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Larissa Almeida
Publicado em 4 de outubro de 2024 às 05:20
O jornalista Evaristo Costa, 48 anos, se tornou assunto na web nos últimos dias, após revelar ter perdido 22kg em apenas três semanas, em decorrência da doença de Crohn – uma síndrome gastrointestinal crônica grave. O ex-apresentador da Globo, que recebeu o diagnóstico em 2021, chegou a afirmar que se sente ‘definhando’, já que o quadro provoca vômitos, diarreias e incapacidade de manter o alimento no estômago. Na Bahia, a condição causou a internação de 103 pessoas, entre janeiro e julho de 2024, segundo dados mais recentes disponibilizados no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do DataSus, plataforma do Ministério da Saúde. >
A reportagem procurou a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) para saber o número de casos diagnosticado da doença entre 2020 e 2024, mas a pasta disse que não possui dados consolidados, uma vez que não é uma doença de notificação compulsória. O Ministério da Saúde foi procurado para fornecer os mesmos dados, mas disse que não conseguria atender a demanda no prazo solicitado. >
A gastroenterologista Flora Fortes, que atua no Itaigara Memorial, explica que a doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal, que tem como fator de risco a predisposição genética associada às desordens da flora intestinal, exposições a alimentos ultraprocessados, bem como fatores ambientais e emocionais. O nome da doença faz referência ao médico que a descobriu, em 1932, o norte-americano Burrill Crohn. Desde o descobrimento, não foi possível precisar a causa exata do problema, o que até hoje dificulta possíveis ações preventivas. >
“Muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de identificar fatores previsíveis da doença. No momento, o que temos de orientação é que os pacientes apresentem alimentação variada, rica em frutas, proteínas, evitem alimentos ultraprocessados, bebida alcoólica e tabagismo. Além disso, que mantenham boa qualidade de vida, com a realização de atividade física e sono reparador”, indica a especialista. >
Os principais sintomas da doença são clássicos e envolvem todo o aparelho digestório. “A doença de Crohn pode atingir todo o trato gastrointestinal, da boca até o ânus. Então, a depender da localização da doença, o paciente pode apresentar dificuldade para engolir, dores abdominais, perda de peso, inchaço abdominal, vômitos, diarreia, sangue nas fezes, anemia, além de alterações em região perianal, como fístulas”, pontua Flora Fortes. >
Entre as principais complicações, está o câncer de intestino, que é um fator de risco para quem não diagnostica e controla a enfermidade. Contudo, há diversos outros complicadores, que podem fazer com que os pacientes precisem de cirurgia para a retirada de áreas com estreitamento de passagem (estrenose) ou inflamações importantes, drenagem de bolsas de pus (abcessos) e ainda possam sofrer com desnutrição. “Por isso, a importância do diagnóstico precoce e acompanhamento multidisciplinar com gastroenterologista, proctologista e nutricionista”, enfatiza Flora. >
A nutricionista Maria Julia Veiga, 24 anos, levou dois anos para conseguir diagnosticar a doença. Ela, que sofria com problemas intestinais desde a infância, teve um agravamento do quadro em 2017, quando teve uma inflamação provocada pelo vírus Epstein-Barr – que causa a mononucleose infecciosa, popularmente conhecida por doença do beijo. À época, mal sabia que aquele seria o início de uma saga que viria a colocar em dúvida até mesmo sua normalidade psicológica. >
“Aos 17, comecei a ter diarreia, sangue nas fezes, dor abdominal, aftas orais, dor nos olhos e dores articulares, que me acordavam à noite. Depois, passou a oscilar bastante os sintomas intestinais e eu passei a ter constipação. Meu diagnóstico foi um pouco demorado porque a localização está no intestino médio, que é de difícil diagnóstico. Os exames padrões, como a endoscopia, não conseguiram chegar nessa região. Eu fiz uma série de exames, inclusive de imagem, e os médicos não viam nada. Eu acabei sendo diagnosticada com várias coisas que se possa imaginar, até a parte psiquiátrica foi envolvida”, conta. >
Após diversas internações, Maria Julia encontrou uma médica especialista na doença de Crohn em 2019. A gastroenterologista recomendou o exame chamado cápsula endoscópica, que é feito a partir da ingestão de uma cápsula que percorre todo o trato gastrointestinal e faz imagens por segundo. Estas são possíveis de serem vistas através de um sinal magnético, conectado a um monitor. Foi assim que a nutricionista descobriu, enfim, o causador dos sintomas que estavam comprometendo a própria saúde. >
No geral, a Sesab aponta que a doença de Crohn pode ser diagnosticada através do quadro clínico, associado aos exames laboratoriais, exames radiológicos, endoscópicos e anatomia patológica. A enfermidade não tem cura, mas pode ser controlada através de medicamentos, cirurgias em casos específicos, além de cuidado e acompanhamento nutricional. >
No caso de Maria Julia, o tratamento é feito através de um imunobiológico, aplicado através de injeção subcutânea a cada dois meses. Ela afirma que, seguindo as orientações indicadas, consegue viver a vida normalmente. “Faço jiu-jítsu, sou nutricionista, atuo em área clínica e hospitalar. Isso mostra o quanto que a doença controlada consegue dar qualidade de vida”, finaliza. >