“O resíduo é a continuidade da atividade mineral”, defende Antonio Carlos Tramm

Em entrevista, presidente da CBPM destaca novas oportunidades para a mineração e comenta o legado de sua gestão à frente do órgão

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  • Murilo Gitel

Publicado em 10 de abril de 2023 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/CBPM

Uma verdadeira revolução. Assim pode ser definida a gestão de Antonio Carlos Tramm à frente da CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral), que teve início em 2019 e vive agora os seus últimos momentos. Nesse período, um dos seus maiores legados foi ter contribuído para colocar a mineração na ordem do dia, conquistando um espaço de destaque no noticiário econômico.

Em entrevista exclusiva ao CORREIO, o gestor defende o reaproveitamento dos resíduos da mineração como oportunidade de desenvolvimento para o estado, comenta a sua experiência na liderança da CBPM e os demais potenciais que o setor pode vislumbrar nos próximos anos.

CORREIO: Quando o senhor assumiu a gestão da CBPM, em 2019, a Bahia estava há cinco anos sem realizar licitação. Como é a realidade atualmente?

Antonio Carlos Tramm: Quando chegamos aqui, o comentário é que a CBPM, assim como outros órgãos do governo, seria fechada, e depois de quatro anos saímos de uma empresa em que o estado tinha que transferir recursos financeiros, para uma empresa que é autossuficiente e que encerrou 2022 com uma receita bruta de R$ 86 milhões de reais.  De 2015 a 2018, a CBPM concluiu apenas uma licitação, já nos últimos anos, na nossa gestão, foram 14. Conseguimos nos últimos quatro anos implantar um novo ritmo para a mineração da Bahia e também no trabalho desenvolvido pela CBPM. Em 2018, foram enviados apenas 6 mil quilos de amostras de solo para análises químicas, em 2022 enviamos mais de 27 mil quilos. Foi esse trabalho que possibilitou deixarmos um legado muito importante para a Bahia, a descoberta de uma província no Norte do estado, uma área que pode chegar a 100 km de extensão e com presença de vários tipos de minérios como fosfato, ferro, níquel-cobre-cobalto, ouro e terras raras. Estamos deixando uma CBPM equipada de bússolas e marteletes à veículos, drones e gravímetro.

A mineração baiana tem crescido ano após ano, o que já faz do estado o terceiro maior produtor do País. A quais fatores o senhor atribui este desenvolvimento? 

Nos últimos anos, passamos do quinto para o terceiro estado maior produtor mineral do país e os investimentos na pesquisa mineral foram decisivos para que isso acontecesse. Conforme dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), no acumulado dos últimos quatro anos (2017 a 2021) a Bahia foi o estado que mais realizou investimentos em pesquisa mineral. No total, foram investidos mais de R$ 1,5 bilhão de reais (investimentos públicos e privados), o que refletiu no crescimento da mineração do estado. Vale ressaltar também que, com a contribuição da CBPM, a Bahia é o estado brasileiro mais bem estudado geologicamente do país. Somos um estado com uma grande diversidade mineral, e isso também é um dos grandes diferenciais da mineração baiana, que ano passado cresceu 7%, enquanto a brasileira caiu 26%.

Apesar de tamanho crescimento, a logística para escoar a produção mineral do estado tem sido um gargalo considerável nas últimas décadas, principalmente no que diz respeito a falta de ferrovias e trens. Como resolver o problema?

O trem é muito importante para a mineração e o desenvolvimento socioeconômico do Estado.  Há muito tempo lutamos por uma logística ferroviária eficiente e isso nos motivou a contratar um estudo sobre o sistema ferroviário da Bahia junto à Fundação Dom Cabral. O estudo veio para provar que a Bahia tem carga e que ela vem não apenas da mineração, como também da agricultura e do conceito da carga geral. Além disso, o estudo sugeriu que devemos usar a bitola de 1,60 para poder nos ligar a ramais e outros estados e sair do nosso isolamento logístico e também a criação de novos ramais, para tornar a nossa malha mais eficiente. Esse é um pontapé inicial para podermos colocar a Bahia literalmente nos trilhos e aumentar a competitividade dos nossos produtos, além de trazer desenvolvimento para o Estado. 

