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Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2012 às 15:04
Ronney ArgoloBeyoncé do Pará, Adele da Periferia, Lady Gaga do Mato, Madonna do Jurunas. Gaby Amarantos, 34 anos, tem muitos apelidos. A cantora saiu do Jurunas, na periferia do Pará, para o estrelato. Ela tomou para si a missão de apresentar para o Brasil um país que ainda não se conhece. Que tem sotaque e suingue do Norte e se pinta com todas as cores da Amazônia. A seguir, descubra como o figurino e a música compõem Gaby Amarantos. A fama mudou sua vida?Mudou minha rotina de trabalho. Viajo pelo menos três vezes por semana e acredito que gero muito conteúdo, porque, além da música, tenho demanda da imprensa para contar minha história de vida, minha relação com os figurinos, comentar sobre meu biotipo. São muitos assuntos para além dos shows. Nunca trabalhei tanto. Mas sempre volto para minha casa, no Jurunas. Você ficou surpresa com a aceitação da sua música? Fiquei surpresa com a oportunidade de ter uma música em abertura de novela (Cheia de Charme, TV Globo). Eu sabia que precisava de um canal para as pessoas me conhecerem porque, se conhecessem, iam gostar. Precisava dessa abertura, conseguir ir para as rádios, que são muito alienadas e só tocam o que conhecem. No primeiro dia que a música tocou, as pessoas falaram, procuraram o CD. Como você faz seu repertório? No primeiro disco, as músicas vieram até mim. Eu estava num lugar e ouvia alguma ou recebia de um compositor, como no caso de Ex Mai Love. Eu não fui atrás, foi muito natural. Também está sendo assim com o repertório do segundo disco. Eu gosto de falar de festa, bagaceira, diversão, e também de causas como as ancestralidades indígena e negra. Eu misturo tudo, não tenho uma linha, um padrão. Sou uma cantora brasileira que, por acaso, canta tecnobrega. Eu gosto muito de cantar o Brasil, um Brasil que está começando a se conhecer. Minhas fontes de energia são as festas de aparelhagem no Pará, no meu bairro. Pesquiso principalmente estilos periféricos, o que está na periferia da América Latina, da Ásia, da África, do México, Estados Unidos. Eu adoro ir para festas em que ninguém se preocupa com a roupa do outro porque não vai sair na coluna social. Qual o efeito da música em você?Ela fez eu me encontrar como ser humano. Queria ser coreógrafa, psicóloga, estilista, historiadora. E na música consigo fazer tudo isso. Trabalho meus anseios, medos, criatividade. A gente cresceu ouvindo que brega é ruim, mas aí vem alguém fazer um brega premiado e dizer que ele é legal. E tiro o estereótipo de beleza da mulher Barbie. Eu sou curvilínea, robusta, feliz e brasileira. Já passei por bulimia, depressão e a música fez eu me aceitar mais feliz como mulher. A música é minha salvadora.Como foi o processo de aceitação do seu corpo?Eu só usava preto porque diziam que preto emagrece. Mas fui me libertando disso, aumentando a cartela de cores. Uso todas possíveis e impossíveis. Adoro desfiles, sou fã de vários estilistas, mas tenho uma moda muito própria. Sou corajosa e uso o que quero usar. Antes, eu me importava, não colocava decote, por exemplo. Com o tempo, fui me libertando enquanto mulher. Demorou para eu dizer “dane-se, sou feliz, aceito meu corpo, vejo o que tenho de melhor e potencializo isso”. Foi uma descoberta feminina.Seu som também representa um movimento estético?O que representa é a minha atitude comportamental enquanto mulher, enquanto militante do “não-Barbie” e mulher da periferia. Muitas vezes eu, adolescente, ligava a TV e via atrizes e cantoras muito magras, loiras. Parecia que só aquele tipo de beleza era certo. Era difícil ver alguém fora do padrão e cresci querendo entrar nele. Mas vi que não seria magra, nem teria olho azul nem cabelo loiro e liso. E aí a minha atitude comportamental trouxe uma carga estética ao meu som. Eu trago a fauna, a flora, a floresta, a raiz indígena em releitura fashionista. Eu gosto de ser índia, negra e da Amazônia. Muita gente começa a aceitar mais isso, no Brasil e fora do Brasil também. E eu ajudo a compreender este comportamento.Como você equilibra sua imagem com seu som? Através das performances e dos figurinos. Os figurinos são tão importantes quanto a música. Desde criança eu queria usar cores, flores, coisas na cabeça. Não faço porque Lady Gaga ou Madonna fazem. Eu já tinha essa identidade. Tem a ver com meu povo, com a gente daqui (do Pará) que é muito colorida. O índio é muito ornado. Cada ornamento tem um significado e eu cresci no meio desses significados. Uso isso como aliado da moda. Isso faz meu show dinâmico, performático, as pessoas entendem minha proposta musical pelo visual também. Essa é a minha verdade, que eu mostro.Como você vê a moda? De maneira muito mais remanejada. A moda da passarela é uma referência. Eu sou capaz de usar o que está na passarela porque criei essa identidade. Antes, a gente via a moda como algo estranho e distante. Hoje as revistas ajudam a entender, os desfiles também. Tenho amigos pessoais estilistas. Ronaldo Fraga me diz que sou estilista também, porque crio minha moda, do meu jeito, e as pessoas seguem ela. Conheço Valério Araújo, André Lima, Victor Dzenk. Gente que admirei sempre e hoje posso trocar figurinhas. O que vejo é a mulherada com coragem. A gente quer virar fashionista.Estilo do ParáGaby Amarantos gosta de ser conhecida por apelidos de cantoras pop, como Beyoncé do Pará. “Esses nomes me comparam a grandes artistas. Mesmo trabalhando com algo dito brega, faço a coisa ser cool, cult, hype. Algumaspessoas me dizem que sou a primeira artista realmente pop. E, quando me apelidam, querem falar: ‘Também temos nossa Beyoncé, nossa Madonna, nossa Lady Gaga’. Eu acho tudo isso o máximo”.>