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Nilson Marinho
Publicado em 7 de julho de 2025 às 10:06
Apolo é um cãozinho esperto, afetuoso e serelepe. Controlá-lo é quase impossível. Ficar em casa não é seu programa favorito. Por isso, aprendeu sozinho a destravar cadeados, abrir o portão e escapar para a rua. Não é fácil para sua tutora, a técnica de enfermagem Elaina Barreto, mantê-lo na coleira. >
“Apolo foi adotado depois que meu filho me pediu um irmão. Sugeri um cachorro, para fazer companhia. Entrei na OLX, encontrei uma pessoa do bairro da Itinga que estava doando e fui buscar. Ele era o último da ninhada, bem miudinho, e ninguém queria. O pai era Rottweiler, mas ele nasceu pequeno, tão pequeno que achei que nem fosse crescer. Trouxe assim mesmo”, conta a tutora.>
Ela já havia desconfiado que o animal nutria um amor pelo Esporte Clube Bahia. Isso porque, quando os membros da torcida organizada Bamor passavam pela rua da casa, em Cosme de Farias, onde eles moram, cantando e batucando os tambores em direção à Arena Fonte Nova, Apolo atingia seu pico máximo de energia.>
Invasão>
Foi num desses dias de jogos do tricolor baiano que, num descuido, Apolo fugiu de casa e decidiu acompanhar os membros da torcida organizada. Pulou, latiu, brincou com a rapaziada até chegar ao estádio. Não se sabe como, mas ele foi capaz de driblar o esquema de segurança da Arena e se infiltrar no setor Norte Inferior, onde a organizada se concentra.>
Apolo gostou da aventura, e as idas aos jogos do Bahia se tornaram recorrentes. Mas a entrada de animais na Arena Fonte Nova é proibida, com a exceção dos cães-guia para torcedores com deficiência visual.>
“Apolo gosta da movimentação, da batida da bateria, do canto da torcida. Um dia, foi atrás deles e conseguiu entrar na Arena Fonte Nova. Começou assim. Depois disso, virou rotina: em todo jogo do Bahia, Apolo estava lá. Sempre infiltrado no meio da Bamor”, conta Elaina.>
Proibição>
A presença do cãozinho começou a chamar a atenção da equipe de segurança do estádio, sobretudo porque vídeos dele se divertindo no meio da torcida se tornaram virais nas redes sociais. Não foi apenas uma vez que ele foi “detido” pelos agentes e “expulso” do estádio. Como, na maioria das vezes em que Apolo vai à Fonte, o Bahia vence seus adversários, ele se tornou um xodó, e também uma espécie de “amuleto da sorte”.>
“A entrada dele acontece quando os torcedores estão entrando em grupo, com os bandeirões e a bateria. Ele espera ali na entrada do Norte Inferior e entra no meio da multidão. Roda por vários setores, mas sempre volta para a Bamor. Quando os seguranças tentam tirá-lo, ele se esconde no meio dos torcedores, dificultando a retirada. Isso aconteceu duas ou três vezes. Depois que os vídeos viralizaram, a segurança passou a barrar mais. Hoje, por questão de protocolo, ele não pode mais entrar no estádio”, lamenta a tutora.>
Com a repercussão das escapadas de Apolo para a Fonte Nova, Elaina decidiu criar uma conta no Instagram. Na rede social, o animal construiu uma comunidade de admiradores fiéis: são quase 12 mil seguidores. E foram eles que ajudaram o cãozinho no momento mais difícil da vida dele.>
Momento delicado>
No feriado de 21 de abril, o Bahia entrou em campo contra o Ceará pela 5ª rodada do Brasileirão. Apolo foi barrado na entrada do estádio, mas, mesmo assim, conseguiu entrar. O time baiano venceu por 1 a 0. No sábado seguinte, o animal amanheceu estranho. Estava apático, com urina escura, sem comer. O diagnóstico veio depois de muita correria: babesiose, uma infecção causada por carrapatos que atinge o sangue. A tutora não tinha dinheiro, mas tinha fé, e seguidores.>
No Instagram, Apolo já era conhecido. Bastaram 30 minutos para que a primeira vaquinha batesse R$ 1.250. Em 40 minutos, vieram os valores dos remédios e do tratamento completo.>
“Sou muito, muito grata aos seguidores de Apolo. Aqueles 11 mil seguidores não são números falsos, são pessoas reais que interagem, que se preocupam. Os stories dele batem 5 mil, 6 mil visualizações. É uma base fiel. Gente que realmente se importa com ele”, diz Elaina.>
Foram 28 dias de antibióticos, duas doses de Imizol, acompanhamento veterinário, exames. Hoje, curado e cheio de energia, Apolo está mais forte do que nunca, mas continua proibido de entrar no estádio. E sente falta. Quando a torcida passa, ele se agita. Quando vê a Fonte Nova de longe, chora. Já fugiu de casa, inclusive durante o tratamento, e foi parar direto no estádio. Um vizinho colocou Elaina na garupa da moto e ela foi buscar seu fiel escudeiro no portão da arena.>
Impedido de fazer aquilo que mais gosta, agora, Apolo destrói sofás, portas e vassouras. Não é rebeldia. É saudade de estar nas arquibancadas da Arena Fonte Nova, garante a tutora.>
“A gente só quer que deixem Apolo entrar na Fonte por cinco ou dez minutinhos. Só pra ele sentir de novo a energia da Arena, a vibração da Bamor. Depois a gente vai embora. Entendemos as normas, os protocolos, tudo. Mas a verdade é que ele sente falta. E os sinais estão aí. Cada dia ele fica mais estressado. Já levamos ele de carro até as imediações do estádio. Quando ele chega lá, enlouquece de alegria. É amor puro. Amor mesmo”, finaliza Elaina.>