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Larissa Almeida
Publicado em 9 de outubro de 2024 às 06:30
Na tarde de uma terça-feira (8) irreconhecível para os moradores de Itapuã, o som dos tambores do Malê Debalê não tocaram, as portas da sede do bloco afro foram fechadas e ninguém viu sequer uma criança correndo na calçada rumo às aulas de dança. Ofuscadas pelo estampido dos disparos que assassinaram os músicos Daniel Natividade, 24 anos, e Gustavo Natividade, 15 anos, as atividades do Malê foram suspensas por um mês até que um esclarecimento sobre a morte da dupla seja dado pela polícia. A decisão foi anunciada por Celso D’niçu, diretor do bloco. >
“Nós não sabemos exatamente o que foi que aconteceu. Então, como trabalhamos com muitos jovens, precisamos compreender para poder, depois, retomar as atividades cercados de providências, caso seja necessário. É um momento em que ainda está todo mundo consternado e triste pela perda”, declarou. >
Com a suspensão, a comemoração em homenagem ao Dia das Crianças, prevista para o dia 19 de outubro, foi cancelada. Segundo o diretor do Malê, a medida deve servir de exemplo para a população não aceitar a banalização das mortes ocorridas no estado. “Quando se perde uma vida humana, isso tem que ser extremamente lamentado. Nós precisamos produzir meios para que outras vidas humanas não sejam ceifadas. A meu ver, precisamos educar a sociedade para entender que nada se resolve com violência”, frisou. >
Daniel e Gustavo, que eram irmãos, foram mortos em ataque armado no Emissário de Arembepe, na noite de segunda-feira (7). Ambos eram percussionistas do bloco afro desde a infância e estavam em um passeio, junto a outros moradores de Itapuã, na área turística que pertence ao município de Camaçari. Celso D’niçu, que também participou do dia de lazer, contou que aquela era pelo menos a terceira vez que a programação era proposta pelo líder comunitário do bairro neste ano e que não ocorreu nada anormal durante o tempo em que estavam lá. >
“Todo mundo estava dançando, porque colocaram um som do tipo paredão na barraca. Estavam se divertindo, tomando banho de rio. Daniel passou por mim e eu brinquei com ele, porque sempre fazíamos uma resenha quando nos víamos. Eu saí 15 minutos antes porque fui de carro próprio e, quando cheguei no pedágio, já me ligaram preocupados”, narrou o diretor do Malê. >
Segundo relatos de quem estava no passeio, todo o problema ocorreu na volta, já que os ônibus que os levaram até Camaçari foram impedidos de ir ao encontro do grupo. Uma confusão se instalou e, nesse período, Daniel foi atingido pelos disparos. Gustavo, ao ver o irmão caído, foi ao socorro dele, mas também acabou sendo alvo do ataque dos criminosos. >
A ação dos assassinos teria sido motivada pela publicação de uma foto com 'sinais de facção'. No local, barraqueiros contaram que o Comando Vermelho (CV) atua em Arembepe. Ainda de acordo com as informações, os traficantes da facção não estão, especialmente, no Emissário, mas teriam ido até o local após receber imagens onde jovens posaram com o 'sinal do 3', que faz referência a facção do Bonde do Maluco (BDM), rival do CV. >