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Gilberto Barbosa
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 05:00
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a Bahia registrou 159.337 nascimentos em 2024. O número é o menor contabilizado pelo órgão nos últimos 50 anos e representa uma redução de 6,6% em relação a 2023. O dado também mostra que o último ano foi o sexto seguido de redução, uma sequência que começou em 2018, quando 202.686 crianças nasceram no estado. >
Ainda segundo o órgão o fenômeno ocorreu em 69,8% dos municípios baianos. As maiores quedas foram vistas em Salvador (9,2%), Feira de Santana (8,3%) e Vitória da Conquista (6,3%). A capital baiana registrou o terceiro maior recuo entre as capitais brasileiras e o menor índice desde 1974, quando a pesquisa foi iniciada. >
Supervisora de Disseminação de Informação do IBGE, Mariana Viveiros explica que esse fenômeno já era notado pelo órgão desde 2010. Os dados seguem uma tendência que não é vista apenas no Brasil, mas em todo o mundo. >
“Este é um fenômeno consistente, disseminado e que não dá sinal de que será revertido. No Brasil, demora um pouco para chegar no Nordeste, mas chega com bastante força. Ele tende a se estabilizar em algum momento, mas ainda não há na demografia mundial um registro de que tenha sido superado. Muito pelo contrário, o que vemos são países buscando formas de incentivar o aumento da natalidade”, pondera. >
A professora Satie Ogasawara, 39, lembra que começou a amadurecer a ideia de não ter filhos pouco antes de completar 25 anos. O nascimento do seu sobrinho lhe deu uma percepção daquilo que envolvia ter um filho e concretizou a certeza na sua decisão.>
“Adoro criança, trabalho com criança e quando meu sobrinho nasceu tive um pouco de noção da responsabilidade que é ter filho. Eu comecei a falar que não queria ter filho e as pessoas diziam isso era porque era muito nova e que isso ia passar quando ficasse mais velha. Eu cheguei aos 30, estou perto dos 40 e sigo sem esse desejo”, confirma. >
Ela lembra que chegou a cogitar fazer o congelamento de óvulos aos 36 anos, pensando em esticar o tempo de decisão por ter filhos, mas acabou desistindo da ideia. “Cheguei até a juntar o dinheiro, mas desisti por ser muito investimento em uma coisa que eu não tenho desejo. Quando vi o dinheiro na conta, preferi viajar do que pagar pelo procedimento”, completa Satie.>
População de idosos
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A estudante Rejane Santos, 29, também conta que já teve vontade de ter filhos, mas que desistiu conforme foi amadurecendo e observando a sociedade que a cercava. “Atualmente, não há mais diálogo e a violência tem sido resposta para tudo. Eu faço uso de anticoncepcional e acompanho regularmente o meu ciclo para evitar uma gravidez, mas eu e meu companheiro pensamos em algo permanente, como a vasectomia”, revela.>
A percepção de Rejane é compartilhada pela estudante Pietra Almeida, 23, que elenca outros fatores que a desmotivam quanto a ideia da maternidade. “É muito difícil achar um parceiro comprometido com a paternidade. Então, penso que só posso ter um filho se tiver capacidade de ser mãe solo. Também há outros motivos, como as dificuldades do mercado de trabalho, a sociedade misógina que vivemos e as dificuldades da maternidade que uma mãe passa sozinha, até mesmo quando tem rede de apoio”, explica Pietra. >
Entre os fatores apontados por Mariana como responsáveis pelo fenômeno estão o avanço educacional, a inserção das mulheres no mercado de trabalho e uma mudança cultural, na qual as mulheres passam a investir o seu tempo em outros aspectos considerados tão, ou mais importantes, que a maternidade. >
“Os números de nascimentos que vemos hoje são fortemente puxados pelas mulheres com mais de 30 anos. Isso não era uma realidade há 15 anos e indica que as mulheres estão escolhendo investir em outros aspectos das suas vidas e outras experiências que não seja apenas a de ser mãe”, pondera.>
Além disso, a supervisora do IBGE explica que o planejamento familiar e a postergação da maternidade são uma tendência entre as mulheres que optam por engravidar, reduzindo o número de filhos por família. “O reflexo disso está em um crescimento pequeno da população e no aumento da proporção de idosos, sendo o público de 40 anos é o que mais cresceu na Bahia no Censo de 2022. Com isso, você tem uma mudança do perfil demográfico que passa a ensejar mudanças em outros aspectos da sociedade afim de ajustá-la a esse novo perfil populacional”, finaliza Mariana.>