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Cannabis medicinal: o que diz a ciência e a prática médica

Uso terapêutico avança com respaldo científico e foco em qualidade de vida

  • Foto do(a) author(a) Estúdio Correio
  • Estúdio Correio

Publicado em 11 de junho de 2025 às 06:00

Cannabis
A ciência vem consolidando evidências sobre a eficácia  da cannabis medicinal em diversas condições médicas Crédito: divulgação

O uso da cannabis medicinal tem ganhado espaço na prática clínica e no debate público, especialmente entre pacientes que convivem com doenças crônicas e refratárias aos tratamentos convencionais. A ciência vem consolidando evidências sobre sua eficácia em diversas condições médicas, e o Brasil também avança no reconhecimento e regulamentação desse recurso terapêutico.

Segundo o neurologista Ivar Brandi, há comprovação científica de eficácia para diversas condições médicas. “Entre elas, destacam-se as epilepsias de difícil controle, especialmente síndromes epilépticas refratárias em crianças, muitas vezes associadas a deficiência intelectual e múltiplas crises convulsivas diárias”, explica.

O canabidiol (CBD), uma das principais moléculas com potencial terapêutico presente na planta, tem se mostrado eficaz nesses casos. Além disso, há evidências científicas do uso da cannabis no tratamento do glaucoma, da dor crônica – como fibromialgia e neuropatia diabética – e da espasticidade associada à esclerose múltipla. “A espasticidade, que é o aumento do tônus muscular decorrente de lesões do sistema nervoso central, é comum nesses pacientes e pode ser aliviada com o uso dos derivados da cannabis”, afirma Brandi.

Tenho acompanhado diversos pacientes que conseguiram substituir medicamentos como benzodiazepínicos e drogas Z, como o Zolpidem, por compostos de cannabis, com ótimos resultados e sem desenvolver dependência

Ivar Brandi,

neurologista
Ivar Brandi
Segundo o neurologista Ivar Brandi, há comprovação científica de eficácia para diversas condições médicas Crédito: arquivo pessoal

Outros benefícios observados são o controle dos efeitos colaterais da quimioterapia antineoplásica, como náuseas e perda de apetite, além de melhora significativa em distúrbios do sono. “Também temos resultados animadores no tratamento da ansiedade e de sintomas comportamentais associados à doença de Alzheimer”, acrescenta o neurologista.

Segundo Brandi, os compostos ativos da planta se dividem em três grandes grupos: os canabinoides (como o CBD e o canabigerol), que não têm efeito psicoativo; os compostos com ação psicoativa, como o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), eficaz para dor, insônia e aumento de apetite; e os terpenos, que potencializam o efeito terapêutico dos outros componentes por meio do chamado “efeito comitiva”.

Embora os benefícios sejam significativos, o neurologista destaca a necessidade de cuidado com os efeitos colaterais. “Eles existem, mas são geralmente controláveis e associados, em sua maioria, a erros de dosagem”, explica. Por isso, a terapia canabinoide deve sempre ser iniciada com doses baixas, ajustadas progressivamente e de forma personalizada. “Cada organismo reage de maneira diferente, mesmo entre pacientes com idade e condição clínica semelhantes”, completa.

Cannabis
A terapia canabinoide deve sempre ser iniciada com doses baixas, ajustadas progressivamente e de forma personalizada Crédito: divulgação

A individualização do tratamento leva em conta diversos fatores, como uso de outras medicações, histórico de exposição prévia a canabinoides e perfil de sensibilidade a efeitos colaterais. “Produtos canabinoides podem interagir com anticonvulsivantes como o ácido valpróico ou com benzodiazepínicos, o que exige monitoramento clínico e ajuste cuidadoso da dose”, alerta.

Na prática clínica, Brandi relata resultados consistentes no uso da cannabis medicinal, especialmente no tratamento de distúrbios do sono e ansiedade. “Tenho acompanhado diversos pacientes que conseguiram substituir medicamentos como benzodiazepínicos e drogas Z, como o Zolpidem, por compostos de cannabis, com ótimos resultados e sem desenvolver dependência”, afirma. Também há destaque para o alívio de sintomas em pacientes em tratamento oncológico. “Com o uso da cannabis, eles toleram melhor os efeitos da quimioterapia e conseguem manter uma rotina mais ativa e produtiva”, diz.

No Brasil, os produtos à base de cannabis estão disponíveis mediante regulamentação da Anvisa. Os de menor concentração de THC (até 0,2%) podem ser encontrados em farmácias convencionais. Já os com maior teor psicoativo ainda são restritos à importação, o que encarece e dificulta o acesso. “Essa é uma das barreiras que precisamos enfrentar para ampliar o alcance terapêutico da cannabis no país”, finaliza Brandi.

Este conteúdo não reflete a opinião do Jornal Correio e é de responsabilidade do autor.