Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 6 de novembro de 2025 às 05:30
Queridinha dos soteropolitanos e turistas, a praia da Barra já está vivenciando dias de verão. Mesmo no meio da semana, já há registros de lotação, pessoas disputando espaço com sombreiros e até o ressurgimento de uma dúvida típica da alta estação sobre a cor da areia – que é mais escura que a de outras praias – presente no trecho após o Farol. Nas últimas semanas, a areia ganhou tons ainda mais acentuados por conta da tempestade que acometeu Salvador no final de outubro e chamou a atenção de banhistas.
>
O estudante universitário Matheus Duarte, 22 anos, passou pela praia há cerca de duas semanas e notou a coloração mais forte que o comum. “Imagino que seja por descarte incorreto de dejetos, sujeira e até mesmo esgoto”, afirmou ele, que, mesmo chegando a essa conclusão, não abre mão de frequentar a praia. “É ótima para banho, com uma maré mais tranquila e ótima para nadar, diferente de outras praias próximas de onde moro”, justificou. >
Quem também pensava se tratar de poluição é a corretora de imóveis Anna Leal, 34, que estava por lá no último domingo (2). “Acredito que seja esse o motivo, porque vejo muitas garrafas, tampinhas, palitos e outras coisas na areia. O Porto é lindo, as pessoas é que não sabem aproveitar”, afirmou. >
Areia da Praia da Barra
Apesar de a praia da Barra lidar com o descarte incorreto de resíduos, não é esse o motivo por trás da areia preta à beira-mar. O que ocorre naquela região, inclusive, é um fenômeno natural e bastante comum no litoral brasileiro, especialmente no extremo sul da Bahia, conforme esclarece José Maria Landim, professor titular de Geologia Costeira e Sedimentar da Universidade Federal da Bahia (Ufba). >
“Na praia da Barra, próximo ao Cristo e ao Farol, em grande parte há minerais pesados, que têm uma densidade maior do que a areia de coloração normal da praia. A areia comum é composta por um mineral chamado quartzo, enquanto esses minerais pesados têm o dobro da densidade do quartzo. O principal entre eles é a ilmenita, que não é uma poluição, nem traz problemas para a saúde humana”, explica. >
É nos pontos com maior presença de pedras na praia da Barra que a faixa de areia costuma ser mais escura. Isso porque o atrito das ondas contra as pedras promove a remoção mecânica desse mineral. No Porto da Barra, por exemplo, é nos trechos mais próximos das pedras que esse fenômeno acontece – daí o fato de a estudante universitária Micaele da Matta, 23, nunca ter notado, mesmo sendo frequentadora assídua. >
“Nunca tinha percebido. Estive lá há pouco tempo e onde estava não notei nenhuma diferença na areia. Se tivesse, não ficaria perto, porque iria pensar se tratar de um caso de contaminação devido à poluição e tenho pavor de micose. [Não sabia que tinha essa cor de areia natural aqui], geralmente tem em outros estados e países”, diz. >
Além do embate das ondas com as pedras ao longo do tempo, outros fatores, como as condições climáticas, tendem a deixar a cor da areia mais acentuada – a exemplo do temporal que afetou Salvador há duas semanas. “Durante as tempestades, os grãos mais leves, que são os grãos de quartzo, são retirados mais facilmente da praia, o que acaba fazendo com que haja uma concentração maior dos minerais pesados, porque, como eles têm densidade maior, não são removidos com facilidade”, pontua José Maria Landim. >
Além da cor preta, a areia composta por ilmenita tem uma outra característica facilmente observável que ajuda a diferenciá-la de uma areia suja: o brilho. Para se ter ideia, a luminescência da ilmenita faz com que o mineral seja a matéria-prima do dióxido de titânio, um aditivo que é utilizado para pigmentação (tintas e corantes), produtos cosméticos e produtos de higiene. >