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Millena Marques
Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 05:45
A Argentina de Javier Milei tem apresentado mudanças significativas em menos de três meses de novo governo, desde questões econômicas a alterações no processo de imigração de brasileiros. Nos últimos dias, turistas e estudantes foram barrados no setor de migrações do Aeroparque Jorge Newbery, em Buenos Aires, sob duas alegações: falta de documentos e ‘falso turismo’. >
De acordo com o soteropolitano Thiago Pacheco, 30 anos, que mora na Argentina há quatro, as dificuldades enfrentadas por brasileiros estão relacionadas à mudança de comportamento do setor de migração do país. Até o ano passado, os brasileiros conseguiam entrar na Argentina somente com a passagem de ida. Este ano, não. Isso porque as autoridades locais não permitem mais tal flexibilização. >
“Uma quantidade pequena, se comparado ao número de brasileiros que chegam em Buenos Aires, foi barrada. Primeiro, não possuíam o visto de estudante. Alguns outros foram classificados como falsos turistas porque alegaram que eram turistas, mas não possuíam passagem de volta”, afirma Thiago. >
As autoridades argentinas também teriam alegado que alguns brasileiros não possuíam um valor em conta suficiente para se sustentar durante os dias de estadia como turista. >
Os deslocamentos entre dois países são favorecidos pelos acordos regionais, como aponta a presidente da Comissão de Direito Internacional do Instituto dos Advogados da Bahia (CDI-IAB) e professora de Direito Internacional nos cursos de Direito e Relações Internacionais no Centro Jorge Amado (UNIJORGE), Juliette Robichez. Em 2005, Argentina e Brasil acordaram em aplicar o Acordo Mercosul antecipadamente, de forma bilateral. >
“Todos os argentinos radicados no Brasil, bem como os brasileiros residentes na Argentina, têm os mesmos direitos civis, sociais, culturais e econômicos que os demais cidadãos dos países onde moram. Em particular, têm direito a trabalhar e abrir empresas legalmente, em aplicação do Acordo de Residência Argentina-Brasil”, afirma a especialista. >
Embora os acordos não tenham sido modificados em 2024, a Argentina de Milei tem endurecido as exigências de entrada no país. Esse comportamento não surpreende, segundo Robichez. Isso porque, antes mesmo de ser eleito, o líder do partido La Libertad Avanza ameaçou deixar o bloco Mercosul caso conquistasse as eleições. A saída teria um impacto direto na livre circulação dos cidadãos dos estados membros desse bloco econômico. >
“Não é de surpreender que Javier Milei, qualificado pela mídia de ultraliberal e autoritário, a meio caminho de Donald Trump, Jair Bolsonaro e Margareth Thatcher, procure alterar a legislação e, em particular, a sobre a migração”, pontuou Robichez.>
O livre trânsito de cidadãos faz parte do artigo primeiro do Acordo do Mercosul. A disputa no mercado de trabalho ocorre em pé de igualdade entre os cidadãos de um país com trabalhadores de um outro país. Caso não existam impedimentos legais, a exemplo de problemas judiciais, o país não pode negar a residência.>
Para realizar o pedido de residência legal, é necessário procurar o consulado de outro país ou o serviço de migração e apresentar passaporte ou carteira de identidade e certidão negativa de antecedentes criminais do país de origem. A autorização de residência provisória é concedida por dois anos, com possibilidade de ser transformada em permanente após esse período. >
Procurado, o Consulado da Argentina em Salvador informou que as exigências para o ingresso na Argentina varia segundo o enquadre migratório, e cada caso tem seus requisitos de documentação e prazos de permanência. “Quando algum cidadão brasileiro solicita informações sobre vistos, informamos por e-mail os documentos necessários”, afirma a nota.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>