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Vitor Rocha
Publicado em 13 de setembro de 2024 às 22:08
O compositor e poeta José Carlos Capinan recebeu o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) em reconhecimento à sua contribuição para a cultura popular brasileira. A cerimônia ocorreu nesta sexta-feira (13), no Salão Nobre da Reitoria, no Canela. Além da comunidade acadêmica, o evento contou com a presença de familiares, amigos e artistas baianos.>
Ao entrar no auditório, o compositor de Soy Loco Por Ti, América foi recebido com aplausos. Após o anúncio realizado pelo reitor Paulo Miguez, Capinan se pronunciou emocionado, precisando interromper o discurso muitas vezes. Para o artista de 83 anos, que é uma das referências da Tropicália, a honraria foi uma surpresa.>
“Nunca esperei receber um título dessa grandeza. Grande parte do meu trabalho tem influência da Ufba. Eu fiz vestibular de Direito no início dos anos 60 e comecei uma militância cultural dentro da universidade. Foi aí que comecei a perceber que a função da poesia era mais ampla do que aquela que exercia. Mas, essa dimensão da academia me reconhecer nunca foi uma coisa que eu almejei”, revelou.>
Paulo Miguez afirmou que Capinan é um dos “filhos” da Ufba, e que a cerimônia é uma celebração da música e das palavras brasileiras. Miguez ainda destacou que educação e arte são áreas complementares: “Educação e arte se solicitam permanentemente, até porque os caminhos do mundo artístico são, seguramente, caminhos da mais alta excelência para o processo aplicacional”.>
O título Honoris Causa para um artista popular como Capinan é uma forma de aproximar o mundo acadêmico do restante da sociedade. Foi assim que definiu Luis Augusto Vasconcelos, presidente da Comissão de Assuntos Acadêmicos da Ufba: “Oferecer este título a Capinan é reconhecer a importância da cultura brasileira para a produção de conhecimento. Esse título de Honoris Causa é justamente para além de pessoas que tiveram ou que tenham conhecimento formal dentro da universidade”.>
A solenidade também foi permeada por músicas de Capinan, interpretadas por dois parceiros artísticos do compositor: Ana Paula Albuquerque e Roberto Mendes. “Quando você começa a estudar música, inevitavelmente vai encontrar uma canção de Capinan. Ele é um poeta muito generoso, então, todas as vezes que fiz qualquer movimento para homenageá-lo, ele estava lá”, ressaltou Ana.>
Importância da obra>
Um dos grandes expoentes da Tropicália, Capinan escreveu canções como Clarice, Misere Nobis, Soy Loco Por Ti, América e Papel Machê. Segundo o compositor, a Tropicália mudou o panorama musical brasileiro, e é influente até hoje. “Quando a Tropicália acontece, em 67, 68, quando é lançado aquele disco-manifesto, determinadas músicas, arranjos, instrumentos eram muito criticadas. Os baianos eram tidos como traidores da MPB por conta da guitarra elétrica. O tropicalismo conseguiu vencer essa resistência”, opinou Capinan. >
A influência das canções de Capinan atravessa gerações, como aponta o estudante de Economia Douglas Mota. Segundo ele, a descoberta do compositor aconteceu através do avô, mas a paixão pela produção artística continua até hoje: “Depois que meu avô faleceu, parece que ficou mais forte pra mim essa ligação. Hoje, sou completamente apaixonado”.>
Aos 82 anos, o ativista na luta pela revitalização do Centro Histórico, Clarindo Silva, celebrou a honraria concedida ao amigo: “Eu conheço Capinan há 50 e poucos anos. Nós somos da mesma linhagem”.>
(Sob coordenação da subeditora Monique Lobo)>