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Maysa Polcri
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 06:00
Ele se impõe na entrada da Baía de Todos-os-Santos e é praticamente impossível não reconhecê-lo. O Farol da Barra, com suas listras brancas e pretas, é símbolo de Salvador e tem participação garantida na viagem de qualquer turista que se preze. Mas você sabe qual a história dele? >
Construído em uma época em que a capital baiana representava o centro do 'novo mundo' português, o farol só foi instalado anos após a construção do Forte de Santo Antônio da Barra. Esse, sim, foi ordenado para proteger a cidade de invasões de países inimigos, entre 1696 e 1702. O farol veio depois, para guiar os navios que adentravam na baía. O mar sereno disfarça os perigos: foram diversos naufrágios na região. >
Farol da Barra por Arquivo CORREIO
"Lá, no final do século XVII, é levantado o farol porque ali os navios saem do mar aberto e entram na Baía de Todos-os-Santos. É uma área de muitas pedras, que registrou vários naufrágios. Daí, surge a necessidade de construir um farol para seguir de guia", explica o historiador Murilo Mello.>
A construção imponente não tem relação direta com a urbanização da cidade. Apesar de a primeira vila de Salvador ter sido iniciada na região da Barra, os muros da Cidade Alta atraíram mais os então moradores do que aquele que viria a ser um dos cartões postais mais emblemáticos da capital. Enquanto a cidade murada de Tomé de Sousa avançava na região que hoje é o Pelourinho, o bairro da Barra era local de veraneio. >
Os sítios ficavam à beira mar e os animais dividiam espaço com os portugueses e brasileiro que ali residiam. "A Barra passou a ser um lugar longe da cidade. Em 400 anos, entre o fim da primeira vila da cidade e a urbanização no início do século XX, a Barra era ocupada por sítios, plantações e criação de gado", completa o historiador. >
O cenário só começa a mudar no início do século XX. O projeto de urbanização do então governador José Joaquim Seabra (1855-1942), o J. J. Seabra, ligou o que antes era distante através de bondes. Inicialmente puxados à tração e, com a evolução tecnológica, por eletricidade. A principal linha saía da Praça da Sé, no Pelourinho, e ia até a Barra - cortando a região pela Avenida Sete. >
"A urbanização se consolida com a construção da Avenida Sete de Setembro, no início do século XX, com a mudança de todo aquele entorno", afirma o historiador Rafael Dantas. "O bonde surge justamente neste momento, em que já existe uma avenida propícia para os caminhos de urbanidade na cidade", emenda. >
Muitas vezes, o crescimento da cidade provocou a destruição de capítulos históricos. A mesma linha do bondinho que atravessava a orla em direção ao Farol da Barra, contribuiu para a demolição de um dos templos mais importantes de Salvador, a Catedral da Sé. Em 7 de agosto de 1933, a antiga Sé da Bahia e dois quarteirões foram destruídos para dar lugar aos trilhos da Companhia Linha Circular de Carris da Bahia. >
Farol da Barra e Elevador Lacerda
A medida é, ainda hoje, alvo de críticas de historiadores. Até o escritor Jorge Amado não deixou barato. Em Bahia de Todos-os-Santos, livro em que o autor apresenta um guia da capital soteropolitana, ele ressalta a importância da igreja histórica. "Enorme, de pedras colossais, negra, pesada, magnífica. Sem dúvida era o monumento histórico mais importante da cidade", escreveu no livro lançado em 1938. >
Diferentemente do templo que veio ao chão, o Farol da Barra se manteve vertical e pomposo. Com o passar dos anos, ganhou listras em preto e branco, virou palco de manifestações e se consolidou como marca da cidade. "O Farol é um marco do momento em que Salvador, enquanto cabeça do Brasil, era grande referência mercantil e política, enquanto capital da América portuguesa", diz Rafael Dantas. >