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Monique Lobo
Publicado em 22 de maio de 2015 às 13:52
- Atualizado há 2 anos
Quinze anos é uma data que merece ser comemorada. Afinal, é o baile de debutante. Não menos importante é a data para uma banda de rock. Talvez o bolo possa ser trocado pela guitarra, o vestido e o salto alto por uma calça jeans e um all star, e a tradicional valsa por ruídos e distorções.Composta pelos músicos Gustavo Mantovani, Thiago Guerra, Lucas Silveira e Mario Camelo,a Fresno reúne sucessos de várias fases da carreira no álbum gravado em São Paulo. (Foto: Divulgação)Assim foi o show da banda Fresno que aconteceu no dia 16 de outubro do ano passado, quando o grupo gaúcho, radicado em São Paulo, celebrou suas 15 primaveras. O registro do aniversário virou o álbum Fresno 15 Anos Ao Vivo, lançado este ano pela Sony Music em DVD e CD. A festa, realizada no Audio Club, em São Paulo, teve direção assinada pelo ator e diretor Raoni Carneiro. A produção ficou por conta da própria banda. “O processo de produção levou três meses. Decidimos repertório, ensaiamos e depois teve a luz, os conteúdos dos leds, para que essa dinâmica ficasse massa no vídeo. No final, estávamos nos descabelando, mas na hora deu tudo certo”, conta o vocalista Lucas Silveira, 31 anos.O cantor, junto com o guitarrista Gustavo Mantovani, o Vavo, 32, está na banda desde a sua formação, em 1999. Em 2010, o grupo recebeu o tecladista Mario Camelo, 30, e em 2013, a bateria foi assumida por Thiago Guerra, 31. “As mudanças na banda sempre foram muito naturais. A Fresno não tem lugar pra quem não tem ela como prioridade. Todo mundo que entrou depois deu o sangue, porque quem entra quer conquistar o público que já temos, quer ser o mais foda possível pra que as pessoas reconheçam sua qualidade”, explica. A escolha do repertório não foi tarefa fácil. Afinal, resumir 15 anos em duas horas é uma missão ingrata. “E a gente nem é tão bom em resumir”, brinca Lucas. “Se fosse um disco normal, seriam 12 ou 13 músicas, mas a Fresno é muito maior do que isso”, explica. Por isso, o músico e seus companheiros tiveram que suar e fazer uma mistura com grandes sucessos e canções pouco conhecidas do público. “Tem músicas que são grandes sucessos que tinham que estar, tem aquelas que os fãs gostam muito e que às vezes nem são muito famosas, e tem aquelas que a gente queria que entrasse, que a gente considerou importante para apresentar a banda para os que ainda não são fãs”, analisa Lucas. Por fim, explica, o trabalho foi criar uma linha do tempo com cada faixa que fizesse lógica, “desde uma balada no piano até um metal”. Com isso, entraram no álbum sucessos como Quebre as Correntes, Alguém Que Te Faz Feliz, Desde Quando Você Se Foi e Deixa o Tempo. Tem, também, espaço para músicas menos notáveis como Manifesto, que tem a participação em vídeo de Emicida, Eu Sou Maré Viva e Sobreviver e Acreditar. “Isso é um resumo de tudo que a gente fez nos últimos 15 anos. A gente busca sempre uma música que cause uma sensação nas pessoas”, revela.TransiçãoUma década e meia de estrada é muita coisa. Ainda mais para uma banda de rock que começou com integrantes ainda na adolescência. Quando alcançou o auge, nos anos de 2006 e 2007, a Fresno integrou uma geração que passeou pelo emotional core, o emo core, uma variação do hard core com uma musicalidade mais melódica e letras confessionais. Além das canções, o visual da banda também espelhava essa fase. Dez anos depois, mais maduro, o grupo trocou as calças justas e o cabelo espetado por um aspecto mais indie. E o som seguiu o mesmo caminho. “Acho que a mudança de som é natural. Com o tempo, seu gosto musical vai mudando, vai amadurecendo. Talvez o meu amadurecimento me leve um dia a fazer um disco bobalhão, mas o importante é mudar, nem que não seja sempre o melhor, mas mudar sempre”, admite o cantor. A mudança ajudou a banda a se manter viva no cenário musical. Diferente de outros grupos da sua geração, a Fresno ainda tem uma base de fãs fiéis que garante a longa estrada. “Eu percebo que, da nossa geração e da anterior, todas as bandas que se mantiveram foram as que souberam sempre se reinventar e responder aos novos tempos, e que sempre surgem com uma proposta original”, avalia. Afinal, assim como os integrantes, o público também cresce e é preciso acompanhar essa transição. “É difícil, mas ser fiel a sua proposta garante um público tão fiel quanto. A coerência é o que faz crescer. Cabe ao artista crescer junto com o público. Se estagnar com medo de perder o público é aí que perde mesmo”, diz.ProduçãoOs anos deram experiência e ousadia para o vocalista se jogar em outra área: a produção. Lucas começou produzindo os projetos da banda. “Comecei a produzir porque não tínhamos dinheiro para chamar alguém”, conta.Da necessidade nasceu a vontade e o músico passou para outros trabalhos. “O produtor é um músico que tem uma visão global da história. Tem vários produtores que são péssimos músicos, mas tem a visão de onde aquela música vai chegar”, explica. O bom ouvido, que ele garante ter, o levou a produzir os novos discos da banda paulista RPM e do cantor gaúcho Dom Pedro. “Tem que ter uma biblioteca grande na cabeça. O disco da RPM, por exemplo, é rock, mas é rock dos anos 80. Tem que ter referência de repertório para chegar em uma coisa nova”, afirma. Antenado, o músico concorda que a cena do rock brasileiro encolheu nos últimos anos. E para ele os culpados são os próprios “roqueiros”. Eles internalizaram um discurso da indústria de que o gênero não é popular. Mas se pegarmos os maiores nomes da música brasileira, vamos ver que vários deles eram roqueiros e faziam um som irado, e dialogam com pessoas que não eram fãs de rock, era universal”, conta. Para ele, esse comportamento seletivo esvaziou o gênero. “O rock foi virando o nicho do nicho e isso empobrece. Teve, também, o aperto das rádios precisando de uma audiência maior e as gravadoras querendo investir em novos artistas. Mas no underground o rock sempre teve espaço, o mesmo só não acontece na TV”, pondera. Apesar do período difícil, o cantor ainda sonha em conquistar novos ares. “Mesmo tendo uma banda que as pessoas conhecem, eu percebo que tem muita coisa a ser feita. Ainda existem regiões que a gente não consegue fazer show como queríamos, tem lugares que nunca conseguimos chegar. Tem muito espaço a ser conquistado na música”, reflete. A nova turnê já pegou a estrada. Passou por Porto Algre e interior gaúcho. Agora, a Fresno segue para o Sudeste, passando por São Paulo e Rio de Janeiro. “Mas queremos rodar pelo Brasil inteiro. Passamos em Salvador com a turnê passada, e com certeza vamos voltar em breve”, promete. >