Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Do Estúdio
Publicado em 28 de julho de 2022 às 06:00
Sair da sala de aula e ir em busca da compreensão e de soluções para fenômenos sociais, econômicos e ambientais através de projetos de iniciação científica. Cada vez mais cedo, estudantes da Rede SESI têm visto nesse caminho uma forma de desenvolver habilidades que vão além do programa básico curricular. >
Caso de Juan Teles, 17 anos, aluno do 3º ano da Escola SESI Reitor Miguel Calmon (Retiro). Aos 14, ele tentou ingressar em um grupo de pesquisa pela primeira vez, quando ainda estava no 9º ano do Ensino Fundamental. A aprovação no processo seletivo do grupo de pesquisa SMOTES (Sistema de Monitoramento do Tempo e Estudos Socioespaciais) só veio um ano depois, em plena pandemia. “Quando eu entrei na escola, não tinha esse interesse porque nem mesmo tinha ouvido falar em iniciação científica. Hoje fico imaginando como é importante ter a oportunidade de fazer isso”, reflete Juan. Aluno Juan Teles no laboratório de Ciências Humanas (Foto Gilberto Jr/Coperphoto/Sistema FIEB) O raciocínio é inevitável. Em um intervalo de menos de dois anos, a vida dele mudou radicalmente. Na semana passada, Juan embarcou para Nova York, nos Estados Unidos, em sua segunda viagem internacional, como o único brasileiro com bolsa completa no programa do The School of the New York Times. A primeira saída do país, propiciada também pela pesquisa, foi para a Argentina, no ano passado, onde morou por um mês. >
GANHANDO O MUNDO >
“Estudar no SESI muda a vida de qualquer aluno. Se há três anos você me dissesse que eu estaria aqui [nos EUA], eu nunca iria acreditar”, conta Juan, durante uma chamada via internet feita do quarto onde ficará hospedado nas próximas três semanas. Nesse período, ele terá aulas nas principais universidades da cidade, como Columbia e Fordham University, e, também, aulas e uma espécie de estágio na redação do jornal americano. >
No retorno, não irá demorar em solo brasileiro. É que na última semana de agosto ele já tem outro embarque marcado, desta vez para Varsóvia, capital da Polônia, onde integrará a Akademia High School. “É a melhor escola do Leste Europeu, a mais cara também. Eu fui aprovado como bolsista integral para estudar lá por dois anos com tudo pago”, destaca Juan, que vai concluir os estudos seguindo o currículo britânico. >
A trajetória de excelência do estudante foi construída com esforço próprio, mas também com muito incentivo. “Todos os meus professores foram fundamentais nessas conquistas, com a escrita de cartas de recomendação, com o estímulo, com o empurrão para gente se colocar, ter uma visão consciente do que acontece na sociedade”, elenca.“Esse é o papel da escola. Transformar a vida do jovem e transformar a vida da que está no entorno”_Anderson Rodrigues, professor de Geografia do SESICONTRIBUIÇÃO SOCIAL >
O projeto de pesquisa ao qual Juan se dedicou nos últimos anos surgiu após uma visita do grupo ao Porto da Sardinha, localizado no bairro de Plataforma, a cerca de 14 km de distância do colégio. No local são vendidas cerca de dez toneladas de pescado por dia, cuja limpeza é feita por milhares de mulheres negras, que retiram as vísceras, a cabeça, as escamas e o rabo do peixe antes da comercialização. Chamadas “tratadeiras”, muitas delas herdaram o ofício de suas mães. “Elas limpam dezenas de quilos de peixe por dia, trabalham mais de 12 horas para ganhar menos de um salário mínimo por mês. É um ciclo repetido de uma situação limite, que perpetua a vulnerabilidade social em que elas já se encontram e afeta a vida daquelas famílias como um todo”, critica Juan. >
Sensibilizados com essa situação após uma visita presencial, ele e outros colegas de grupo começaram a pensar em alternativas de reaproveitamento dos resíduos orgânicos e que trouxessem remuneração para as tratadeiras, em uma solução que integrasse as perspectivas econômica, social e ambiental. Desenvolveram, com o apoio técnico do SENAI CIMATEC, uma ração para pets com propriedades nutricionais diferenciadas. Agora, o projeto precisa de um parceiro comercial para ser viabilizado. >
Orientador de Juan e coordenador do grupo de pesquisa SMOTES, o professor de Geografia Anderson dos Santos Rodrigues destaca que a iniciação científica traz uma perspectiva de formação muito abrangente. “O estudante é o protagonista. Há uma orientação muito bem fundamentada e um apoio técnico enorme para que eles entendam os princípios da pesquisa e pensem soluções sustentáveis para problemas de sua própria realidade”, conta Anderson.“A gente tem rompido essa barreira de associar ciência somente às exatas ou às ciências da natureza. A ciência é muito maior que uma área. O perfil de um estudante de iniciação científica é o de um estudante inquieto”_ Fernando Moutinho, gerente de Educação Científica e Tecnológica do SESI Para Fernando Moutinho, gerente de Educação Científica e Tecnológica do SESI, o compromisso da iniciação científica é desenvolver cidadãos que possam fazer a diferença em qualquer lugar que estejam inseridos. “Às vezes, o estudante da iniciação científica nem é tão bom aluno em sala de aula. Só que ele passa a ver um significado do que está aprendendo em sala. A iniciação científica proporciona uma educação contextualizada, motivada e interessada. Se a gente acredita que quem faz a inovação é o ser humano, precisamos investir nisso”, comenta Moutinho. >
O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para marcas, em diferentes plataformas.>