Fatiado por duas facções: domínio do Pero Vaz é disputado por CV e BDM

Rua Direta do Pero Vaz faz fronteira com ruas controladas pelas facções

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  • Gilberto Barbosa

Publicado em 16 de abril de 2024 às 05:45

Entrada de rua no bairro do Pero Vaz
Entrada de rua no bairro do Pero Vaz Crédito: Gilberto Barbosa/CORREIO

Um bairro fatiado por duas facções: essa é a maneira como alguns moradores descrevem o bairro do Pero Vaz, em Salvador. Andando pela região, é comum encontrar pichações com alusão aos símbolos do Comando Vermelho (CV) e do Bonde do Maluco (BDM), que disputam o controle do território. Na noite do último domingo (14), o bairro viveu uma noite de violência, com um homem assassinado e um idoso atingido por uma bala perdida dentro da própria residência.

Entre o primeiro dia de janeiro e 14 de abril, foram registrados 14 tiroteios em Pero Vaz, com dez mortes e três pessoas feridas. Dos 14 tiroteios, três ocorreram em ações policiais, que resultaram em uma pessoa morta e uma ferida. Os dados são do Instituto Fogo Cruzado.

A Rua Direta do Pero Vaz, principal do bairro, faz fronteira com outras duas vias controladas por diferentes grupos: a Rua Boa Fé, que dá acesso ao bairro da Santa Mônica e tem a presença do CV, e a Rua Meirelles, com atuação do BDM. Comerciantes contam que quem mora na região não ultrapassa os limites impostos pelo confronto.

“Alguns moradores vão até o final da rua e voltam. Eles evitam passar para o outro lado. É bastante perigoso andar nessas ruas, mesmo se você não tiver envolvimento. Eles são bastante desconfiados, principalmente de noite”, conta um comerciante que não quis se identificar.

Na Rua Doutor Eduardo Santos, um muro foi marcado com as siglas de ambas as facções. Uma fonte da polícia ouvida pela reportagem conta que a disputa por controle ocorre em vários pontos do bairro. “Diversas regiões são disputadas por eles. Mesmo que uma facção domine uma área, sempre tem pequenos grupos rivais instalados querendo tomar o controle do local”, contou.

Muro tem várias pixações
Muro tem várias pixações Crédito: Gilberto Barbosa/CORREIO

Assustados, poucos moradores aceitaram falar com a reportagem sobre a violência no bairro. Quem falava, desconversava sobre os casos do último domingo e dava rapidamente o seu depoimento. “Quanto mais distante eu puder ficar disso tudo, melhor. Eu moro aqui há quase 50 anos, mas para mim não dá mais. Eu tenho uma filha pequena e quero poder criar ela de uma forma mais tranquila”, disse um morador.

A insegurança também incomoda os comerciantes. Aqueles que moram no bairro falaram sobre o medo e a necessidade de garantir o seu sustento mesmo com os confrontos. Entre os que moravam em outras regiões, o discurso comum era de evitar saber muitos detalhes sobre o acontecia e ir embora logo após o expediente.

“Infelizmente a gente fica refém do medo, sem saber como vai ser o dia, ou até mesmo se vai conseguir voltar para casa. Eu não moro aqui, então evito ficar andando muito pela rua. Geralmente chamo um carro de aplicativo para chegar e outro para ir embora”, disse um funcionário de uma loja, que não quis ser identificado.

O idoso baleado no último domingo teve alta nesta segunda-feira (15) do Hospital Ernesto Simões Filho, de acordo com a TV Bahia. A informação não foi confirmada pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), que declarou não passar nenhum tipo de informações de pacientes.

*Orientado pela chefe de reportagem Perla Ribeiro