A mineração baiana tem implementado práticas mais sustentáveis na área de ESG (ambiental, social e de governança). Acredita que este seja um caminho sem volta?

Acredito que sim. Eu sempre digo que ESG não pode ser só uma sigla para inglês ver. Mas a mineração baiana já pratica o ESG há muito tempo. A maior prova disso é a Ferbasa, cujo fundador doou suas ações para uma fundação que administra a empresa, a qual promove diversas ações para a comunidade.  A fundação investiu na educação com a criação de escolas, fundou um laticínio, que há muitos anos produz queijos, iogurte, manteiga e diversos outros alimentos, também construiu um parque de diversões, promovendo dessa forma uma importante relação com a comunidade onde a empresa opera, levando educação, lazer e desenvolvimento para a região onde está inserida. 

Qual é a importância do reaproveitamento dos resíduos da mineração? As mineradoras baianas têm um potencial considerável nesse segmento?

O resíduo é a continuidade da atividade mineral. A Largo, por exemplo, está produzindo o vanádio, e com o resíduo terá outros produtos que são a ilmenita e o pigmento de titânio. E é isso que precisamos. Criar uma cadeia produtiva da mineração que vai gerar novos produtos: na área de fertilizantes, na construção civil, na indústria química e em diversos outros setores. Com isso, teremos novas empresas, empregos, ou seja, a atividade da mineração não deve terminar no seu produto principal, tem que ter aproveitamento. 

O trabalho de pesquisa da CBPM tem sido importante para a descoberta de novos depósitos minerais no estado. Quais regiões são apontadas como as mais promissoras?

Devido ao trabalho desenvolvido nos últimos 50 anos, a CBPM ajudou a Bahia a ser um dos estados mais bem estudados geologicamente do país. Hoje somos o terceiro maior produtor de minérios do país e com uma diversidade mineral com mais de 50 tipos de substâncias que é um dos grandes diferenciais do estado. Atualmente a grande promessa está na nossa mais recente descoberta que é a Província Metalogenética do Norte, situada no extremo norte do estado, na borda norte do Cráton de São Francisco, abrangendo, entre outros, os municípios de Pilão Arcado, Remanso e Campo Alegre de Lourdes, uma área que pode chegar a 100 km de extensão e com presença de vários tipos de minérios como fosfato, ferro, ferro-titânio-vanádio, níquel-cobre-cobalto, ouro, metais base e terras raras. Essa é uma das mais importantes descobertas dos últimos anos e que pode colocar a mineração baiana em outro patamar. 

A mineração está presente em quase todas as atividades humanas (das estruturas das nossas moradias até aos smartphones), mesmo assim, boa parte da sociedade ainda vê o setor de forma negativa por conta de tragédias pontuais. O setor precisa comunicar melhor os benefícios que proporciona? A CBPM contribui nesse sentido?

A mineração está em tudo! E precisamos divulgar isso. A mineração está presente nos óculos, no telefone, no computador, na fivela do cinto. O minério de ferro está presente nos cabos do elevador e na sua cabine. O nosso agronegócio para existir com a pujança que tem, precisa da mineração.  Os fertilizantes são minérios, a água é um minério. O níquel e o vanádio, por exemplo, são essenciais na produção de baterias. O setor precisa mostrar o quanto ele é essencial e os seus benefícios para a sociedade. Nesse sentido, a CBPM está contribuindo bastante para a divulgação da mineração baiana e como ela está inserida no seu dia a dia, mas ainda temos muito que avançar.  Quero aproveitar o momento, para agradecer muito o empenho e a colaboração do colegas da SAEB (Secretaria da Administração do Governo do Estado da Bahia), SEFAZ (Secretaria de Estado de Fazenda da Bahia), SDE (Secretaria De Desenvolvimento Econômico da Bahia), SEPLAN (Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia) e, principalmente, a todos os colaboradores da CBPM, os geólogos, técnicos, pessoal da área administrativa, que foram essenciais e possibilitaram que os 50 anos da CBPM fossem comemorados apenas com vitórias. 6 marcas da gestão da CBPM nos últimos quatro anos: ●    Novos estudos; ●    Levantamentos aerogeofísicos; ●    Novos equipamentos; ●    Autossuficiência financeira; ●    Modernização da infraestrutura; ●    Atração e consolidação de investimentos.

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