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Larissa Almeida
Publicado em 21 de junho de 2024 às 05:10
De segunda a sexta-feira, a operadora de telemarketing Sabrina Queiroz passa oito horas atendendo ligações e lidando com os diferentes ânimos dos clientes. Ao final do mês, recebe um salário-mínimo com descontos. “Nem de longe, é o mínimo para viver com dignidade e fornecer o básico”, reclama. Assim como ela, a maior parte dos baianos sofre com baixas remunerações, uma vez que a Bahia é o estado que paga o 6º menor salário do país. A informação é do Cadastro Central de Empresas (Cempre) 2022, que divulgou dados relativos à área empresarial nesta quinta-feira (20), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). >
Conforme o levantamento, o salário médio mensal pago aos trabalhadores assalariados do setor empresarial na Bahia era de R$ 2.839,60 em 2022, ficando abaixo da média nacional, que era de R$ 3.542,19. Até hoje, no entanto, os baixos salários são motivo de queixa para os baianos. “Não estamos falando de luxo, estamos falando do básico. O básico sem considerar lazer, cultura e descanso, que na nossa realidade fica difícil definir como direito e não enxergar como luxo e privilégio, quando apenas uma parcela minúscula pode morar, comer e almejar isso”, desabafa Sabrina. >
No caso de Vinícius Correia, 25 anos, que trabalha numa empresa do ramo alimentício, a remuneração recebida por ele para atuar como repositor é maior do que a média das empresas do tipo em Salvador, mas ainda assim bastante abaixo do salário-médio mensal do estado. “Dá para sobreviver, no máximo. Não me sinto satisfeito”, afirma. >
Ao total, em 2022, havia na Bahia 469.986 unidades locais de empresas formais – que registrou aumento de aproximadamente 75% em relação a 2021, quando eram 268.684 unidades –, que contavam com 2.978.368 pessoas ocupadas, sendo que, destas, 549.064 eram proprietárias ou sócios, e 2.429.304 eram empregadas assalariadas. Em todos esses indicadores, o estado apresentava o 7º maior contingente do Brasil e o maior das regiões Norte e Nordeste. >
A Bahia também respondia por 4,4% das 10.607.102 unidades locais de empresas formais do Brasil. São Paulo liderava, com 3.539.337, seguido por Minas Gerais (1.002.497) e Paraná (796.413). Em relação ao pessoal ocupado, a Bahia tinha 4,7% do total nacional. O indicador também era liderado por São Paulo (18.391.352), seguido por Minas Gerais (6.432.111) e Rio de Janeiro (5.053.987). >
Diante desse cenário, em que o número de empresas só cresceu em relação aos anos anteriores, surge a dúvida a respeito do motivo de existir tantos negócios pagando valores insuficientes para seus colaboradores. A explicação para isso, conforme apurou a reportagem, está ligada, dentre outras razões ao excesso de demanda por emprego e baixa qualificação da mão de obra. >
“A Bahia é um estado que tem uma oferta e reserva de mão de obra importante, porque tem muitas pessoas procurando trabalho. Temos uma taxa de desocupação muito grande, ou seja, temos mais demanda do que oferta, e isso pode favorecer para que os salários sejam mais baixos, porque há espaço para diminuição de salários”, explica Mariana Viveiros, supervisora de informação do IBGE na Bahia. >
Para Guilherme Dietze, consultor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), ainda pesa nessa equação, que resulta em baixos salários, o contexto econômico do Nordeste. Segundo o Cempre 2022, os nove estados da região ficaram nas últimas posições no ranking do salário médio no setor empresarial, com Paraíba (R$ 2.636,51), Alagoas (R$ 2.645,65) e Piauí (R$ 2.781,60) tendo os menores valores do país. >
“A região Nordeste possui uma renda média muito baixa. É uma região relativamente mais pobre, o nível educacional é menor, muita gente tem benefício de transferência do programa social. É uma situação mais difícil, que traz essa baixa produtividade e baixa escolaridade”, aponta o economista. >
Mariana Viveiros complementa que a predominância do terceiro setor comparada à pouca oportunidade em outros setores econômicos dificultam a possibilidade de salários mais qualificados. O menor salário médio, na Bahia, era o do setor de atividades administrativas e serviços complementares (R$ 1.659,99), segundo o levantamento. “Temos uma predominância de empresas em atividades que tendem a ter salários menores, como o comércio e algumas atividades de serviço menos qualificadas. [Enquanto isso], temos menos indústrias e menos serviços financeiros que, via de regra, pagam mais”, conclui. >
A Junta Comercial do Estado da Bahia, órgão responsável pelo registro de atividades ligadas a sociedades empresariais do estado, foi procurada para se posicionar sobre o assunto, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>