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Maria Raquel Brito
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 06:00
A música de Chico Buarque é trilha sonora da vida de Daniela Mercury há muito tempo. Desde o início da carreira, a cantora grava e interpreta canções do compositor carioca, como “Cotidiano”, presente no álbum “O Canto da Cidade” (1992), e “O Que Será (A Flor da Terra)”, “Atrás da Porta”, “Retrato em Branco e Preto” e “Sem Fantasia” – todas gravadas no álbum Clássica (1999). >
A admiração, porém, vem de bem antes. “Desde criança venho escutando muito, dançando em espetáculos profissionais de dança contemporânea, cantando em barzinhos, teatros e até nos trios elétricos”, contou Daniela, em entrevista ao CORREIO.>
Agora, ela celebra esse apreço em grande estilo com o espetáculo acústico “Uma Chica”, em que apresenta releituras de grandes composições de Chico Buarque. Os shows acontecem na CAIXA Cultural no sábado (20), em uma sessão às 17h e outra às 20h, e domingo (21) às 19h. As entradas das três sessões, vendidas on-line, esgotaram rapidamente. Mas, para quem não conseguiu, ainda há esperança: a CAIXA disponibiliza ingressos ociosos uma hora antes de cada apresentação, na bilheteria do espaço.>
O show chega a Salvador depois de estrear em Brasília no mês passado, em apresentações que renderam a Daniela o que ela descreve como uma grande alegria: uma mensagem de Chico dizendo estar maravilhado após ver vídeos dos shows nas redes sociais. “Espero que quando fizermos o show no Rio, ele e Carol consigam assistir”, disse a artista.>
Daniela Mercury em "Uma CHICA"
Um ponto simbólico do espetáculo é a participação de Gabriel Mercury, cantor e filho de Daniela, que faz a abertura do show e acompanha a mãe no violão e no contrabaixo.>
Em entrevista exclusiva ao CORREIO, a cantora falou sobre a importância de Chico Buarque na sua trajetória, como as suas obras se cruzam e a sensação de ter o filho ao seu lado no novo projeto. Confira:>
1. Como nasceu o show Uma CHICA?>
O repertório de Chico Buarque é predominante em minha vida. Desde criança venho escutando muito, dançando em espetáculos profissionais de dança contemporânea, cantando em barzinhos, teatros e até nos trios elétricos. Em minhas intervenções artísticas nos carnavais e em meus shows. Ao longo da carreira, gravei várias músicas de Chico em meus álbuns. Quando vi que ele estava completando 80 anos, quis fazer um show com esse repertório que eu amo demais. Chico é o maior compositor brasileiro vivo. >
2. Como você mencionou, sua história com a música de Chico Buarque é antiga: você faz interpretações de músicas dele desde 1992 e, em 2011, dirigiu o espetáculo “Elas Cantam Chico”. Qual a origem da sua relação com Chico e como as obras de vocês se encontram?>
Chico é essencial na Música Popular Brasileira. Nossas artes se encontram em muitos aspectos: dos melódicos, harmônicos, rítmicos com os sambas, bossas até as canções que falam do país e do povo brasileiro. E com esse viés sócio-político, olhando pra democracia, lutando contra o autoritarismo, denunciando o racismo e outras discriminações. As músicas de Chico celebram quem somos como brasileiros, e as músicas de seus personagens são uma maneira de nos enxergarmos. Ele faz literatura com melodia.>
Meu filho Gabriel Mercury fez a direção deste espetáculo, ele é também profundamente formado pela obra de Chico por ouvir desde criança em casa e por se identificar com as lutas e sonhos de Chico, como eu. Eu e Chico ficamos amigos na década de 90 depois de fazermos alguns projetos juntos e desde então estamos sempre em contato. Minha maior alegria, depois da estreia de Uma Chica em Brasília, foi receber uma mensagem dele falando que tinha visto na rede alguns vídeos dos shows e estava maravilhado. Espero que quando fizermos o show no Rio, ele e Carol consigam assistir.>
3. Você diria que o trabalho dele ajudou a moldar a sua trajetória na música?>
Com certeza absoluta. Sem Chico, eu não seria a artista que eu sou. A obra de Chico é prima, é minha principal referência. >
4. Como foi a escolha do repertório? >
Essa foi a parte mais difícil. O show tem 1h30 e a obra de Chico é vasta e equivalente em beleza e importância. Então, resolvi escolher pelo meu desejo de interpretar ‘Mar e Lua’, ‘As Caravanas’, ‘As Vitrines’, ‘Construção’ e outras que nunca havia cantado. Também me motivei a cantar outras pelo momento político que vivemos no Brasil com o julgamento dos líderes da tentativa de golpe de Estado, como ‘Cálice’, ‘Deus lhe Pague’ e ‘Apesar de Você,’ que eu havia gravado e quis incluir.>
5. A abertura do show, assim como o violão e o contrabaixo da apresentação, fica por conta do seu filho, o cantor Gabriel Mercury. Como tem sido viver esses momentos ao lado dele? >
Gabriel, além de tocar e cantar, fez a direção musical desse espetáculo. Ele está cantando cada dia mais bonito e canta maravilhosamente as músicas de Chico. Então achei que seria uma ótima combinação de vozes e interpretações para homenagear Chico. A convivência com Gabriel é sempre uma alegria para mim, amo trabalhar com ele, nos damos muito bem e ele me entende e ajuda muito a organizar tudo como eu gosto. ele é muito exigente, dedicado, cuidadoso com todos os detalhes musicais e muito talentoso. E além de tudo tem muita paciência comigo, pois é calmo, paciente e generoso. Neste espetáculo, ele assumiu o baixo, que não é o principal instrumento dele e está arrasando. Vocês vão ver.>
6. Ainda sobre Gabriel, ele fez sua estreia oficial este ano, com um álbum homônimo. Qual a sensação de ver seu filho seguindo seus passos na música e poder participar de seu primeiro disco?>
Para mim, é uma das maiores alegrias da minha vida. Gabriel é um talento raro na MPB. Quando ele canta, me emociono e me surpreendo com as interpretações e arranjos e ideias dele. É divino, uma voz de anjo, afinadíssimo e delicado, ao mesmo tempo forte e marcante. Neste álbum lançado em janeiro, Gabriel circulou pelo mundo do arrocha com letras e harmonias de MPB e é uma coisa que ele vem fazendo muito bem. Está criando uma nova roupagem para canções de MPB, usando o arrocha e todas as influências musicais dele misturadas. >
Ele é romântico e profundo, politizado e conhece muito o meu mundo rítmico também. Pode fazer o que quiser. Ele chama de Sofrência Popular Brasileira, e em breve, acredito muito que terá suas reverberações. Quem sabe vira um gênero musical, não é mesmo? Assim como o Axé. Ele tem muita personalidade, agora é seguir o coração e trabalhar muito. Nossa profissão é muito desafiadora e exige muita dedicação e esforço.>