‘Eu voltei quando vi que tinha uma pessoa morta’, diz vizinha sobre acidente

Caminhonete que tombou em Camaçari deixou mortos e feridos

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  • Gil Santos

Publicado em 13 de novembro de 2023 às 15:21

Pertences das vítimas e muro tombado ao fundo
Pertences das vítimas e muro tombado ao fundo Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

A maioria dos vizinhos estava em casa quando a caminhonete com cerca de 15 pessoas tombou na curva da Estrada Canto dos Pássaros, em Camaçari, neste domingo (12). Mas o barulho da colisão e os gritos dos passageiros foram tão altos e que todos correram para ver o que tinha acontecido. Três pessoas morreram no local, outras duas foram a óbito depois de receber os primeiros socorros e outras ficaram feridas.

A empregada doméstica Ana Rita Pinheiro, 56 anos, estava com outros vizinhos em uma rua transversal quando viu a caminhonete descendo a ladeira. Ela contou que a velocidade estava acima do normal para aquela região da estrada, que passageiros pediam para o motorista ir mais devagar e que o veículo fez uma curva fechada.

“Em seguida, só ouvimos o barulho do carro virando e acertando o muro e os gritos das pessoas. Tinha umas 15 pessoas na carroceria da caminhonete e muita gente ficou machucada. Corremos para tentar ajudar, mas eu voltei quando vi que tinha uma pessoa morta. Eu conhecia, ela trabalhava no mercadinho”, contou.

Ana Rita disse que ainda treme ao relembrar o desespero dos passageiros. Outro vizinho, que pediu para não ser identificado, estava em casa quando ouviu o barulho. “Saí correndo para ver o que tinha acontecido e vi que foi um acidente, e que foi feio. Tinha muita gente ferida, sangue e pessoas passando mal. Vi uma moça bastante feridas sendo socorrida pela equipe do Samu”, disse.

Curva onde houve o acidente
Curva onde houve o acidente Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Acidente

No domingo, houve uma cavalgada na região. Segundo o idealizador e organizador do evento, Koringa, cerca de 100 pessoas participaram do desfile e outras 500 acompanharam a festa que percorreu as ruas do loteamento Canto dos Pássaros. O ponto de partida e de chegada foi o campo do bairro.

“Começamos às 13h. Fizemos uma oração, os batedores ordenaram o desfile e um minitrio foi animando o povo. Essa foi a 9ª edição da nossa cavalgada. A intenção era encerrar tudo às 20h30, no local de partida, onde duas bandas iriam se apresentar. Às 18h, a gente já estava no campo e os músicos já tinham chegado, foi quando recebemos a notícia do acidente”, explicou Koringa.

Moradores contaram que é comum pessoas acompanharem a cavalgada em carros e motos, e que muitas vão de carona. O acidente aconteceu por volta das 18h30 quando a caminhonete estava voltando. O estudante Miquéias Pereira, 17, estava no veículo e contou que houve uma troca e motoristas. “Nós fomos com um coroa, mas na hora de voltar, quando chegou no meio do caminho, ele desceu e outro rapaz assumiu o volante”, disse.

Na carroceria estavam homens, mulheres e crianças. Era tanta gente que houve dificuldade para acomodar a bicicleta de um dos passageiros. As testemunhas contam que o motorista estava dirigindo em alta velocidade. Miquéias perdeu o equilíbrio quando a caminhonete avançou sobre um quebra-molas, mas conseguiu se segurar. Com medo, ele decidiu pular do veículo que ainda estava em movimento. Não deu tempo. Quando chegou na curva da Estrada Canto dos Pássaros o motorista perdeu o controle e tombou.

“Eu pulei do carro antes dele bater, mas bati a cabeça e o ombro na queda. Não lembro direito do que aconteceu a partir daí. Lembro que um vizinho me colocou sentado na calçada e depois que me levaram correndo para o hospital. Saí de lá por volta das 3h. O médico disse que vou ter que fazer uma cirurgia no ombro. Ainda está doendo”, contou, com a mão pousada sobre o machucado.

Na manhã desta segunda-feira (13), ele esteve no local do acidente para tentar encontrar a corrente que estava usando no momento da colisão, mas no local havia apenas calçados, roupas rasgadas, óculos quebrados e outros objetos pessoais que indicam a violência do acidente. O muro foi reduzido a um monte de escombros e vizinhos ainda estão assustados com tudo o que aconteceu. O motorista fugiu.

Manchas de sangue ficaram no local após o acidente
Manchas de sangue ficaram no local após o acidente Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Vítimas

A quantidade de vítimas ainda é incerta, mas três pessoas morreram no local. Uma delas foi a estudante Carina Batista, 17 anos, que estava com a filha Melissa, 1 ano, nos braços. A menina teve arranhões no rosto, mas sobreviveu. A tia de Carina, a doméstica Juciara Batista, 40, contou que ela resolveu ir à festa em cima da hora.

“Carina não tinha planejado nada. Estava em casa com a filha quando as amigas chamaram para ir à cavalgada. Ela decidiu naquele momento que ia, tomou banho, trocou de roupa e saiu. Melissa era a única filha dela. A menina já perdeu o pai e agora ficou órfã também de mãe”, disse, enquanto olhava a bebê dormir.

Equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) socorreram seis pessoas para o Hospital Geral de Camaçari, mas outros feridos foram socorridos por vizinhos. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania (Sedes) está oferecendo auxílio funeral para as vítimas e contabilizou três mortos. O número de feridos ainda está sendo levantado.

A casa onde houve o acidente estava vazia. Vizinhos contaram que os proprietários usam o espaço como veraneio e, por isso, na maioria do tempo ela fica sem moradores. A caminhonete derrubou o muro, mas não atingiu o imóvel. O caso será investigado pela 33ª Delegacia (Monte Gordo).