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Da Redação
Publicado em 1 de maio de 2014 às 10:45
- Atualizado há 2 anos
Imigrantes fazem parte da história do Brasil. Em Salvador, mais especificamente no mercado sexual da cidade não é diferente. No século 19, o fluxo de imigrantes europeus chega a capital da Bahia. Nesse fluxo, mulheres também desembarcaram em solo soteropolitano. Entre essas mulheres, profissionais do sexo polonesas, judias, francesas. Eram as chamadas “cocotas”.>
O jornalista e escritor Guido Guerra, conhecido como "Papagaio Devasso", tratou do assunto na obra “A Noite dos Coronéis”, publicada em 2006 em uma parceria da Assembleia Legislativa com a Academia de Letras da Bahia. Sobre o título do livro, Guerra, que faleceu no mesmo ano, comentou em uma de suas últimas entrevistas. "A noite dos coronéis é uma referência a um bordel que funcionava em cima da loja Duas Américas, ali na Rua Chile, frequentado basicamente por coronéis do cacau. 'Putas' francesas, polacas, sobretudo francesas que eram as mais caras e que, em geral, eram exploradas por cafetões argentinos por toda a extensão da Rua Carlos Gomes, onde Madame Lulu fazia sua fama e glória. Mas a expressão 'noite dos coronéis' refere-se ainda à presença de boêmios como Jehová de Carvalho, Bob Laô, Carlos Anísio Melhor, Ângelo Roberto, Batatinha e, com eles, através de sua memória afetiva, desfilam figuras que marcaram época na Bahia, como Sandoval Caldas, China, Maria da Vovó, Alzira dos Brilhantes, Arigoffe, Madame Cocô, Maria Pires, ambientes como o Metrô, Tabaris, Rumba-dancing, 63," disse.>
Esse é o inicio do que, para o antropólogo Roberto Albergaria, é a época de ouro dos bordéis de Salvador. Começando na década de 50, o mercado sexual de Salvador começa a se formar, com o Centro de Salvador como polo principal de desenvolvimento. Rua Carlos Gomes, Rua da Faísca, Ladeira da Montanha, Gameleira, Rua Chile eram alguns dos pontos de quem buscava sexo em Salvador.>
Entre as casas da época, Albergaria destaca o 63 como o melhor da cidade. Outros lugares também foram referência na época e abrigavam a vida noturna da cidade. O jornalista e professor Paulo Leandro também comentou sobre a época de ouro do centro da cidade e da boêmia soteropolitana. “Eu não sou daquela época, mas os jornalistas frequentavam muito um lugar chamado Tabaris Night Club. A nossa profissão tinha muito a ver com a boemia. A Salvador de antigamente se resolvia ali pelo centro mesmo. Lugares como o a Churrascaria Líder, o Monte Carlo, a Casa de Mãe Preta eram as principais casas dos boêmios de Salvador que procuravam diversão e sexo.>
O antropólogo Albergaria também comentou que os clientes do local tinham um bom poder aquisitivo. Além de sexo, o mercado da época tinha outras funções. “A prostituição tinha uma função que hoje não tem. A função social da prostituição. Era a época da afirmação masculina, que era uma das funções da prostituição,” contou Albergaria. >
A partir dos anos 70, Salvador começa a se expandir para locais como o Iguatemi e a Paralela. Com essa expansão, o polo sexual começa a entrar em declínio. “A cidade se expande para outros pontos e os bordéis também. A cidade muda e cresce para o eixo Iguatemi-Paralela. Os bregas do centro ficam cada vez mais decadentes”, conta Albergaria. Essa é a época, também, do baixo Carlos Gomes, o início da decadência do sexo no centro da cidade. >
Com o declínio do mercado sexual na região, outros lugares, como o Centro Histórico cpmeçaram a se sobressair. A região conhecida como Maciel, no Pelourinho, abriga essa fase de involução da prostituição em Salvador. Outro ponto do Centro Histórico, a Rua Manoel da Nobrega (uma das hipoteses de origem do nome “Brega”) era o baixo meretrício da cidade na época. O sexo no centro da cidade ficou mais fraco e houve uma modificação no público que frequentava as casas.>
De acordo com Albergaria, esse mercado do Centro Histórico da capital baiana foi desativado com o processo de urbanização e reforma do Pelourinho. Com isso, as ruas do Centro da Cidade começaram a ganhar as “pisteiras”, garotas de programa que faziam pontos nas ruas. Assim, o mercado sexual de Salvador, que em décadas anteriores foi profissional, com os grandes bordéis e casas noturnas, começou a ser amador com baixo nível do sexo e da boemia que existia no centro da cidade.>
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