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Raquel Brito
Publicado em 15 de julho de 2023 às 05:00
Nesta sexta-feira (14), o barracão do terreiro Ilê Axé Opô Aganju, em Lauro de Freitas, ferveu em alegria. Lotado de membros do Aganju vindos de vários estados do país, o salão celebrou a chegada de dois novos mobás, que são os ministros de Xangô e têm a função de ajudar o babalorixá em suas obrigações e decisões. Com os dois, o quadro de mobás ficou completo pela primeira vez nos 51 anos de existência do terreiro. Ao todo, devem ser 12, número que só foi alcançado agora. >
Para Pai Obaràyí Balbino, babalorixá e fundador do Aganju, é um momento de orgulho ver o ministério completo pela primeira vez. "Acho que esse é o único terreiro aqui da Bahia que completou os 12 mobás. É uma missão cumprida ver os 12, eu sinto amor, afeto e carinho. Eu consegui, em 51 anos de terreiro, completar os 12, o que é muito difícil”, celebra.>
Numa cerimônia marcada pela dança, pela energia dos presentes e pelo alujá, toque dos atabaques que provoca a vinda de Xangô, foram colocadas as faixas nos mais novos ministros do orixá da justiça, dos trovões e do fogo. Durante o ritual, os orixás vêm à terra e dançam as cantigas de Rum, executadas para convocá-los. Depois, eles se trocam, para fazer a grande festa vestidos a caráter. >
Os mais novos mobás são Waldemiro Cerqueira, administrador de 51 anos, e o historiador Felipe Valente, de 35. Waldemiro mora em São Paulo há alguns anos e está atendendo ao segundo chamado do orixá. Segundo a esposa dele, o primeiro chamado foi em São Paulo, há 22 anos, mas ele não assumiu.>
Já Felipe fechou o quadro dos ministros de Xangô do Aganju, ocupando a 12ª posição na hierarquia de mobás. Até o momento de serem apresentados à comunidade, na sexta à noite, os dois permaneceram recolhidos, se preparando espiritualmente para começar a cumprir as novas obrigações.>
Na apresentação, todos os orixás e os dez outros mobás cumprimentaram e receberam de braços abertos os dois novos ministros, colocando neles, oficialmente, as faixas. Após isso, o mobá mais antigo no cargo, Onan Mobá Valdir, discursou emocionado, relembrando os que vieram antes, como o fotógrafo Pierre Verger e o antropólogo Júlio Braga. Em recepção, os mobás balançaram os seus xéres, os chocalhos dourados representativos de Xangô, para saudar o rei do trovão.>
Para Onan Mobá Valdir, a chegada de dois novos mobás é uma vantagem para a administração do terreiro. “[Eles vão] somar. Porque se você tem um, dois ou três, você faz. Se tiver 12, é bem mais fácil. Serão, agora, 12 cabeças pensantes, pensando e executando tudo aquilo referente à casa de Xangô, ajudando o babalorixá nas missões da administração da casa. Um terreiro não consegue sobreviver se não tiver ajuda de todos, e nós temos muito dessa responsabilidade”, afirma.>
No terreiro, em celebração aos novos membros do ministério de Xangô, uma fogueira queimará por 12 dias, iniciados também na sexta-feira (14). Para eles, o fogo, um dos símbolos do orixá, representa a vida, e precisa haver o equilíbrio, que mantém a chama acesa ininterruptamente durante as quase duas semanas: em excesso é destruição e, quando falta, significa fraqueza. >
O chamado para tornar-se mobá acontece em cerimônias do terreiro, a partir do próprio orixá, não do povo. De acordo com Onan Mobá Valdir, é percebendo a proatividade e participação constante de alguém que Xangô faz a escolha de seus ministros. “A escolha não é algo que cai de paraquedas. Tem que ter a sua participação, a sua dedicação e o seu amor. A pessoa tem que estar pronta e disposta a fazer o que é necessário, estar presente, participar”, diz.>
Ekeje Mobá Alisson, de apenas 16 anos, é um símbolo dessa dedicação. Escolhido com apenas nove anos, é o mobá mais jovem dos 12, mas desde que foi chamado realiza as mesmas funções e mesmas responsabilidades que os mais velhos. Nas palavras de Onan Mobá Valdir, ele é mais novo, mas “mais antigo que muitos”.>
1° - Onan Mobá Valdir >
2° - Otun Mobá Dadá Jaques>
3° - Ossi Mobá Renivaldo>
4° - Ekérin Mobá Bira>
5° - Karun Mobá Fernando>
6° - Ekéfé Mobá Messias>
7° - Ekeje Mobá Alisson>
8° - Ekéjó Mobá Wanderson>
9° - Késsan Mobá Geraldo>
10° - Ideméwa Mobá Thales>
11° - Kókanla Mobá Waldemiro>
12° - Ekéjila Mobá Felipe>
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo>