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Estúdio Correio
Publicado em 10 de julho de 2025 às 05:59
À frente de uma das iniciativas mais transformadoras do Centro Histórico de Salvador na última década, Antônio Mazzafera celebra os dez anos do Grupo Fera com a autoridade de quem apostou no potencial da região quando poucos o faziam. Fundador e CEO do grupo, Mazzafera lidera um ambicioso projeto de requalificação urbana que já soma mais de R$150 milhões em investimentos, com foco na preservação do patrimônio, no turismo de alto padrão e na criação de novas experiências culturais e residenciais. Nesta entrevista, ele fala sobre os desafios enfrentados ao longo do caminho, o impacto dos empreendimentos como o Fera Palace Hotel e o Palacete Tira-Chapéu, e as perspectivas para o futuro da área mais emblemática da capital baiana. >
O Grupo Fera completa 10 anos de atuação na Bahia. Quais foram os principais marcos dessa trajetória e quais aprendizados se destacam ao longo dessa década? >
O primeiro grande marco do Grupo Fera foi a restauração e reinauguração, em 2017, do Fera Palace Hotel em um edifício Art Déco tombado, que resgatou o glamour do Centro Histórico de Salvador e reposicionou a cidade no circuito de turismo de luxo. A partir daí, vieram a conversão do Residencial Gorges (primeiro retrofit residencial na região), a recuperação do Edifício Moreira para lajes corporativas, a revitalização do Palacete Tira‑Chapéu como polo cultural e gastronômico, e a criação do Premium Park, garagem de conceito inovador para dar suporte à mobilidade urbana. Entre os aprendizados mais importantes estão a necessidade de parcerias público‑privadas para viabilizar investimentos em áreas tombadas, o equilíbrio entre restauração meticulosa e soluções modernas de engenharia, e a estratégia de promover usos mistos — turístico, residencial e comercial — para garantir vitalidade e sustentabilidade financeira aos empreendimentos. >
O que motivou o Grupo Fera a apostar no Centro Histórico de Salvador como eixo central dos seus investimentos? >
O Centro Histórico de Salvador oferece um patrimônio arquitetônico rico, com edifícios subutilizados de alto valor cultural e vista privilegiada da Baía de Todos‑os‑Santos. Essas características, aliadas a uma visão de longo prazo sobre o potencial de revalorização patrimonial e ao compromisso socioeconômico de reativar o tecido urbano, levaram o Grupo Fera a enxergar na região um espaço perfeito para projetos que unissem preservação histórica a inovação em hotelaria, moradia, cultura e mobilidade. Locais de praias bonitas nós vemos em vários destinos no mundo inteiro, mas o grande diferencial de Salvador é o seu Centro Histórico, que possui o maior conjunto arquitetônico colonial das Américas. >
Com mais de R$150 milhões investidos e 12 imóveis no portfólio, quais foram os maiores desafios enfrentados na revitalização do centro da cidade? >
Entre os principais desafios estiveram os extensos processos de licenciamento de imóveis tombados pelo IPHAN, que demandam laudos especializados e podem alongar prazos; a complexidade de financiar restaurações de alto custo por metro quadrado; as limitações logísticas próprias de um tecido urbano denso, que exigiram soluções de engenharia adaptadas para preservar fachadas originais; e, por fim, o equilíbrio de oferta e demanda para atrair simultaneamente hóspedes de luxo, moradores urbanos e frequentadores de espaços culturais, assegurando ocupação contínua sobretudo em um cenário pós‑pandemia. >
Quais são os próximos passos do Grupo Fera para os próximos 10 anos? Há planos de expandir para outras cidades ou estados? >
Nos próximos anos, o Grupo Fera planeja concluir três novos projetos residenciais já em desenvolvimento no Centro Histórico, além de aprofundar iniciativas culturais e de mobilidade urbana. Continuará a buscar parcerias com órgãos públicos para aprimorar infraestrutura local (como fiação subterrânea, iluminação e segurança). Também estamos desenvolve um outro hotel, dessa vez em São Paulo, mas o atual cenário econômico que o país vive, com altas taxas de juros, tem dificultado o andamento desse projeto.>
Sua formação e experiências anteriores influenciaram sua abordagem em projetos que unem preservação histórica com inovação? >
Sim. A minha passagem pelo Maybourne Hotel Group, em Londres, trouxe ao Grupo Fera padrões de luxo e atenção ao design icônico, enquanto minha atuação como Diretor de Turismo da VISA reforçou minha habilidade de negociar com grandes stakeholders. Além disso, o MBA pela Harvard Business School forneceu ferramentas analíticas e de gestão de riscos que se aplicam diretamente à viabilidade de projetos históricos complexos. >
Em uma década à frente do Grupo Fera, o que mais o orgulha em termos de legado? >
O maior orgulho reside na transformação efetiva do Centro Histórico de Salvador, na geração de centenas de empregos, no desenvolvimento de profissionais locais, na revitalização de obras arquitetônicas que agora exercem funções turísticas, residenciais, culturais e de mobilidade. Esse legado combina impacto socioeconômico, reafirmação da identidade local e preservação viva do patrimônio para as futuras gerações. Em 2012, quando decidi investir no Centro Histórico de Salvador, todo mundo me chamou de louco, mas agora o resultado da “loucura” está aí: um centro histórico revitalizado, pulsante, com geração de emprego e renda para o povo baiano. >
Quais conselhos daria a jovens empreendedores que querem unir negócios, impacto social e preservação do patrimônio? >
É fundamental alinhar propósito social e viabilidade financeira, estabelecendo metas claras de desempenho. Cerque-se de profissionais competentes, dedicados e éticos. Cultive alianças estratégicas com investidores privados e a comunidade desde o planejamento inicial. Valorize a história e o contexto de cada edificação, pois o respeito ao original enaltece o empreendimento e constrói credibilidade. Pense sempre no longo prazo, exercitando paciência e resiliência, e mantenha-se aberto a aprendizados internacionais que possam ser adaptados criativamente à realidade local.>
Este conteúdo não reflete a opinião do Jornal Correio e é de responsabilidade do autor.>