Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Doris Miranda
Publicado em 29 de abril de 2025 às 06:00
Considerado por muita gente como um dos maiores quadrinhos já lançados, a ficção científica argentina O Eternauta tem provocado muita expectativa desde que a Netflix anunciou a adaptação em seis capítulos da trama criada por Héctor Oesterheld, com desenhos de Francisco López. A série estreia nesta quarta (30) na plataforma. >
O trabalho da dupla conquistou o público logo de cara, desde os primeiros rascunhos na revista Hora Cero Semanal, lançada entre 1957 e 1959. Mais duas versões futuras complementam essa história com ingredientes narrativos brilhantes, personagens marcantes, com direito a viagem no tempo e uma intensa luta por sobrevivência após a invasão de alienígenas, que instauram a ditadura do terror.>
O argumento, muito familiar no cenário de diversas ditaduras militares que assolaram a América do Sul, teve ampla recepção entre os leitores latino-americanos. Entre eles, o ator Ricardo Darín, 68, que estrela a produção, revelando grande empatia pelos sentimentos de seu personagem, Juan Salvo, um dos que sobrevivem a uma misteriosa nevasca, que deixa mortos todos que os que entram em contato físico com ela. Acontece que a neve tóxica é só o primeiro passo para instalação do novo regime - e essa informação não é spoiler, não.>
As reações do personagem de Darín têm muito de Oesterheld, crítico ferrenho aos golpes de estado que marcaram o cotidiano dos vizinhos argentinos. A vida desse geólogo de formação foi marcada por afiadas críticas sociais e foi perseguido por quem estava no poder em seu país. Sequestrado pelas Forças Armadas da Ditadura Argentina no final dos anos 1970, junto com suas filhas, nunca mais foi encontrado.>
Logo, os sobreviventes percebem que só permanecerão vivos enquanto estiverem juntos - e, juntos, lutarem. É a aplicação na prática do conceito do Herói Coletivo e a possibilidade de investigar o comportamento humano em momentos decisivos em que a moral pode ser facilmente questionada.>
Para quem leu a obra de Oesterheld sabe que muitas críticas em relação ao regime ditatorial foram feitas em suas obras, principalmente em O Eternauta. Inclusive o escritor, logo após seu sumiço, virou um símbolo de luta contra a ditadura. Trazendo a história atemporal desse quadrinho para os dias atuais, muitos paralelos estão aí, postos. >
“Achei os personagens da série muito interessantes e considero que eles provavelmente vão gerar empatia no público, porque, no fim das contas, são pessoas comuns, gente normal, como a gente costuma dizer. É uma forma de mostrar o que poderia acontecer com qualquer um de nós numa situação parecida. Eles não são super-heróis, não são figuras extraordinárias. São pessoas com seus próprios problemas, seus conflitos, colocadas numa situação que não é só extrema, mas também totalmente inesperada. A gente nunca está realmente preparado para esse tipo de coisa”, diz Darín.>
A produção, dirigida por Bruno Stagnaro, foi filmada em cinco meses na capital argentina, Buenos Aires, e se espalharam por 50 locações, com quase três mil artistas entre elenco e figurantes. Ainda não se sabe se O Eternauta terá derivações. “Quando a gente conta, com qualidade, o sofrimento e a dor das pessoas a chance de que isso seja compreendido, acolhido e sentido em qualquer parte do mundo é muito maior”, arremata Darín.>