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Agressão e xingamentos aconteceram em fevereiro, na loja da vítima
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2024 às 15:21
A mulher acusada de agredir a comerciante judia Herta Breslauer em Arraial D’Ajuda, em fevereiro, agora virou ré por injúria racial. Ana Maria Leiva Blanco foi filmada, em vídeo que viralizou nas redes sociais. A informação é do blog da jornalista Andreia Sadi, no G1.
A agressora entrou na loja da empresária e deu um tapa no rosto dela. Ela foi contida pelo próprio namorado. A própria vítima gravou o vídeo, que mostra Ana Maria a chamando de "maldita sionista" e "assassina de crianças", em referência à guerra que acontece em Gaza desde outubro do ano passado.
Inicialmente, as duas mulheres tiveram um desentendimento em uma rede social por conta da guerra entre Israel e o Hamas. Herta contou que bloqueou Ana Maria, que é chilena, mas depois a situação passou para a discussão presencial e agressão.
Um boletim de ocorrência foi registrado. O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) decidiu em 7 de março que Ana Maria deve responder judicialmente, se tornando ré. Ela tem até 10 dias para apresentar defesa. A mulher não quis comentar a decisão.
Agressão
Em nota na ocasião do episódio, a Polícia Civil da Bahia informou que, no interrogatório, a investigada confessou os xingamentos, mas negou ser antissemita ou terrorista.
Alegou que já conhecia a vítima e teria sido provocada por esta antes dos fatos, tendo sido chamada de terrorista e acusada de ter abandonado um filho. Ainda conforme o interrogatório, ela faz uso de remédio controlado e teve um ataque de fúria ao passar em frente à loja da vítima.
A advogada de Herta, Lilia Frankenthal, disse à reportagem que a vítima está bastante assustada e optou por não falar com a imprensa. "A Herta está muito abalada. Ela mora lá há 14 anos e nunca aconteceu nada, é uma pessoa discreta."
Herta passou por exame no Instituto Médico Legal (IML) para a constatação de possíveis lesões decorrentes de um tapa no rosto. "Ainda que não se constatem lesões, aconteceu a via de fato, uma contravenção penal devido ao tapa que ela recebeu."
Conforme a advogada, Herta e a mulher acusada de agressão se conheciam. "Os filhos das duas são amigos de infância. Elas não são amigas, mas já se conheciam. Consta que algum tempo antes desse fato elas tiveram uma discussão sobre a guerra de Israel, mas nada relevante e depois disso não se falaram."
Na sexta-feira, Herta estava sozinha quando a mulher entrou. "A agressora perguntou se ela estava feliz e já deu um tapa no rosto. Depois começou a xingar e quebrar tudo. A Herta começou a filmar e o namorado tirou ela à força", contou.
Lilia disse que pediu a prisão da suspeita, com base na Lei 14 532/2023, de janeiro do ano passado, que equipara a injúria racial ao crime de racismo. A nova lei tornou a pena mais severa, com reclusão de dois a cinco anos, além de multa, não cabendo fiança. O crime não prescreve.
Segundo a legislação, deve ser considerada como discriminatória qualquer atitude ou tratamento dado à pessoa ou a grupos minoritários que cause constrangimento, humilhação, vergonha, medo ou exposição indevida, e que usualmente não dispensaria a outros grupos em razão da cor, etnia, religião ou procedência.
Em nota conjunta, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Sociedade Israelita da Bahia classificaram como "repugnante" a agressão contra a comerciante judia.
"O antissemitismo deve ser condenado por todos, e sua explosão nos últimos meses aqui no Brasil e no mundo é consequência de visões odiosas e distorcidas sobre Israel e judeus manifestadas por personalidades e distribuídas pelas redes sociais. Isso precisa acabar para evitarmos consequências ainda mais graves", diz a nota.
A reportagem não conseguiu contato com a investigada. Durante o depoimento à Polícia Civil, ela não foi acompanhada por um advogado e, até o início da tarde, não tinha constituído defensor para o processo. O espaço está aberto para a defesa.