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Luiza Gonçalves
Publicado em 4 de dezembro de 2023 às 06:00
Walter Firmo vê a fotografia como um recurso expressivo que conta verdades, sentimentos e afeto sem palavras. Ou como escreveu: “no verbo do silêncio a síntese do grito”. Essa passagem nomeia a retrospectiva em 200 imagens que tem como objetivo celebrar mais de 60 anos de carreira do artista, explorando sua contribuição enquanto fotógrafo negro que imprimiu o povo e a cultura preta na história brasileira. >
A exposição Walter Firmo: No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito chega a Salvador amanhã (5), com abertura às 17h, no Museu de Arte Moderna (MAM-BA). A programação conta com uma mesa de conversa com o fotógrafo e os curadores Janaína Damaceno e Sergio Burgi, às 18h30, e na sequência uma visita do artista à exposição. >
Janaína Damasceno explica que a retrospectiva foi dividida em seis núcleos que passeiam pelos campos temáticos e a trajetória pessoal de Firmo, exaltando seu papel como fonte de fotografias que estão fortemente presentes na cultura brasileira.>
Com 86 anos, dezenas de exposições/livros e ganhador de prêmios como Esso de Reportagem, Concurso Internacional de Fotografia da Nikon, Golfinho de Ouro e a Ordem do Mérito Cultural, muitas obras de Walter, pioneiras ao defender o direito de existência do negro nas fotografias no Brasil, ainda têm dificuldade de serem reconhecidas. >
“Por exemplo, quando eu penso no Pixinguinha possivelmente é uma foto do Walter que vem na minha cabeça, quando eu penso no Cartola, na Clementina de Jesus em Madame Satã, no Bob Marley jogando bola no Brasil com Caetano e com o Chico Buarque são fotos do Walter que vem à nossa cabeça. São fotos que constituem o nosso imaginário e o nosso afeto sobre uma história do Brasil que não está nos livros, que é a história negra” afirma a curadora.>
Um dos elementos destacados na exposição é a divisão entre um núcleo de imagens em preto e branco e as fotos coloridas. Conhecido como o mestre da cor, utilizando tons e luz tropical como um elemento cênico na sua fotografia, muitas pessoas se surpreendem com um grande número de imagens em preto e branco produzidas pelo artista. >
“A gente queria revelar também essa parte do Walter que pouca gente conhece, que é o fotógrafo em preto e branco. Dentre essas fotografias temos algumas da Bahia, sobretudo da Alaíde do Feijão, de Mãe Olga do Alaketu, da Praia de Piatã, que são em preto e branco e são maravilhosas”, diz a curadora.>
Nascido no Rio de Janeiro, Walter Firmo é apaixonado pela Bahia. Já veio mais de 30 vezes para o estado e possui uma relação especial com um lugar de Salvador: a Praia de Piatã. Desde os anos 70, fotografa o local em diferentes época, retratando a vida cotidiana em imagens que ilustram o trabalho, as famílias e as relações afetivas. A Bahia, para ele, serviu como um ponto de partida para um ativismo visual em prol da comunidade negra. >
Até agora, mais de 90 mil pessoas já viram a exposição, que é pequena diante de um acervo de mais de 100 mil fotos que estão sob guarda do Instituto Moreira Salles. Janaína comemora o fato dessa homenagem ser feita na presença do fotógrafo: “Essa é a maior retrospectiva que ele recebeu e é muito emocionante que ela seja em vida. Que ele consiga receber esse carinho e ver que tudo aquilo que ele produz fica como um legado de extrema importância para nós.”>
Serviço - Exposição Walter Firmo: No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito | a partir das 17h de 5/12, no MAM-BA, com visitação gratuita de terça-feira a domingo, das 10h às 18h>