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Donaldson Gomes
Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 22:55
O filme Amigo – A Biografia de Pepe Faro é uma celebração à construção de laços fraternos. Numa sala de cinema completamente lotada, o empresário que revolucionou o mercado de massas na Bahia, que criou a icônica Perini e há 10 anos dá nome ao Almacen, pôde rever os amigos que fez ao longo da vida. Muitos já partiram e foram vistos só através da tela. Outros tantos, porém, estiveram no UCI Orient Shopping Barra na noite desta terça-feira (2) para aplaudir de pé a história de superação do padeiro galego que reconstruiu sua vida na Bahia. >
O filme leva o nome de Pepe, mas é uma homenagem à comunidade galega que se estabeleceu na Bahia. Muitos enfrentaram os mesmos desafios que ele, de recomeçar após conhecer de perto os horrores da Guerra Civil Espanhola. “Quando eu nasci, a guerra já tinha terminado, mas as consequências vieram depois. Era muito difícil, éramos filhos da guerra”, diz Pepe num trecho do documentário. Além disso, o filme também traz registro das amizades que o padeiro fez do lado de cá do Atlântico, inserindo-se irreversivelmente na vida dos baianos. >
A história de sucesso do imigrante que marcou seu nome no varejo e na gastronomia de Salvador também é contada no filme. Clientes, funcionários, personalidades da política, da sociedade e da cultura sempre o viram como um anfitrião de alma aberta, e não apenas empresário ou, como ele próprio prefere se autointitular, um padeiro. O título do filme, roteirizado e dirigido por Amadeu Alban, faz jus à capacidade que o empresário de 83 anos tem para cultivar amizades. >
No filme, Pepe lembra da alegria ao saber que iria para o Brasil. “Sai gritando como um louco”, lembra. “A Bahia era um sonho, o Brasil era um sonho e a gente tinha que ir atrás deste sonho”, completa. Mesmo com tudo o que construiu não consegue se ver como empresário: “A única profissão que eu aprendi na vida foi ser padeiro”. Fernando, irmão e ex-sócio, destacou a capacidade de Pepe. Ele lembra do papel que o irmão exerceu na Perini: “Compraram a Perini, mas não compraram o Pepe”.>
O presidente do conselho do jornal CORREIO, Antonio Carlos Júnior, se emocionou com o documentário e lembrou da amizade de longa data com Pepe. “Ele é um dos meus grandes amigos, amigo do coração. E a nossa ligação é de uma amizade muito grande, feita com o conhecimento do dia a dia. Comecei a frequentar a Perini e de repente ficamos amigos, de toda semana estarmos juntos”, conta. Para Júnior, que possui sólida carreira da área de gestão, Pepe é um self made man. “Ele se fez e conseguiu não sucumbir ao avanço tecnológico”, destaca>
A trajetória do empresário Pepe Faro, o padeiro mais amado da Bahia
Paloma Amado aparece lembrando do papel que o galego teve na vida dos pais. Segundo ela, Jorge Amado e Zélia Gattai sentiam falta de alguns produtos quando vieram morar em Salvador e Pepe sempre mandava buscar. Em troca, Jorge levava a intelectualidade brasileira para a Perini. A relação foi tão profunda que após a morte de Jorge, o cardiologista Jadelson Andrade receitou a Zélia “ir à Perini duas vezes por semana”.>
Ofício de padeiro>
O documentário, filmado no Brasil e na Espanha, conta a história de Pepe desde a infância de privações na Galícia até a chegada a Salvador, aos 17 anos, passando pelo primeiro emprego em um armazém de secos e molhados no Tororó e o encontro definitivo com a panificação, ofício que se tornaria sua identidade. Assim, nasceu a Panificadora Elétrica da Barra, embrião do que mais tarde se tornaria a Perini.>
A angústia que enfrentou após vender a Perini, em 2010, também está presente na história. Hoje, o Almacen é administrado por seu filho, André Faro, que começou aos 14 anos ao lado do pai, e já conta com a participação de Matheus Faro, 19.>
Gravar a história de Pepe Faro foi, antes de tudo, vencer a resistência do protagonista. Segundo o diretor e roteirista Amadeu Alban, o maior desafio foi convencer Pepe a se colocar diante das câmeras. Isso porque ele não queria ser personagem. A mesma resistência que teve em colocar o próprio nome no Almacen. “Pepe sempre achou que sua vida era comum demais para virar documentário. E justamente aí mora a grande beleza dela”, diz Amadeu.>
As filmagens começaram em 2023, na aldeia de Aboal, Galícia, onde Pepe nasceu, e terminaram em 2024, antes da inauguração do Almacen Pepe do Shopping Barra. Ali, entre casas de pedra, memórias de guerra e o mesmo vento frio que moldou sua infância, a equipe pôde registrar as raízes de um menino que cresceu entre a fome e as privações do pós-guerra. Para o diretor, o ponto de partida em território espanhol foi decisivo para dar ao filme a dimensão de sua trajetória.>
O filme sobre a trajetória de Pepe Faro ficará disponível no site www.amigopepe.com.br.>