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Millena Marques
Publicado em 23 de agosto de 2024 às 16:17
Grávida de seis meses, a assistente social Carina Gazar, 39 anos, tinha o desejo de realizar um álbum de gestante nas dependências do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), localizado no Solar do Unhão, em Salvador. No entanto, a contrapartida para ceder o espaço exigida pela instituição, que é de responsabilidade do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), causou a desistência da funcionária pública nesta semana. Isso porque o pedido incluía a doação de dois roteadores para Wi-fi – um de quatro portas e outro de oito. >
“O absurdo é que é um espaço público. Eles deveriam cobrar uma taxa que fosse um valor determinado, simbólico, e que fosse o mesmo valor para todo mundo”, relatou Carina Gazar. Segundo a assistente social e a fotógrafa contratada para a realização do ensaio, Tarsila Amaral, as exigências do museu aos fotógrafos não seguem um padrão. >
“Tarsila colocou essa informação em um grupo de fotógrafos. Um deles disse que eles (o MAM) já pediram uma contrapartida de 20 cadeiras plásticas, um outro falou que o pedido foi de ‘x’ galões de água. Além de cobrarem um material, tem essa desproporção no que uma pessoa vai pagar em relação à outra”, continuou Carina. >
Tarsila Amaral, 43, trabalha com fotografia infantil há 20 anos. Ela conta que já realizou outros trabalhos no MAM, antes da pandemia da covid-19, quando não havia contrapartida. “Antes, era livre, mas tinha muita confusão porque tinha muitos fotógrafos, e a depender da época do ano era complicado. A gente sabia disso (contrapartida). A gente só não sabia quanto era essa contrapartida”, disse. >
Segundo Tarsila, ela tentou entrar em contato com a instituição por telefone, mas não obteve sucesso. Então, solicitou o agendamento do ensaio via e-mail e preencheu um formulário divulgado pelo museu, que pediu a compensação para liberar o espaço: “Estamos solicitando 01 roteador para wi-fi de 8 portas e 01 roteador de 4 portas, material será usado pelo setor educativo. A mesma deve ser entregue ao setor administrativo no dia da atividade”.>
De acordo com a fotógrafa, ela respondeu ao pedido afirmando que não iriam agendar o ensaio. Também disse ao MAM que o museu deveria determinar um valor que fosse justo para todos. Essa resposta foi enviada nesta sexta-feira (23) à instituição, que fez uma contraproposta: sugeriu diminuir o número de itens solicitados anteriormente ou fazer a troca por outros objetos.>
“É uma frustração no sentido que era um local simbólico, mas eu não vou admitir esse tipo de cobrança. A minha indignação está acima do desejo de realizar o ensaio no MAM. Entendo que devemos seguir um rito, uma burocracia, mas não estou de acordo com essa (contrapartida)”, finalizou Carina.>
A reportagem procurou outros fotógrafos para falar sobre a cobrança inusitada, mas, com receio de retaliação, eles preferiram não se posicionar. Procuradas, as assessorias de comunicação do MAM e da Secretaria de Cultura da Bahia (Secult) não se manifestaram até a publicação desta matéria.>
*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva>