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Millena Marques
Publicado em 2 de agosto de 2023 às 05:30
Sem nome oficial, mas marcada com cores e desenhos inspirados na vida de Santa Dulce dos Pobres, a rua que liga a Avenida Dendezeiros a Luís Tarquínio foi transformada em uma galeria de arte a céu aberto, com mais de 500 metros quadrados. O lançamento aconteceu nesta terça-feira (1), após a missa de abertura da Festa de Santa Dulce, no santuário do Largo de Roma.
Inspirada no Beco do Batman, travessa paulista conhecida por ser uma das principais referências de arte urbana no Brasil, a Galeria de Santa Dulce dos Pobres, como foi batizada, reúne trabalhos em grafite realizados por 26 artistas baianos e um paulista. O projeto é uma ideia das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), em parceria com o Museu de Street Art de Salvador (M.U.S.A.S), formado por grafiteiros de diversos bairros soteropolitanos, com apoio da Prefeitura de Salvador.
A Galeria foi pensada para ser um espaço 'instagramável', termo utilizado para ambientes que possuem características ideais para publicação de fotos na rede social Instagram, como explica a coordenadora de Turismo Religioso das Osid, Rita Brito. "Pensamos de uma forma para fazer com o que os turistas transitassem pelo local. A ideia é trazer algumas histórias, obras e vida de Irmã Dulce, além de pintar algumas igrejas da cidade", disse Rita.
A rua, batizada carinhosamente como Galeria de Santa Dulce dos Pobres pelas Obras, foi inaugurada recentemente, no dia 26 de maio, dia em que a freira baiana completaria 109 anos, caso estivesse viva. De um lado da rua fica o muro do Colégio da Polícia Militar, cedido para a confecção dos murais, e que já possui desenhos relacionados à vida da santa, como a famosa kombi utilizada pela freira para ajudar os mais necessitados e recolher crianças em situação de rua, fotografias de irmã Dulce com os seus amparados e uma imagem de Santo Antônio, por quem a baiana era devota. De outro, o muro das Osid, que ainda será pintado por 13 artistas práticos da cidade.
Padroeira dos grafiteiros
Estampado em diversos muros de Salvador, o rosto de Santa Dulce é pintado por grafiteiros há muito tempo. Desde 2006, Júlio Costa, um dos membros do M.U.S.A.S, faz desenhos da freira baiana. Nesse projeto específico, ele ressalta um aspecto que nunca percebeu no grafite antes: a curadoria de grafiteiros. "Há uma confiança extrema entre nós mesmos (grafiteiros) e um diálogo com outras artes de rua, como a pichação", pontuou Júlio.
O grafiteiro Bigod o Sapo Silva, que já não se identifica mais com o nome de registro, vê a pintura de irmã Dulce como um forma de expressão e representatividade da Cidade Baixa. "Ela era da rua mesmo, pegava galinha, fazia sopa para distribuir. A gente se identifica com ela por ela ter sido alguém da rua. Ela é nossa tia avó", disse Bigod, salientando um movimento dos artistas de estabelecer Santa Dulce como padroeira dos grafiteiros.
O grafiteiro Felipe Badaró, que é morador do Bonfim, vê que toda a região da Cidade Baixa se identifica com a freira, o que é significativo para o 'amadrinhamento'. "Ela era uma pessoa da rua, da Cidade Baixa e protegia quem mais necessitava", pontuou.
Para Carine Santos, conhecida como Niiny, fazer parte da confecção da galeria, que deve ter cerca de 20 painéis, é muito gratificante. Iniciante no grafite, ela faz parte do projeto PIXA Mina, coletivo de mulheres que fazem pichação e gradite, e colabora com trabalhos do M.U.S.A.S. "O grafite é necessário, faz parte da nossa cultura do Hip Hop. Ter essa representatividade de uma forma religiosa é muito importante", disse a grafiteira.
Missa de abertura
Com todos os bancos praticamente ocupados e dezenas de fiéis em pé, o Santuário de Santa Dulce dos Pobres celebrou a missa de abertura das comemorações dedicadas à freira baiana na manhã desta terça-feira. No Largo de Roma, onde a sede das Osid está localizada, devotos realizavam pedidos e agradeciam pelas graças alcançadas por meio da intercessão da primeira santa brasileira.
Maria José dos Santos, 65, encontrou na devoção à irmã Dulce aconchego e esperança. Em 2006, cinco anos antes da beatificação da freira, a aposentada foi submetida a uma histerectomia por causa da incidência de um mioma e recorreu a irmã Dulce para garantir o sucesso na operação. "Pedi a ela e recebi essa benção. Jamais esquecerei da benção dela na minha vida", disse Maria José.
Recém-operada, Maria Evanir de Andrade sempre acreditou na intercessão de irmã Dulce, mesmo antes da canonização, que aconteceu em outubro de 2019. Ela saiu de Jeremoabo, a cerca de 386 quilômetros de Salvador, para realizar uma cirurgia de catarata no Itaigara Memorial, mas não deixou de passar no Largo de Roma. "Só tenho que agradecer e louvar a Deus por mais uma graça recebida", disse Maria Evanir.
O prefeito Bruno Reis e a vice-prefeita Ana Paula Matos marcaram presença na celebração. O gestor municipal avalioua potencialização do turismo religioso durante a trezena de Santa Dulce, após a canonização da freira. "Vamos atrair para a cidade milhares de fiéis, que virão da Bahia e de outros lugares do Brasil e do mundo. Com isso, elas se hospedam em nossos hóteis e consomem os nossos produtos. O turismo religioso também é uma estratégia de desenvolvimento econômico", afirmou Bruno.
Visando a consolidação do turismo religioso em Salvador, no caso específico do Santuário de Santa Dulce, a vice-prefeira afirmou que a prefeitura busca uma reorganização da rede hoteleira, da rede física e capacitação dos moradores da área, para que possam trabalhar com esse segmento.
Sobrinha de Santa Dulce e superintende das Osid, Maria Rita Lopes Pontes, ressaltou a importância dessa festa, a primeira após o fim do estado de emergência de saúde pública, causado pela pandemia da Covid-19. "É o momento do abraço e de celebrar a primeira santa do Brasil. Que venham muitas festas de Santa Dulce", disse Maria Rita, filha de Dulcinha, irmã do Anjo Bom da Bahia.
Imagem itinerante
Os 13 dias de homenagens à Mãe dos Pobres, de 1 até 13 de agosto, Dia Nacional de Santa Dulce, serão marcados também pela visita da imagem peregrina a diversos bairros de Salvador. A cada dia, sempre das 7h às 20h, a imagem estará presente em um determinado ponto da capital baiana, para que os fiéis realizem suas orações, pedidos e agradecimentos.
Programação - Festa Santa Dulce dos Pobres (1 a 13 de agosto)
Celebrações religiosas
Missas
Vigília
Procissões e carreata
Programação cultural e ações de saúde e cidadania
*Sob a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro