo Nogueira para substituir Arlindo.>
O cantor e compositor, que tinha 58 anos na época do AVC, tinha outro projeto que estreitava suas relações com a Bahia: gravar um disco somente com canções de Caetano Veloso, produzido pelo selo de Maria Bethânia, o Quitanda. Salles conversou com a cantora, que falou sobre os planos que tinha para o álbum com as canções do irmão.>
Bethânia diz que teve uma conversa longa com Arlindo quando esteve numa turnê com ele, pelo Prêmio da Música, em 2015: “Ele esteve em meu camarim e conversou profundamente comigo, porque estava preparando um disco e queria que eu produzisse na Quitanda, meu selo, com canções de Caetano. Era uma obra-prima o que ele estava criando e tudo que me mostrou era deslumbrante. Uma visão dele sobre a obra de Caetano”. No total, foram entrevistadas cerca de 120 pessoas, incluindo Zeca Pagodinho, Maria Rita, Regina Casé e familiares de Arlindo.>
Entre os que falam de suas lembranças com Arlindo, estão os seus incontáveis afilhados. E o adjetivo “incontável” aqui tem todo o sentido, porque não é possível dizer com precisão quantas pessoas ele batizou ou “adotou” como afilhados. Esses depoimentos estão no fim do livro, num capítulo de tom muito afetivo, que Marcos Salles chama de “Saideira”. Contando compadres e afilhados, são mais de 20 depoimentos no livro, além de muitos que ficaram de fora, segundo o autor. “Isso dá uma dimensão do quanto ele era querido pelas pessoas e como ele era encantador, como estava sempre sorrindo, brincando”, diz Salles.>
Tem presença baiana na Flip>
A jornalista soteropolitana Juliana Protásio lançou nesta sexta-feira (1), na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), o livro 20 e Poucos Contos Para Se Distrair no Fim do Mundo, que marca a estreia dela em um livro individual. Segundo a autora, “a obra apresenta uma série de narrativas curtas vivenciadas mulheres essencialmente insubmissas com trajetórias de vida inusitadas”. O livro, selecionado na chamada do selo Escritoras Brasileiras da Editora Polifonia, tem histórias protagonizados por mulheres que estão fora dos ideais de docilidade, obediência e outras romantizações associadas ao feminino. Assim, Protásio constrói heroínas que fogem dos clichês de força e resiliência femininas. “Foram anos em que deixei a ficção de lado para contar histórias que não eram minhas. Até que chegou o momento de as personagens que me habitam — ou que brotaram de repente, como topadas na calçada — saltarem para fora de minha mente com suas travessuras”, revela a escritora. Formada em jornalismo pela Ufba, Juliana mora em São Paulo há 15 anos, onde se tornou ghostwriter e redatora corporativa. A publicação está em pré-venda no site da Editora Polifonia, por R$ 55.>
Ódio gratuito ao 'Aberto ao Público'>
As redes sociais são tão prolíficas em ódio, que agora até um ingênuo - e divertido - programa de humor virou objeto de ‘hate’ recentemente. Aberto ao Público, que estreou no dia 6 de julho na Globo e é exibido após o Fantástico, é um bom programa para encerrar o tédio que marca o domingo e se preparar para a ressaca da segunda-feira. Criado por Maurício Meirelles e Patrícia Pedrosa, a produção é gravada num teatro e tem participação direta do público nas brincadeiras. Numa delas, o objetivo é fazer uma pergunta melindrosa a uma celebridade convidada e deixá-la em ‘saia justa’. Se a celebridade se recusar a responder, o autor da pergunta ganha R$ 50. Numa delas, um rapaz perguntou a Marcos Pasquim com quem o ator já tinha se envolvido, mas ninguém sabia. Pasquim preferiu não responder e o jovem embolsou o dinheiro. Num outro quadro, já tradicional no YouTube, Maurício Meirelles ‘sequestra’ o celular do convidado e invade as redes sociais do dono do aparelho. Aí, fala as maiores atrocidades, passando-se pelo titular da linha telefônica. Graças à criatividade de Maurício, é diversão das boas. A Globo, é verdade, já teve melhores opções no humor. Mas o programa está longe de ser esse desastre que pintaram nas redes sociais. O problema é que agora é tudo assim: é amor ou ódio. E odiar virou moda, porque, infelizmente, rende cliques e ‘engaja’.>