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Própria para banho? Saiba por que a qualidade da água das praias da Bahia se tornou um mistério

Sem monitoramento entre junho e novembro, balneabilidade das praias é desconhecida às vésperas do verão

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 05:30

Praia da Paciência
Praia da Paciência Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Ao longo de cinco meses, as praias da Bahia ficaram sem qualquer tipo de acompanhamento que pudesse indicar a qualidade das águas salinas para banho. É que o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), autarquia da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) responsável pelo monitoramento das condições de balneabilidade das praias, suspendeu a atividade entre junho e novembro deste ano, alegando “questões contratuais”. Segundo especialista, há risco de que milhares de banhistas possam ter sido expostos a condições insalubres por falta de informações do órgão.

De acordo com o Inema, a última vez que o monitoramento da balneabilidade deixou de ser realizado pela autarquia foi durante a pandemia de Covid-19, quando havia recomendação, por meio de decreto das autoridades municipais e estaduais, para que toda a população evitasse aglomerações em locais públicos, incluindo praias.

Praia da Terceira Ponte por Arisson Marinho/CORREIO

Desde então, as amostras de água em 147 pontos na costa baiana eram analisadas sistematicamente, semanalmente, no período da manhã, em locais com maior concentração de banhistas. O cumprimento dessa atividade estava de acordo com a Resolução nº 274/2000 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que estabelece as diretrizes para determinar se uma praia é própria para banho ou não.

A partir do monitoramento da balneabilidade, é possível identificar se as águas salinas estão com quantidades permitidas de coliformes fecais, Escherichia coli (bactéria causadora de infecções urinárias e gastroenterites), Enterococos (bactéria causadora de infecções gastrointestinais) ou floração, isto é, a proliferação excessiva de microrganismos aquáticos, principalmente alga.

Na ausência dessa inspeção, os ricos à saúde dos banhistas preocupam especialistas. É o caso de José Maria Landim, professor titular de Geologia Costeira e Sedimentar da Universidade Federal da Bahia (Ufba), que destaca que os temporais ocorridos em toda a costa baiana, no último mês, podem ter deixado a balneabilidade comprometida em diversos pontos do estado.

“Os maiores riscos das praias para a saúde humana aparecem depois de uma chuva forte. Quando chove, as águas lavam as ruas da cidade e tem material que é descartado nas ruas que aumentam a incidência de coliformes fecais nas praias. Por isso, fica arriscado tomar banho em condições de chuva como as que ocorreram no final de novembro e início de dezembro”, explica.

Com a presença de dejetos no mar, aumenta também a quantidade de vírus, bactérias e germes patogênicos que podem desencadear, além de infecções intestinais e urinárias, quadros de dermatites, doenças de contato e até hepatite. Para José Maria Landim, o monitoramento da balneabilidade é fundamental para preservar os banhistas dessas doenças que podem surgir pós-chuva, mas também para alertá-los sobre as condições mais difíceis de serem identificadas no dia a dia.

“Existem rios que desaguam na costa que são esgotos e as pessoas precisam ter consciência sobre quais praias ficam impróprias para banho quando isso acontece. Agora que vai começar a estação turística, é ainda mais importante que os usuários saibam disso. A olho nu, uma praia com água turva tem menos condição de balneabilidade, mas há inadequações para banho que só podem ser identificadas por meio do monitoramento”, diz.

O Inema foi questionado pela reportagem a respeito das questões contratuais que levaram a autarquia a suspender o acompanhamento da situação da balneabilidade das praias baianas, mas não obteve resposta. A entidade, no entanto, frisou que a atividade foi retomada normalmente pela equipe de análise neste mês de dezembro.

“Após as análises das amostras realizadas por cinco semanas consecutivas, as praias são classificadas em duas categorias: própria e imprópria, sendo divulgadas ao público posteriormente”, escreveu o Inema em nota.

O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) foi procurado pela reportagem para saber se estava ciente da interrupção do monitoramento da balneabilidade por parte do Inema e se alguma medida de responsabilização foi ou seria tomada pelos meses que a informação não foi divulgada ao público. A tentativa de contato foi realizada por e-mail na terça-feira (9), às 16h02, e por WhatsApp, no início da tarde de quarta-feira (10), mas não houve retorno.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão federal de fiscalização ambiental vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), também foi procurado para responder a mesma solicitação, uma vez que, conforme o Conama, na “ausência ou omissão do órgão de controle ambiental, o IBAMA atuará, diretamente, em caráter supletivo”.

O Ministério do Meio Ambiente disse que possui competências específicas na formulação de políticas e programas para a conservação dos ecossistemas marinhos e que o monitoramento da balneabilidade das praias realizado pelos órgãos ambientais estaduais é feito de maneira autônoma e independente, conforme pacto federativo.

“Portanto, compete aos estados, nesse caso específico ao Inema, a responsabilidade sobre a sistemática de seu monitoramento e eventuais alterações de fluxos, padrões e processos”, ressaltou.

O CORREIO questionou se, na ausência da informação sobre balneabilidade das praias da Bahia entre junho e novembro, o órgão federal não entendia que houve omissão e se alguma medida seria tomada. O MMA reforçou que o posicionamento era o mesmo.