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Estúdio Correio
Marília Gabriela Cruz
Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 05:00
Quando o agente de limpeza Dinailton Dias, 29 anos, se viu desfilando em uma passarela, quase não acreditou: “Me ver na passarela do Afro Fashion Day (AFD) foi a realização de um sonho. A gente demora muito a entender algumas coisas e ver um evento nessa magnitude e se imaginar naquela posição de protagonismo”, conta. O evento realizado pelo jornal Correio celebra o Salvador Capital Afro, marcando o início das comemorações do Mês da Consciência Negra, em Salvador, em 1º de novembro. “Sonhar em estar ali um dia, fazer parte, pertencer, foi algo que achava um pouco difícil de ser alcançado”.>
Dinailton acorda às 5h40 da manhã e chega ao trabalho um pouco antes das 7h. Já cortou grama, pintou meio-fio, colocou lona em encosta e atuou na varrição em grandes eventos, como o Festival da Virada. Também atuou na pandemia na limpeza de ruas e cemitérios, e ainda na retirada do óleo que surgiu nas praias. Hoje, ele faz parte da equipe que realiza a triagem do material reciclável. Depois que sai do trabalho, corre para o curso de teatro, paixão da qual não abre mão.>
Sotero
“Foi muito importante para mim representar mais de 5 mil colaboradores que atuam na área da limpeza urbana, assim como minha família. Durante a seletiva que aconteceu na empresa, estava todo mundo ali, me apoiando, torcendo junto. Minha mãe é gari há 28 anos, minha avó, minha tia, meu primo, minha irmã. Então, eu estou representando também essa mulher forte que me criou. Participar do Afro Fashion Day me permitiu representar toda uma força diante da invisibilização que se dá ao agente de limpeza que está ali para fazer a cidade funcionar”.>
Ifeoluwá Joshua, 25 anos, também representou na passarela mais negra do país. Ele começou como jovem aprendiz de varrição na Sotero e há dois anos está na área de coleta de resíduos urbanos. “Um dos motivos que me fazem despertar tão cedo todos os dias é a importância de manter a cidade limpa logo nas primeiras horas e poder voltar cedo para casa para ficar com minha família. Para mim, nosso trabalho significa saúde e bem-estar para toda a população”, afirma.>
Quem diria que um agente de limpeza, negro e oriundo de um bairro periférico, estaria mostrando ao mundo que a beleza existe em todo canto? “O AFD tem uma pauta social muito forte e acredito que a mensagem foi dada com sucesso. Durante o desfile, me senti feliz e realizado. Foi um sentimento de gratidão, pois muitos colaboradores da minha empresa, além de me ovacionarem, me encorajaram. Eu tinha uma missão e precisei cumpri-la. Se não fosse a iniciativa de inclusão, eu nunca teria pisado na passarela”.>
Para o diretor da Sotero, Carlos Neto, em uma cidade como Salvador, marcada por ancestralidade, movimento, arte e diferentes formas de existir, diversidade não é apenas um valor: é base. “Na Sotero, entendemos que cuidar dessa cidade exige reconhecer a riqueza de suas histórias, raízes e expressões culturais. Por isso, promovemos um ambiente em que cada pessoa possa trazer sua identidade, sua vivência e também sua criatividade. Acreditamos que equipes diversas pensam melhor, criam soluções mais completas e representam com mais verdade a população que servimos”.>
Carlos Neto,
diretor da SoteroA empresa, que foi uma das apoiadoras do Afro Fashion Day 2025, tem também outras práticas que consolidam o impacto e a importância que a diversidade tem para a marca. “Nossas ações são contínuas e práticas. Promovemos diálogos internos sobre respeito e equidade, fortalecemos políticas de inclusão e incentivamos que nossos colaboradores sejam protagonistas das próprias histórias”.>
Dar visibilidade a pessoas que, muitas vezes, estão à margem dos holofotes reforça o quanto cada trajetória merece ser vista, celebrada e respeitada. “Além disso, criamos espaços de valorização, como a participação no Afro Fashion Day, em que colaboradores puderam se inscrever, participar de seletivas e ocupar um palco de grande visibilidade. Isso simboliza nosso compromisso de enxergar e celebrar quem faz a cidade acontecer todos os dias. Para a Sotero, é reafirmar nosso compromisso com respeito, oportunidade e reconhecimento”, acrescenta Neto.>
Varredora de vias, Sueli Sousa, 63 anos, trabalha há cinco anos na Sotero e vê essas iniciativas dentro da cultura organizacional de perto. “Tenho um ótimo relacionamento com todos. Todos me tratam super bem, elogiam meu trabalho. Sou uma mulher correria, batalhadora. Passei por muita dificuldade, muita luta, mas fui muito acolhida. Eu me sinto lisonjeada e me sinto muito bem quando me elogiam, quando uma pessoa diz que eu sou uma negra bonita, que mesmo fardada eu faço diferença, que trabalho muito bem e deixo tudo limpíssimo. Nós podemos ser o que queremos”.>
O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para clientes, em diferentes plataformas.>