Greve do transporte metropolitano afetou mais de 100 mil usuários

Paralisação dos rodoviários metropolitanos teve início na madrugada desta quarta-feira (13) e foi suspensa no fim da tarde

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  • Larissa Almeida

Publicado em 13 de março de 2024 às 18:00

Greve teve início na madrugada desta quarta-feira (13)
Greve teve início na madrugada desta quarta-feira (13) Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Pelo menos 100 mil pessoas usuárias de mais de 30 linhas de ônibus metropolitanos dos municípios de Lauro de Freitas, Candeias, Camaçari, São Francisco do Conde, Santo Amaro, Madre de Deus e parte de Simões Filho, foram impactadas pela greve de rodoviários metropolitanos, que teve início na madrugada desta quarta-feira (13) e foi suspensa no fim do mesmo dia. Sem transporte urbano, muitas deixaram de trabalhar ou precisaram recorrer aos transportes por aplicativo como alternativa.

A recepcionista Viviane Farias, de 32 anos, conta que normalmente gasta R$4,30 para ir até a clínica onde trabalha em Lauro de Freitas. Com a greve nesta quarta, ela precisou desembolsar R$30 de Uber no trajeto de ida e volta para o médico e estava inconformada porque precisaria gastar mais para chegar no trabalho. “Está sendo horrível me locomover aqui hoje. Infelizmente estou pedindo um Uber e está demorando. Estamos sem um transporte público, que já não é bom aqui em Lauro de Freitas”, reclamou.

Uma jovem de 18 anos, que preferiu não se identificar para não correr o risco de ser prejudicada no emprego, foi pega de surpresa pela notícia da greve um pouco antes de sair de casa. Para provar para o chefe que realmente não havia ônibus nos terminais, ela foi até a estação na tentativa de conseguir financiamento da empresa para ir até o trabalho, o que não conseguiu.

“Eu tinha que vir porque meu chefe é todo desconfiado. Se eu falasse que estava tendo greve e não fosse para o ponto de ônibus, ele ia falar horrores. Mas eu não tenho dinheiro e o que ele me deu está no cartão de transporte, então não vou conseguir trabalhar hoje. Vou para casa, não tenho o que fazer. Está sendo um transtorno e isso me abalou, porque não gosto de quebrar o que eu tenho que cumprir”, lamentou.

Também surpreendido pela falta de ônibus quando estava a caminho de Arembepe, o marceneiro Glaudo Araújo decidiu adiar o serviço que faria naquele dia já na metade do caminho. “Eu desisti e vou voltar para casa porque, mesmo se eu for, para voltar mais tarde vai ser mais complicado ainda. Vou ter prejuízo porque tinha que cumprir com o serviço essa semana e agora não vou conseguir mais. Vou adiar e ter o pagamento adiado também”, disse.

O jardineiro e piscineiro Edvaldo Oliveira, 57 anos, estava se preparando para ir até Vilas do Atlântico quando soube da greve. Sem alternativas, ele foi de Brotas, em Salvador, até Lauro de Freitas fazendo uso do metrô. Ao desembarcar na estação Aeroporto, sua única opção foi ir a pé. “Andei uns dois quilômetros debaixo desse sol que Deus deu, quente para caramba. Se eu pegar um mototáxi, só vai querer cobrar R$30 ou $40, então vou andando devagarinho até onde der. Está difícil”, concluiu.

Greve

A greve foi decretada por parte dos rodoviários que operam o transporte na Região Metropolitana de Salvador (RMS) e na Linha Verde. Aproximadamente 1,8 mil rodoviários e 300 ônibus ficaram parados na garagem, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários da Região Metropolitana (Sindmetro-BA).

Os ônibus voltam a circular normalmente na Região Metropolitana a partir de quinta-feira (14), após a categoria se reunir com o patronado e não conseguir fechar acordo. No entanto, uma nova reunião foi agendada para o dia 26.

As empresas Atlântico, Avanço, ATP, Expresso Vitória e Costa Verde aderiram à greve. A paralisação se deu após 102 dias de negociação sem sucesso da categoria com o sindicato patronal. Os rodoviários reivindicam reajuste salarial de 11%, reajuste de 20% no ticket alimentação e 100% na cesta básica, além de outras solicitações. Mas, segundo o sindicato, os empresários ofereceram apenas reajuste de 2,75% no salário, 2,75% no ticket e 2,75% na cesta básica, tendo como condição de atendimento das solicitações o reajuste da tarifa do transporte urbano.

“Nós temos pautas maiores que essa, mas pela condição de precarização do serviço metropolitano, nós estamos nos pautando hoje apenas nessas três cláusulas. Queremos a atualização da cesta básica pelo preço de mercado, equiparação salarial pelas perdas que tivemos na pandemia até 2023, e aumento de 20% no ticket alimentação para dar condição de o trabalhador ter uma alimentação digna na rua”, justificou Catarino Fernandes, diretor de Comunicação do Sindmetro-BA.

Segundo o presidente do Sindicato, Mário Cleber, se não houver um acordo, os coletivos param de circular novamente no dia 27. "Depois de uma reunião traumática, em que negamos a proposta patronal de 4% no salário, ticket e cesta básica. Queremos recomposição salarial, mas não somos intransigentes", justifica a interrupção da greve.

Impactos

Na estação Aeroporto, em Salvador, a greve afetou o movimento do local, que registrou aglomeração de pessoas à espera de transportes por aplicativo e vans coletivas. A Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) informou que foi feito reforço nas linhas que atendem os terminais onde há operação do transporte metropolitano.

A Prefeitura de Lauro de Freitas disponibilizou operação emergencial com 100% da capacidade da frota da empresa que presta serviço para o transporte municipal. 110 microônibus da empresa Translauf e 110 veículos da empresa Cooperlotação, que presta serviço complementar ao Governo do Estado, foram colocados em circulação para fazer o atendimento da população.

Procurada, a Prefeitura de Camaçari, por meio da Superintendência de Trânsito e Transporte Público (STT), disse que está empenhada em garantir a mobilidade urbana dentro da sua jurisdição, mas “não possui competência para intervir em questões que dizem respeito ao transporte coletivo metropolitano, e à sua regulação, cabendo tal responsabilidade à Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba)”.

As prefeituras de Santo Amaro, Candeias, São Francisco do Conde, Simões Filho e Madre de Deus foram procuradas, mas não retornaram até o fechamento desta reportagem.

A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) foi procurada para dar um posicionamento sobre a greve e informar o número de usuários do sistema de transporte rodoviário metropolitano, mas também não respondeu.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro